FONTES DE PÓLEN – Plantas que alimentam as abelhas

Dr. João Martins Ferreira é Professor Titular da Universidade Paulista UNIP, Pesquisador junto à Universidade de São Paulo, Apicultor e Jornalista – MTB 93480 SP – Site: martinsferreira.net – Contato: martins_ferreira@hotmail.com

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Apis Mellifera coletando pólens na flor da Castanha-do-Maranhão – Foto de João Martins Ferreira

Quando as pessoas falam sobre o que as abelhas fazem ou produzem, é comum tratarem quase sempre apenas a respeito do mel. Porém não menos importante nesse aspecto é aquilo que diz respeito aos pólens das flores, coletados pelas abelhas para consumo próprio, os quais também são úteis a nós, humanos, como alimento de considerável valor nutricional. O apicultor que pretende coletar muito mel em suas colmeias deve se preocupar não apenas com plantas que forneçam néctar abundante para supri-las, mas igualmente com fontes de pólens disponíveis, pois desse modo poderá vir a ter enxames fortes, os quais produzirão de modo a satisfazer sua expectativa. Caso sua intenção seja ainda obter pólens para si, ou para ser comercializado, deverá previamente analisar as potencialidades do pasto apícola na região do apiário, com vistas a alcançar bom sucesso em sua empreitada.

Uma colônia forte, saudável e com um grande número de abelhas, que esteja em condições ideais para produzir bem tanto o mel, como a cera, a própolis e outros produtos em abundância, dependerá, entre outras coisas, de uma grande disponibilidade de pólen. Para que atinja tal nível, é fundamental contar com um versátil pasto apícola, além de água límpida, é claro, nas proximidades dela. Também é indispensável que a oferta de pólens ocorra em todas as estações do ano, haja vista que no Brasil, por razões climáticas, as atividades das abelhas são quase ininterruptas. Portanto, para atender a tais necessidades, é importante que se faça um bom planejamento, que se analise quais são as espécies de plantas que estão naturalmente disponíveis, ou quais serão plantadas na região.

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Tetragonisca Angustula (Jataí) visitando a flor da Coroa-de-Cristo – Foto de João Martins Ferreira.

As abelhas são um exemplo de organização eficiente e é sempre oportuno aprendermos com elas, observando-as e as estudando, compreendendo como também podemos metodicamente e racionalmente crescer mais e de modo positivo e sustentável. O apicultor deve primeiro pensar em qual é sua intenção com suas colmeias para depois analisar as condições da região em que elas serão instaladas. No caso de uma apicultura migratória, por exemplo, que vise mais a produção de mel, obviamente será necessário contar com plantas próximas do apiário que forneçam não apenas néctar, mas também uma boa quantidade de pólens. No entanto, se a intenção for coletar pólens em abundância, com vistas à comercialização desse produto, será preciso que a região em que se instalará o apiário disponha de espécies com excelente oferta dele. Tais apontamentos parecem tratar de coisas óbvias, mas em diversas ocasiões percebemos que a falta de um planejamento coerente e adequado, ou de uma organização lógica, tornaram-se as causas de infortúnios para algumas pessoas que lidam com abelhas.

Nesse sentido, este texto fornece algumas informações elementares e introdutórias, indicando algumas opções para que o apicultor tenha um bom pasto apícola com relação ao fornecimento de pólens para as abelhas. Para que se saiba se a oferta desse produto em uma região está suprindo as necessidades, uma sugestão é que, quando o apicultor estiver verificando os quadros com crias das colmeias, observe, a cada época, se a quantidade de pólens armazenados está equilibrada, ou não, ou seja, se há pouco ou muito pólen, ou se contém uma quantidade razoável, de acordo com o porte de cada colônia. As abelhas apis mellifera costumam depositar os pólens nas células dos favos logo acima das crias, ficando, portanto, guardado esse suprimento abaixo das células em que armazenam o mel. Quando se verifica que em tais células há pouco pólen, obviamente constata-se um indício da falta desse alimento na colmeia. Por outro lado, caso haja excesso de pólen, às vezes até as células destinadas às crias estarão preenchidas com o armazenamento do produto. Ambas situações poderão gerar algum desequilíbrio na dinâmica da colônia, como diminuição do número de operárias, por exemplo. Outro modo de detectar se há muita ou pouca oferta de pólens é observar por algum tempo o movimento das abelhas na entrada da colmeia, verificando se aquelas que vêm do campo estão ou não transportando grandes quantidades dele em suas patas para dentro do ninho.

Tetragonisca Angustula (Jataí) visitando a flor da Hibisco - Foto de João Martins Ferreira.
Tetragonisca Angustula (Jataí) visitando a flor da Hibisco – Foto de João Martins
Ferreira.

A maioria das plantas que fornecem néctar às abelhas também fornecem pólen. No entanto, assim como há variação na concentração de açúcares nos diversos tipos de néctares, também há variações nas quantidades e nas qualidades de pólens disponíveis. Dentre as espécies vegetais que além de ofertar o néctar disponibilizam bastante pólen para as abelhas estão (nome popular seguido do nome científico em cada espécie): Assa-Peixe (Vernonia polyanthes Less) – veja na edição 160 de “Mensagem Doce” –, Astrapeia (Dombeya wallichii), Capim-Gordura (Melinis minutiflora), Carqueja (Baccharis genistelloides), Cipó-de-São-João (Pyrostegia venusta) – veja na edição 161 de “Mensagem Doce” –, Guabirobinha (Campomanesia aurea), Jabuticabeira (Myrciaria califlora), Jacaré (Piptadenia communis), Jurema-Preta (Mimosa tenuiflora), Leiteira (Tabernaemontana spixiana), Leucena (Leucaena glauca), Maria-Mole / Flor-de-Finados / Flor-das-Almas (Senecio brasiliensis Less.), Miguel-Pintado / Camboatá (Cupania oblongifolia), Pau-Pereira (Platycyamus regnellii), Pitanga (Stenocolyx michelis), Sansão-do-Campo / Sabiá (Mimosa caesalpiniaefloia Benth.) – veja na edição 162 de “Mensagem Doce” –, Trapoeraba (Commelia agraria), Castanha-do-Maranhão (Bombacopsis glabra (Pasq.) A.), Vassoura (Baccharis dracuneulifolia) e diversos tipos de eucaliptos, como o Eucalipto-Alba (Eucalyptus alba), Eucalipto-Robusta (Eucalyptus robusta) e Eucalipto-Salina (Eucalyptus saligna). Com rápido crescimento, são muito úteis também o Girassol (Helianthus annuus) e o Trigo-Sarraceno / Trigo-Mourisco (Fagoryrum sagittatum).

Tabela-Pasto-ApicolaA importância das abelhas como agentes polinizadores já é bem conhecida. A polinização cruzada que elas realizam na natureza aumenta muito a produtividade dos pés de frutas. Duas espécies frutíferas que além de boa oferta de néctar disponibilizam muito pólen são: Laranjeira (Citrus aurantium) e Macieira (Pyrus malus), sendo que a Pereira (Pirus communis) fornece apenas pólen.

Quanto às espécies que disponibilizam apenas pólens, podem-se relacionar as seguintes: Vide tabela

Trigona spinipes (Irapuá) visitando a flor da Quaresmeira - Foto de João Martins Ferreira.
Trigona spinipes (Irapuá) visitando a flor da Quaresmeira – Foto de João Martins
Ferreira.

Certas espécies de plantas são indicadas por alguns pesquisadores como sendo fornecedoras apenas de pólens, no entanto outros estudiosos apontam as mesmas plantas como também fornecedoras de néctares. Assim sendo, somente futuras e mais apuradas pesquisas poderão efetivamente conduzir a conclusões mais precisas quanto a isso. De qualquer modo, caso determinadas espécies de fato ofereçam também néctares, é provável que sejam ainda de maior valia para as abelhas.

De acordo com um dos autores, a Cipó-Unha-de-Gato, a Coração-de-Negro e a Unha-de-Vaca são plantas com grande potencial no fornecimento de pólens. Quanto aos meses de florescimento indicados na tabela, poderão variar, conforme a região do Brasil, sendo que estes relacionados apontam para períodos mais comuns às regiões sudeste e sul do país. É preciso ter atenção ainda se a espécie listada na tabela é considerada invasora, como é o caso da Guanxuma, por exemplo, pois, caso seja cultivada e disseminada pelo apicultor, poderá eventualmente vir a causar algum transtorno no cultivo de outras culturas, ou na manutenção de pastagens em determinadas áreas.

Além dessas plantas relacionadas, existem algumas que se configuram boas fornecedoras de pólens especialmente para abelhas sem ferrão. Dentre estas, cabe citar as seguintes: Carrapicho-Rasteiro, Ardisia, Aster, Vassourinha, Picão, Primavera, Louro, Esporinha, Dietes, Grevílea, Coroa-de-Cristo, Bálsamo-de-Tolu, Manjericão, Figo-da-Índia, Trepadeira Sete-Léguas-Rosa, Tapete-Inglês, Árvore-dos-Viajantes, Azaléa, Moranguinho-Silvestre, Sabugueiro, Aroeira-Vermelha, Guapuruvu, Canudo-de-Pito, Alfinete, Feijão-de-Praia, Papel-de-Arroz, Tumbergia, Quaresmeira e Capuchinho.

Verifica-se que um planejamento adequado para a instalação de um apiário fixo levará em conta, entre outras coisas, o pasto apícola em seu entorno também no que se refere à oferta de pólens para as abelhas durante o ano todo. Desse modo, convém relacionar quais espécies de plantas florescem em determinados períodos para depois averiguar a viabilidade de seu plantio nas proximidades das colmeias. É importante considerar as distâncias, haja vista que as abelhas gastarão mais energia e tempo caso as fontes de pólen e de néctar estejam muito distantes de seus ninhos, lembrando ainda que ao transportar o pólen em suas patas esses insetos terão maior peso e maior dificuldade para voar, o que levará a um maior consumo de alimento por eles, para que disponham da energia necessária para essas suas atividades. Outro ponto relevante a se notar é o tempo que levará para que cada espécie vegetal efetivamente comece a florescer: o girassol floresce rapidamente e tem um ciclo de vida curto, ao contrário de algumas árvores, que podem demorar meses ou anos até que floresçam, entretanto têm um tempo de vida bem maior e irão propiciar diversas floradas.

Apis Mellifera coletando pólens na flor do Milho - Foto de João Martins Ferreira.
Apis Mellifera coletando pólens na flor do Milho – Foto de João Martins Ferreira.

Com relação à polinização, cabe destacar que as abelhas têm muitas vantagens como agentes polinizadores em comparação com outras causas, haja vista que é possível realizarmos ações racionais e controladas por meio delas, além de outros fatores positivos que se poderiam listar. Com elas não se fica à mercê de agentes polinizadores instáveis, como o vento, a água, os pássaros, os animais ou outros insetos. Fatores como a fácil adaptação a diversos climas, a constância na coleta de pólens, o instinto acumulativo de pólens, a capacidade de visitação de várias espécies de plantas, ou o corpo com muitos pelos que possibilitam o transporte dos grãos de pólen entre as flores, entre outros, fazem das abelhas os agentes ideais quando nossa intenção é uma polinização controlada e eficiente. Além disso, elas nos possibilitam ainda a multiplicação de colmeias, a coleta de produtos produzidos em excesso, para o nosso benefício, e mesmo a orientação para uma visitação seletiva de flores, dentro de planejados processos de polinização.

Tudo isso remete à importância evidente que existe no desenvolvimento de nossa apicultura e na valorização do apicultor, bem como no investimento em sua boa formação profissional. Assim como pensar sobre abelhas vai muito além do que pensar apenas em mel, pensar na apicultura e no apicultor, num sentido mais amplo, é pensar em ecologia, em sustentabilidade, é pensar na sobrevivência humana, promovendo a harmonia entre os seres de nosso planeta. O apicultor tem em suas mãos um dos mais relevantes e eficientes instrumentos de apoio para os alimentos do mundo e, portanto, pode colaborar significativamente para a preservação de todas as espécies. Ele é como o regente de uma grande orquestra composta por dedicados insetos, as abelhas, que trabalham com afinco para que a sinfonia das flores nunca pare de vibrar, para que nunca se deixe de produzir os alimentos e as sementes, tão vitais para as futuras gerações.

Referências:

– CAMARGO, João M. F. de. Manual de Apicultura. São Paulo: Ed. Agronômica Ceres, 1972.

– FEEBURG, João Bernardo. Técnica e Prática de Apicultura. Porto Alegre: ed. do Autor, 1986.

– GUIMARÃES, Neif Pereira. Apicultura, a Ciência da Longa Vida. Belo Horizonte: Itatiaia, 1989.

http://reflora.jbrj.gov.br/

https://ala-bie.sibbr.gov.br/ala-bie/

https://eol.org/

https://identify.plantnet.org/

https://pt.wikipedia.org/

https://sites.unicentro.br/wp/manejoflorestal/

https://www.agrolink.com.br/problemas/gorga_59.html

https://www.alice.cnptia.embrapa.br/

https://www.gbif.org/

https://www.semabelhasemalimento.com.br/plantas-para-abelhas/#tabela

– LORENZI, Harri. Árvores Brasileiras – volumes 1 e 2. Nova Odessa: Plantarum, 1998.

– MARCHINI, Luís Carlos et al. Plantas Visitadas por Abelhas e Polinização. Piracicaba: USP-ESALQ, 2003.

– NORDI, João Carlos. Flora apícola e polinização. Taubaté: UNITAU, 2015.

– TOREZANI, Karoline R.S. et al. Polinização da abóbora (Cucurbita pepo L.): comunidade de abelhas, em sistemas orgânicos e convencionais de produção no Distrito Federal. Brasília: CNPq/UnB, 2014.

– VIEIRA, Márcio Infante. Criar Abelhas é Lucro Certo. São Paulo: Nobel, 1984.

– WIESE, Helmuth (coord.). Nova Apicultura. 3. ed. Porto Alegre: Agropecuária, 1982.