Mel artificial: será o fim da criação de abelhas?

Pedro da Rosa Santos é Mestre e Doutor em Produção Animal (Apicultura). Graduado em Zootecnia pela Universidade Estadual de Maringá. Criador do canal Apislogia no Youtube. Site: www.apislogia.com.br

A relação do homem com as abelhas já é bastante antiga. Em cavernas de Valencia, na Espanha, foram descobertas artes rupestres com mais de 8 mil anos de idade representando a coleta de mel em ninhos naturais. Em 2012, arqueologistas encontraram recipientes para armazenamento de mel com aproximadamente 5.500 anos na Geórgia. Por ser bastante nutritivo e de sabor agradável para a maioria dos paladares, o mel sempre despertou a curiosidade humana acerca de sua produção. Como as abelhas são capazes de elaborar um produto tão único? Seria o homem capaz fabricar mel sem depender das abelhas?

Caverna de Arana - Valencia - Espanha
Caverna de Arana – Valencia – Espanha

Esse questionamento voltou à tona recentemente devido ao surgimento de novas técnicas desenvolvidas por empresas privadas cujo produto é um composto bastante semelhante ao mel natural em coloração, sabor, aparência, viscosidade e outros aspectos físico-químicos. Alguns o denominaram de mel artificial, ou ainda, mel de laboratório. Por meio da divulgação nas redes sociais essa notícia pegou muitos apicultores e meliponicultores de surpresa, causando certo espanto e preocupação com o futuro da criação de abelhas. Ora, se já é possível fabricar mel em grande escala, com qualidade e sem precisar da natureza, o apicultor e as abelhas perdem sua função!

Na realidade nossa sociedade já consome produtos equivalentes ou semelhantes ao mel há muito tempo, inclusive no Brasil. Basta uma rápida olhada nas prateleiras dos supermercados para verificar que existem diversas marcas de bolachas, biscoitos, doces e pães sabor mel, mas que em sua composição de ingredientes não há, sequer, uma única gota de mel natural. Em letras miúdas, muitas vezes escondidas, aparecem frases como “aroma de mel idêntico ao natural”, ou ainda, alimento elaborado com “essência de mel”. Há também empresas que adicionam uma quantia mínima de mel natural em meio a grande quantidade de mel artificial, uma vez que a legislação brasileira não exige porcentagem mínima para que um determinado produto possa ser classificado como sabor de mel. Todos esses produtos representam a utilização de mel artificial ou mel de laboratório que são utilizados em nosso dia a dia sem nos darmos conta. Em resumo, as grandes indústrias, que poderiam alavancar o consumo interno de mel, utilizam substitutos equivalentes ou similares ao mel natural para redução de custos de fabricação.

Portanto, você criador de abelha, não há porque se preocupar. As novas empresas fabricantes de mel artificial ou as que surgirão no futuro, irão continuar ocupando nichos muito específicos dentro do mercado consumidor. Ou irão alcançar consumidores que já estão predispostos a substituir o mel natural por mel artificial. Consumidores esses, que nunca foram público-alvo dos apicultores ou meliponicultores. Além disso, cada frasco de mel é único. Mesmo sendo colhido na mesma florada, no mesmo apiário, pelo mesmo apicultor, nem um mel é igual ao outro. E a exclusividade de cada mel proporciona propriedade medicinais e terapêuticas que o homem jamais conseguirá reproduzir com a perfeição da natureza. Os aspectos sensoriais, como aroma e sabor, podem até ser reproduzidos de forma artificial nos méis de laboratório, porém, a verdadeira essência da natureza somente as abelhas são capazes de produzir.

Referências:

Kuropatnicki AK, Klósek M, Kucharzewski M. Honey as medicine: historical perspectives. Journal of Apicultural Research, 57(1), 113-118, 2018.