Uma receita de pão de mel e uma história pra contar

Clau Gavioli (ou Maria Cláudia Gavioli) é jornalista, mestre em hospitalidade e pesquisadora de comida. Ela é editora do site e apresentadora do podcast Minestrone (www.minestrone.com.br).

Abertura_Gastronomia

Minha mãe é uma dessas cozinheiras autodidatas de mão cheia que, como quase todas as pessoas que cozinham, tem características especiais na culinária que pratica. Ela faz tortas salgadas como ninguém mais no planeta, pães fofinhos e recheados divinos, doce de abóbora, figo, laranja e outros tantos brilhantes e tenros e mais uma infinidade de comidas que ela vê nalguma receita da televisão ou experimenta em algum lugar e reproduz com adaptações irretocáveis porque só melhoram os sabores.

Aprendi a cozinhar com ela, mas temos um estilo de cozinha bem diferente, embora muitas vezes a gente cozinhe juntas. Nessas ocasiões, cada uma assume uma posição na cozinha, numa divisão de tarefas quase orgânica, uma tendo a função de chef e a outra de auxiliar. Como ela é mais experiente e cozinha melhor (sou eu falando isso!), me sinto confortável e segura sendo por mais vez a auxiliar.

Um tornado na cozinha
Um tornado na cozinha

Teve um ano que, para o almoço de Páscoa, decidimos fazer pão de mel recheado e coberto de chocolate. Deve ter sido em 2007, não sei precisar a data, mas como me lembro claramente da cozinha, arrisco dizer que foi nesse ano. Na verdade, me lembro do estado em que conseguimos deixar a cozinha para executar toda a receita. Parecia ter passado um tornado por ali e espalhando chocolate por tudo. Utensílios, espátulas, colheres, tigelas, fogão, pia, mesa, azulejos e o chão, além de vários panos de prato que fomos alçando da gaveta para tentar amenizar a desordem, tudo foi atingido pela nossa comum inabilidade para banhar com chocolate os cortes quadrados recheados com beijinho de coco do pão de mel.

Essa história foi tão marcante, apesar do resultado delicioso, que nunca mais tornamos a experiência de fazer qualquer tipo de preparo que demande trabalhar com chocolate como bombons ou ovos de Páscoa. Mesmo depois de ambas termos aprendido a técnica de temperagem do chocolate. Ficou na memória o episódio que, em meio ao desespero, a gente ria e tentava fazer de outro jeito e então, ria de novo, porque nada dava certo. A lembrança daquela nossa desastrosa e deliciosa travessura na cozinha, como tantas outras que tivemos e ainda teremos, é o resultado de um plano conjunto para que a gente usasse da melhor forma um pote de mel que minha mãe ganhara dias antes. A receita veio de uma amiga que executava facilmente todo o processo, inclusive a cobertura.

Quadro_Receita_Gastronomia