O APOCALIPSE DOS INSETOS NA NATUREZA E OS HOMENS.

Lionel Segui Gonçalves – Professor aposentado da USP de Ribeirão Preto-SP

Figura_1_ApocalipseEm 2018 Brooke Jarvis publicou, no New York Times Magazine, um longo artigo sobre o desaparecimento dos insetos, texto traduzido por Amanda Kaster em 9/12/2018, com várias referências de ocorrências no mundo, referindo-se a esse fenômeno como o “apocalipse dos insetos“, o que nos chamou a atenção, uma vez que o fenômeno coincide com o que vem ocorrendo com as abelhas em várias partes do mundo e aqui no Brasil.

Antes de prosseguir desejo lembrar que o termo apocalipse refere-se a um discurso obscuro, escatológico, aterrorizante e inesperado, como o último livro canônico do Novo Testamento atribuído a São João, que contém revelações sobre o fim do mundo (Fig 1).

O artigo em questão, aqui relatado a seguir, refere-se a um fato muito curioso, pois, na verdade ele serve de um sinal de alarme para nós amantes das abelhas. Jarvis comenta um passeio de bicicleta de um professor de matemática, Sune Boye Riis, com seu filho mais novo, nos arredores de Kopenhagen, Dinamarca em um determinado dia do verão de 2016, quando constatou um fato estranho que estava ocorrendo, ele e seu filho não estavam comendo insetos como acontecia nessas ocasiões em sua infância.

Figura_2_ApocalipseEle comentou que isto era muito comum nesses passeios antigamente na Dinamarca e as pessoas precisavam andar com a boca fechada ao atravessar nuvens de insetos enquanto passeavam a pé ou de bicicleta pois, inevitavelmente engoliam insetos nessa ocasião.

Por outro lado, lembrou também que, nessa ocasião, quando seus pais andavam de carro os para-brisas se enchiam de carcaças de insetos tal a quantidade de insetos que eram atingidos nos percursos. Riis notou que isso também não ocorreu em 2016 e, principalmente, que no passeio de bicicleta ele curiosamente não havia comido insetos como de costume.

Algo estranho estava ocorrendo e essa ausência de insetos, segundo ele, parecia ser um verdadeiro sinal de alarme de um fenômeno diferente ou anormal na natureza.

Figura_3_ApocalipseEstariam os insetos sumindo? Riis preocupou-se que seu filho não estava tendo a mesma sensação que ele teve em sua infância, e desejou averiguar a razão dessa ausência dos insetos.

A seguir prendeu uma rede de insetos no teto de seu carro e saiu para rodar pelas redondezas de sua casa para tentar verificar se a rede coletaria insetos. Isso não ocorreu e com a ajuda de vários colaboradores com carros também com redes rodou por Kopenhagen e constatou, na ocasião, que realmente os insetos haviam desaparecido. Esta observação de Riis foi amplamente comentada e a seguir outras descobertas sobre declínio de populações de insetos foram reveladas.

Naquele mesmo ano cientistas dos USA constataram que nos últimos 20 anos 90% das borboletas Monarca (Dannaus plexippus) (Fig 2) haviam reduzido suas populações, com uma perda de 900 milhões de indivíduos e que, no mesmo período, as abelhas mamangavas (Bompus affinis) haviam reduzido sua população em 87%.

Figura_4_ApocalipseBroke Jarvis relata também em seu artigo que em 2017, em Krefeld, na Alemanha, a meia hora de carro partindo de Dusseldorf, perto da margem ocidental do Reno, um estudo feito por uma pequena sociedade de entusiastas entomólogos revelou que em apenas 27 anos a população de insetos foi reduzida em 75%. Segundo Jarvis (2018), já em 2013, os entomologistas de Krefeld haviam observado que o numero total de insetos capturados em uma reserva natural era 80% menor que no mesmo local em 1989.

Os estudos da redução dos insetos constatadas em Krefeld se tornaram muito conhecidos no mundo cientifico. Os insetos são os animais não domesticados que conhecemos mais profundamente, cujas vidas se cruzam muito com as nossas como por ex. as aranhas nos chuveiros, as formigas na mesa, as abelhas no sorvete e sucos, os ácaros na pele etc.

Figura_5_ApocalipseExistem 12 mil tipos de formigas, 20 mil variedades de abelhas, 400 mil espécies de besouros etc. Todos esses insetos estão sumindo e com isso está ocorrendo uma redução de populações e de diversidade ou redução da biodiversidade.

Em 2014 a revista Science criou uma nova terminologia para definir os desaparecimentos da fauna, a defaunação de indivíduos e, mais tarde, um termo mais amplo, a aniquilação biológica. Portanto Riis estava correto em sua observação a respeito do fenômeno da ausência de insetos.

Mais recentemente, com o uso indiscriminado dos inúmeros agrotóxicos utilizados na natureza, torna-se mais evidente o desaparecimento ou inesperado apocalipse dos insetos. Por outro lado, a defaunação atingindo outros animais na natureza também vem ocorrendo devido a ação desses fatores, sendo, porém, bem mais ampla pois, desde 1970 cientistas tem constatado que as populações de animais terrestres selvagens da Terra perderam em média 60% de seus membros, o que é muito preocupante.

Figura_6_ApocalipseInfelizmente a literatura científica esta rica de exemplos de devastações provocadas pelo homem, declínio de populações de animais e plantas etc. e, ao somarmos com as conclusões dos cientistas de Krefeld, concluímos que a preocupação de Riis tinha sentido.

Assim, se aquele sinal de alarme, devido a ausência dos insetos, naquele comentado passeio ciclístico em Kopenhagen não for levado em consideração, no sentido de agirmos, com urgência, com ações de proteção aos insetos, em especial às abelhas e ao meio ambiente, certamente seremos também candidatos a sofrer, num futuro não distante, a nossa própria extinção ou desaparecimento, conforme a previsão catastrófica atribuída a Einstein, no século passado, (Fig. 3) de que, se as abelhas desaparecessem da fase da Terra, logo em seguida ocorreria o mesmo com os homens. Infelizmente o desaparecimento em larga escala dos insetos na natureza já vem ocorrendo, conforme relatou recentemente Brooke Jarvis como morte apocalíptica na época, em seu artigo no NYTM, porém hoje esta mortandade de abelhas (Fig 4) é uma realidade (Castilhos, 2018, Grigori, 2019).

Agora, mais recentemente, associado aos desmatamentos, destruição do meio ambiente e uso indiscriminado dos agrotóxicos causados pelo homem, conforme revela a mídia internacional, a cada dia, a mortandade dos insetos, das abelhas (Fig. 5) e demais animais tende a crescer ainda mais na natureza, graças a lamentável ação irresponsável dos homens, porém certamente com mais intensidade se os insetos e em especial as abelhas não forem protegidas (Fig. 6 ) e o fenômeno da ausência de insetos ou apocalipse constatado por Riis em seu passeio ciclístico em 2016, na Dinamarca, vir a ocorrer mais drasticamente, porém agora no Brasil, ao nosso redor. Portanto, proteja as abelhas, o meio ambiente e o homem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Castilhos, Dayson. Desaparecimento e Morte de Abelhas no Brasil, Registrados no Aplicativo Bee Alert. Tese de Doutorado , UFERSA, Mossoró-RN, 2018.165p.

Grigori, Pedro. Meio bilhão de abelhas morreram no Brasil e isso é uma péssima Noticia. Reporter Brasil. https://exame.com/brasil. 20p, 2019.

Jarvis, Brooke.The Insect Apocalypse Is Here. O Apocalipse dos Insetos esta aqui. Originalmente publicado pelo New York Times, tradução de Amanda Kaster: https:médium.com/@amandakaster/oapocalipse-dos-insetos-esta-aqui-def24fa763c5.,2018.