A ORGANIZAÇÃO “BEE OR NOT TO BE “ E SUA IMPORTÂNCIA PARA A APICULTURA E A MELIPONICULTURA.
Prof. Dr. Lionel Segui Gonçalves – Professor aposentado da USP e atualmente pesquisador visitante da UFERSA de Mossoró-RN.
O Brasil é um dos maiores consumidores mundiais de agrotóxicos (fig. 04 e 05) utilizados no combate a pragas da agricultura, causadores de mortes de abelhas Apis mellifera L., de abelhas sem ferrão e abelhas solitárias e do fenômeno do Desaparecimento das Abelhas (CCD = Colony Collapse Disorder) ou Síndrome do Colapso das Colônias. Este é um assunto bastante discutido atualmente entre os apicultores brasileiros e autoridades ligadas ao setor agrícola, sendo um dos principais temas discutidos nos Congressos Mundiais de Apicultura da Apimondia. Uma das primeiras ações da ONG Bee Or Not To Be foi o lançamento de uma campanha, “Sem abelhas, sem alimento” (No Bee No Food), expressão maior de conscientização sobre a importância das abelhas desenvolvido pela ONG por seu Presidente, Prof. Dr. Lionel Segui Gonçalves, em 2013, concomitantemente no Campus da USP em Ribeirão Preto – SP, no Campus da UFERSA em Mossoró-RN e, neste mesmo ano, no Congresso Internacional da APIMONDIA em Kiev, Ucrânia, em Outubro de 2013, por seu filho Daniel Malusá Gonçalves. Nessa Congresso de Kiev a ONG obteve os apoios da APIMONDIA, FILAPI e FAO. Tão logo após sua fundação, a organização passou a ter inúmeros apoios importantes como os da CBA (Confederação Brasileira de Apicultura) e da ABEMEL (Associação Brasileira dos Exportadores de Mel) e outras. Assim, graças ao importante reconhecimento de suas ações no meio apícola nacional e internacional (fig. 06 e 07), a organização já recebeu inúmeros prêmios nacionais e internacionais, entre eles sendo destacados o 2º lugar na categoria Planet da “Organização Act Responsible”, em Cannes, França em 2015, medalha de prata no Congresso da FILAPI na Argentina em 2014, duas medalhas de bronze no Congresso Internacional da Apimondia em Daejeon, na Coreia do Sul, além do Grand Prix 2015 do FestGraf promovido pela APP de Ribeirão Preto – SP. Em 2017, em Istambul, Turquia, graças as atividades da ONG e de seu Presidente, a Federação Internacional de Apicultura APIMONDIA, organização maior da apicultura mundial, concedeu ao Presidente, Prof. Dr. Lionel Segui Gonçalves, o honroso título de membro honorário da APIMONDIA, fato que colocou em destaque internacional as atividades apícolas brasileiras.
Como é de conhecimento público no mundo cientifico, as abelhas são os maiores polinizadores das plantas, sendo responsáveis pela perpetuação de 85% das plantas com flores das matas, florestas, bosques, jardins, campos e demais áreas verdes, garantindo, com seu trabalho de polinização, a preservação da biodiversidade e um importante equilíbrio aos ecossistemas existentes do Planeta. As abelhas garantem não só a produtividade no campo como também a melhoria da qualidade dos frutos e sementes, sendo responsáveis pela grande variedade de alimentos que chegam à nossa mesa.

A segunda ação lançada pela ONG foi a criação do aplicativo “Bee Alert “(fig. 08) em 17/3/2014, o primeiro aplicativo por sistema eletrônico, seguro e de fácil utilização, usado para registrar as ocorrências de mortes de abelhas em geral nos apiários brasileiros, podendo ser acessado em qualquer computador, smartphone ou tablet, estando no momento em revisão.
O aplicativo indica a localização da ocorrência, sua intensidade, possíveis causas e os danos ou prejuízos causados ao apicultor ou meliponicultor. O aplicativo foi adotado em 7 países da América Latina, já tendo sido utilizado inclusive em um projeto de doutorado desenvolvido na UFERSA de Mossoró-RN, pelo pós-graduando Dayson Castilhos, orientado do Prof. Lionel S. Gonçalves. Essa tese foi concluída e defendida em julho de 2018 com o auxílio do Aplicativo Bee Alert. Foram registradas, no Aplicativo, 247 ocorrências e a perda de mais de 20.000 colônias de abelhas, sendo 87% de Apis mellifera e 13% de abelhas sem ferrão, o que representa a morte de mais de um bilhão de abelhas.
Mais de 90% dessas perdas foram provocadas pela ação direta dos pesticidas, segundo apicultores e meliponicultores contactados pelo Sr. Castilhos. Gostaríamos de destacar que essa perda não leva em consideração as abelhas encontradas na natureza, tanto Apis como as abelhas sem ferrão e as solitárias mortas pela ação direta dos pesticidas, devido ao efeito da deriva ou efeito do vento durante os voos dos aviões agrícolas, usados na pulverização dos pesticidas no combate às pragas da lavoura.(fig. 09 e 10) Infelizmente, até o momento, inexistem pesquisas sobre os danos causados pelos pesticidas nas populações de abelhas da natureza, porém, com certeza, os danos devem ser no mínimo tão prejudiciais para as abelhas como os detectados nos apiários e meliponários. Segundo foi possível constatar por Castilhos, as mortes de abelhas ocorreram durante todos os meses ou estações do ano durante as coletas de dados. As análises químicas revelaram maiores frequências dos pesticidas Fipronil e dos pesticidas sistêmicos neonicotinoides (imidaclopride, thiametoxam e clotianidine ). As principais regiões do Brasil que apresentaram perdas de abelhas foram principalmente os Estados de São Paulo (47%), Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. (fig. 11, 12 e 13)
Assim, preocupados com o lamentável resultado dessa estatística que comprova o desconhecimento do brasileiro pelo maravilhoso trabalho executado pelas abelhas e, entendendo o papel que as crianças podem ter no convívio familiar, a ONG decidiu criar um Caderno Didático, de fácil acesso e dedicado a crianças do ensino fundamental, de 8 a 11 anos. Esse Caderno foi concebido para despertar o interesse das crianças no fascinante mundo das abelhas. Assim, foi criada a obra “Sem Abelha, Sem Alimento: Caderno de Atividades para Educação Ambiental “, de autoria de Rosane Malusá Gonçalves Peruchi e Lionel Segui Gonçalves. (fig. 17)
O texto contém 5 módulos que tratam sobre a vida das abelhas e seu ambiente. Na verdade, a obra pode ser de grande utilidade não apenas para crianças de 8 a 11 anos, podendo atingir crianças um pouco mais longevas, até quem sabe seus 90 anos.
A mais recente ação da ONG foi a criação do Programa de Adesão “Empresa Amiga das Abelhas”, cujos benefícios podem ser conhecidos mediante contato com a ONG através do e-mail mencionado no início deste artigo.(contato@beeornottobe.com.br).
Desde 2015 o número de pesticidas liberados pelo Ministério da Agricultura vem aumentando a cada ano. Somente em 2019 foram aprovados 474 novos produtos (Dados obtidos do MAPA em 29/12/2019). Em 2020, apenas durante a pandemia, foram liberados mais 118 novos produtos altamente tóxicos para as abelhas. Esses dados, por si só, já mostram a seriedade do problema, uma vez que o ideal seria a proibição do uso dos pesticidas tóxicos às abelhas, insetos que não são pragas.
Em 17/9/2019 uma reportagem de Aline Torres (O agrotóxico que matou 50 milhões de abelhas em Santa Catarina em um só mês) para a BBC News Brasil, relata a mortandade das abelhas, tendo como principal causa o Fipronil em lavouras de soja, pondo os agricultores e o mercado do mel catarinense em risco. No mesmo período, o bem sucedido apicultor gaúcho, Sr. Aldo Machado dos Santos, de São Gabriel-RS, relatou perdas de milhões de abelhas mortas em 2019 e 2020.
Lembro que Belterra foi criada em 1934 por Henry Ford (Projeto Fordlandia) com o objetivo de desmatar e substituir a floresta nativa da região por seringueiras, para implantar a indústria de pneus para carros. O projeto de Ford não deu certo e deu lugar mais tarde a expansão da soja, que necessitava de muito agrotóxico para viabilizar os plantios. Como consequência, o desmatamento da região, a expansão da soja e o alto uso de agrotóxicos passou logo a causar a morte das abelhas sem ferrão e outras espécies de abelhas.
A mortandade de abelhas no Brasil, como já vimos, está muito relacionada a presença de agrotóxicos. A pesquisadora da USP, Dra. Larissa Lombardi, é autora de vários trabalhos sobre agrotóxicos, inclusive uma obra de 2017 onde registra o uso dos agrotóxicos em todo o país.
Portanto, face ao exposto, sou de opinião que nós pesquisadores e educadores, bem como apicultores e meliponicultores, temos a obrigação de refletir sobre essa situação e nos posicionar a respeito do problema junto a nossas autoridades, no sentido de solicitar o incentivo do controle biológico de pragas e, se possível, uma redução e um melhor controle dos pesticidas aplicados na lavoura.
Concluindo, reforço a opinião de que há, portanto, a necessidade urgente de providências em prol da proteção e defesa das abelhas em geral e do meio ambiente.