SANSÃO DO CAMPO
Mimosa caesalpiniaefolia Benth.

Dr. João Martins Ferreira é Professor Titular da Universidade Paulista UNIP, Pesquisador junto à Universidade de São Paulo, Jornalista e Apicultor. – Site: martinsferreira.net – Contato: martins_ferreira@hotmail.com

Pasto-ApicolaUma árvore brasileira bastante adequada às áreas rurais ensolaradas, que suporta podas e que nos fornece madeira forte e resistente não poderia ter recebido alcunha mais apropriada do que aquela que lhe conferiu o povo brasileiro: “Sansão do Campo” – sendo talvez atribuído o substantivo inicial por analogia entre características da planta e a figura bíblica de Sansão, descrito como um homem que era muito forte e que tinha longos cabelos, os quais lhes foram cortados.

Trata-se da Mimosa caesalpiniaefolia Benth. (nome científico), espécie que é natural das caatingas e dos cerrados nacionais, sendo muito frequente em todo nordeste do Brasil, onde também é chamada vulgarmente de “Sabiá”, principalmente no Ceará e em Pernambuco, possivelmente em razão da cor de sua casca se assemelhar com a plumagem do pássaro de mesmo nome. É conhecida ainda como “Unha-de-Gato”, no Piauí, “Angiquinho-Sabiá”, em Minas Gerais, ou também, em outras regiões, como “Sansão-Gigante”, “Cebiá”, “Sabiazeiro”, “Sabiazeiro-do-Norte”, “Sabiá-de-Espinho”, “Sansão-de-Espinho” e “Cerca-Viva-Sansão-do-Campo”.

Nas últimas décadas essa árvore passou a ser cultivada em quase todo nosso país, adaptando-se bem a outros biomas, principalmente por ser rústica, apreciar sol pleno e ser adequada para reflorestamento de áreas degradadas. Muitos produtores rurais encontraram nela qualidades positivas favoráveis, que atendem a algumas necessidades próprias às suas áreas de culturas diversas, ou pastos, como a possibilidade de utilizá-la como eficiente cerca-viva, ou como fornecedora de boa madeira para a feitura de mourões, entre outras aplicações. Por isso é comum que hoje observemos essa espécie plantada racionalmente em grandes espaços, integrando projetos específicos no setor agropecuário ou delimitando divisões territoriais em propriedades.

A Sansão do Campo é árvore com espinhos, o que pode causar algumas dificuldades no manejo durante plantios ou podas – há uma espécie melhorada geneticamente que minimiza tal característica. No entanto tal particularidade pode ser muito útil caso ela seja plantada em maior quantidade, na intenção de que se forme uma grande cerca-viva, com o objetivo de proteção de uma área quanto a invasões de pessoas, fuga de animais ou coisa parecida. Por ter densa folhagem e atingir grande altura, quando se cria uma cerca-viva com tal planta também se pode favorecer para que ocorra no local do plantio a redução de possíveis ruídos, a redução da visualização de parte de uma área, bem como a redução de eventual poeira dispersa no ar. Tais atributos justificam a prática recente comum de se cultivar essa espécie à margem de rodovias, ao redor de pomares, indústrias, ou escolas, o que contribui para a melhoria da qualidade de vida e da produtividade das pessoas e dos animais.

Dotada de tronco com diâmetro entre 20 cm e 30 cm, essa planta tem rápido crescimento e pode atingir até 8 metros de altura. Ela fornece madeira dura, pesada, compacta e de grande durabilidade e resistência, mesmo em ambientes úmidos, podendo servir bem ao apicultor na feitura de suportes, estacas, mourões e outras necessidades físicas de um apiário. Suas folhas são compostas bipinadas, geralmente com seis pinas opostas, lisas, com o comprimento entre 3 cm e 8 cm. Por ser uma leguminosa, ela fornece forragem de elevado valor proteico, seja por meio de suas folhas verdes, folhas secas ou vagens, sendo uma boa alternativa para a alimentação de animais durante períodos de longa estiagem.

Ela se caracteriza esteticamente como uma bela árvore, principalmente quando está repleta de flores. Assim, dispõe de qualidades ornamentais bastante adequadas a projetos paisagísticos. Porém, no caso de sua utilização para arborização em espaços urbanos, é preciso se levar em conta sua altura, pois pode vir a interferir na fiação dos postes, ou ainda ter atenção com relação às suas raízes, pois podem vir a rachar ou a romper calçamentos. Desse modo, parques ou praças são locais mais adequados ao plantio, lembrando que ela não tolera geada, que aprecia solos profundos, espaçosos, bem drenados e que é uma planta decídua, isto é, perde suas folhas em um período do ano.

A Sansão do Campo apresenta pequenas flores brancas, ou em tom branco-amarelado, dispostas em inflorescências, e frutos em forma de vagem seca, tipo legume, de coloração marrom e com cerca de 9 cm de comprimento. O período de floração é longo, geralmente entre os meses de abril e de junho, sendo possível também que ocorra no verão, quando se abrem flores abundantes em néctar, as quais são muito atrativas para as abelhas. A multiplicação da espécie se dá por meio de estacas ou de sementes, às quais são fornecidas pela planta em grande quantidade e são viáveis por até um ano. Para obtê-las é preciso colher as vagens da árvore, geralmente a partir do mês de setembro, e as colocar ao sol para secarem. Depois, pode-se plantar cada um dos segmentos das vagens, visando à obtenção de mudas.

Fica evidente que dispor dessa espécie de planta nas proximidades de um apiário pode trazer benefícios tanto para as abelhas quanto para o apicultor. É sabido que o Sansão bíblico tinha o mel como um saudável e nobre alimento que lhe nutria e lhe revigorava as forças, enquanto nós, que não apenas somos consumidores, mas também produtores, temos a Sansão do Campo como uma notável fonte por meio da qual podemos obter o mesmo maravilhoso e secular mel.

Referências:

– A BÍBLIA – tradução ecumênica – Juízes, 13-16. São Paulo: Paulinas, São Paulo: Edições Loyola, 1995, p. 291 a p. 206.

– LORENZI, Harri. Árvores Brasileiras – volume 1. Nova Odessa: Plantarum, 1998, p. 179.

https://pt.wikipedia.org/

http://revistagloborural.globo.com/Revista/ (edição de 06/03/2012)

https://www.ibflorestas.org.br/lista-de-especies-nativas/sansao-do-campo

https://www.sitiodamata.com.br/sans-o-do-campo-mimosa-caesalpiniifolia

– RIBASKI, Jorge et alii. Sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia) – Árvore de Múltiplo uso no Brasil. Comunicado Técnico 104. Colombo: Embrapa, 2003.