Na onda do piquenique

Clau Gavioli (ou Maria Cláudia Gavioli) é jornalista, mestre em hospitalidade e pesquisadora de comida. Ela é editora do site e apresentadora do podcast Minestrone (www.minestrone.com.br).

Foto-Abertura-gastronomiaTenho surfado na onda do piquenique nesses tempos. Talvez porque durante os últimos dois anos e alguns meses tenha saído pouco de casa, o que não atribuo só a consciência de que quanto menos gente estivesse na rua, menor seria a propagação da Covid-19, mas também por um pouco de tristeza e algo parecido com fuga do mundo. Ver o que acontece somente pela janela da tela soa mais seguro, mas isso pode ser uma impressão equivocada já que a vida se movimenta, quer a gente queira, quer não.

Fato é que agora venho querendo ver gente, juntar pessoas, fazer roda e dançar ciranda. Quero compartilhar meu tempo e minhas ideias e saber as de todos os que quiserem me contar as suas, estejam elas alinhadas às minhas ou sejam, quem sabe, opostas. O que vale é compor, ouvir e ser ouvida. Quero conversar ao ar livre, no meio das árvores e sentada na grama ou no chão de terra, de preferência. Tudo isso para poder dividir meus anseios, meus pratos e meus preparos porque neles estão embutidos não apenas meus conhecimentos, mas meus sentimentos mais bem guardados.

No meu imaginário de um piquenique ele é uma festa de inclusão por si. É que, ao construir meu próprio evento, expulso a ideia daqueles piqueniques representados em quadros como os de Manet ou Schuler, em que prevalece a aristocracia servida nos jardins com louças, cristais e, quiçá, mulheres nuas para o deleite dos homens da alta classe. O meu piquenique é democrático, nele cabe tanto os que prepararam a comida, encheram e carregaram as cestas, quanto quem estiver passando num parque público e quiser provar do que temos ali. É só chegar, trocar um dedo de prosa e se servir, porque, comida que se compartilha, me ensinou minha mãe, com todos à mesa na mesma hora, sempre é suficiente e ninguém sai com fome.

Mas por que alguém fala de piquenique numa publicação sobre gastronomia? Porque não há piquenique sem comida e bebida, sejam as mais simples, como uma fruta e um pacote de bolachas acompanhado de uma tubaína às mais requintadas produções que envolvam toalhas de linho, tortas de aspargos com queijo brie e são finalizadas com um xerez, esse último, pra quem não conhece, é um tipo de vinho fortificado que serve como digestivo.

Como comecei surfando uma onda, digo que o piquenique pode ser na praia, com farofa e galinha, mesmo que isso nos transforem em “farofeiros da praia grande”, expressão que eu ouvia nas novelas quando ainda era criança.

Um piquenique que se preza, desses “bem arrumadinhos”, dignos de fotos para postar no Instagram ou no Pinterest, tem toalha xadrez vermelha, cesta de vime ou junco, frutas, sanduíches, tortas, sucos e vinho branco ou rosado (o que exige uma geladeirinha de isopor e, para prescindir dos copos de vidro, existe agora vinho em lata, o que até pode ser uma boa escolha).

Embora todo piquenique que se preze tenha sempre algum contratempo que o tornará memorável, uma lista de itens providenciais ajuda a prevenir desgastes e tornar o tempo entre amigos mais proveitoso. Por isso é que proponho a que segue:

• Toalha xadrez, cesta, talheres, copos, pratos e guardanapos;

– Frutas que não precisem de facas;

– Sanduíches e finger foods (comidas para se comer com as mãos);

– Queijos curados – porque não precisam de refrigeração;

• Pães, biscoitos, bolachas, tortas, bolos, geleias e mel;

• Bebidas: água, sucos, refrigerantes e bebidas alcoólicas (se for a preferência);

• Abridor de lata, garrafa e canivete;

• Sacos de lixo para recolher o que sobrou e deixar tudo limpinho;

• Bola, peteca, corda pra pular, baralho, jogos de tabuleiro;

• Livros e música (que só vale se não incomodar outros usuários do local).

Para a primavera que se aproxima, um piquenique é uma boa opção de programa para ser feito entre familiares, amigos e vizinhos. É uma chance de fazer novos relacionamentos com pessoas que estão por ali, no mesmo parque que você.

Ah! Entre os possíveis contratempos de um piquenique, a chuva pode ser o pior de todos, então, ver a previsão do tempo ou programar o evento em lugar que tenha a opção com área coberta é uma boa dica.

Tomara que quando você decidir fazer o seu piquenique eu esteja passeando por ali pra gente poder se conhecer melhor, né?