CORDILINE
Cordyline fruticosa (l.) a. chev.
Dr. João Martins Ferreira é Professor Titular da Universidade Paulista UNIP, Pesquisador junto à Universidade de São Paulo, Jornalista e Apicultor.
Site: martinsferreira.net – Contato: martins_ferreira@hotmail.com
Eis uma planta melífera dotada de características bastante peculiares, a começar pela variedade de nomes com os quais é conhecida, indo até as diversas colorações que pode apresentar em suas folhas. Entre as denominações populares que recebe, encontra-se o nome “Cordiline”, no entanto no Brasil é mais comum chamarem-na de “Coqueiro-de-Vênus”, apesar de não ser um coqueiro, ou então de “Dracena”, apesar de não ser propriamente esse tipo de planta – geralmente ocorrem tais confusões em razão das semelhanças entre as espécies, ou mesmo por algum desconhecimento das pessoas, o que as leva a denominar intuitivamente certas plantas, observando-as comparativamente, ou fazendo analogias, por exemplo. Alguns outros nomes populares são: Cordiline, Fiteira, Lírio-Palma, Cordyline, Cordiline-Verde, Peregum e Peregum-Roxo.
Cordyline é um gênero de aproximadamente 15 espécies de plantas. No campo da ciência é possível encontrar sinônimos da Cordyline fruticosa (L.) A. Chev. como: Asparagus terminalis, Convallaria fruticosa, Cordyline terminalis, Cordyline jacquinii, Dracaena terminalis, Terminalis fruticosa, Ezehlsia palma, Taetsia fruticosa, Dracaena cuprea, Dracaena amabilis, Dianella cubensis, Cordyline baptistii, Cordyline amabilis, Calodracon terminalis, Calodracon sieberi, Calodracon nobilis, Calodracon heliconiifolia, Aletris chinensis e Cordyline hedychioides. O nome científico tem origem na língua grega antiga, significando algo próximo da palavra “cordão”, ou ainda algo como “clube”, “grupo”, isso em razão de uma referência ao conjunto de hastes ou rizomas subterrâneos da planta. O termo Fruticosa tem origem no Latim, significando algo como a expressão “com muitos brotos”.
É uma espécie arbustiva cuja origem nativa é desconhecida, mas foi a partir do sudeste da Ásia e da Oceania que se tornou popular e passou a ser cultivada no mundo inteiro, ou seja, veio do outro lado de nosso planeta, com relação ao Brasil, tendo se adaptado bem em nosso país. Ela se parece com uma palmeira, tem tronco ereto, lenhoso, com anéis horizontais, com folhas longas, de comprimento entre 30 cm e 60 cm, dispostas aglomeradas em forma de leque e em espiral, eretas e levemente arqueadas. Produz, em diferentes épocas do ano, geralmente entre abril e junho, panículas longas de pequenas e delicadas flores perfumadas, brancas, amarelas ou vermelhas, que oferecem um néctar atrativo para abelhas apis, as quais são agentes fundamentais em sua polinização. Os pequenos frutos amadurecem em bagas vermelhas. A folhagem é perene e a planta aprecia sol pleno, ou locais um pouco sombreados – a quantidade de luz solar diária pode interferir na coloração das folhas. Normalmente ela pode alcançar até 4 metros de altura, entretanto tolera podas formativas, caso não se queira que a planta cresça demais. Em ambientes abertos, plantada no solo, ela viceja. Também se adapta a ambientes internos, mesmo que seja limitada a luminosidade – porém nesse caso pode ocorrer escassa ou nenhuma floração. Gosta de solo fértil e bem drenado, mesmo sendo salino, mas não se desenvolve em locais áridos. Tolera frio, mas não geadas. Deve-se evitar regá-la com água que contenha cloro, como a água encanada encontrada em meios urbanos, por exemplo, pois isso poderá causar manchas em suas folhas.
As propriedades paisagísticas da Cordiline são imensas e por isso passou a ser muito utilizada em diferentes projetos de jardins, principalmente em áreas urbanas – é usual inclusive ser plantada em vaso. Suas folhas são brilhantes, coriáceas, com pontas em forma de lança, largas e podem apresentar as cores como vermelho, verde, sendo possíveis variações nas cores branco, amarelo ou rosa. Essa característica a torna muito versátil, caso se pretenda causar um contraste de cores entre as folhas de diferentes espécies num jardim, cultivando-a em densas fileiras, ou de forma isolada. Por se adaptar bem em diferentes condições ambientais e atuar como um eficiente filtro antipoluição atmosférica, ela foi também estudada pela NASA (National Aeronautics and Space Administration) com relação às suas capacidades como purificadora natural do ar, com possibilidades para ser uma espécie selecionada para cultivo no interior de estações espaciais.
Na Polinésia, além do uso ornamental, a planta é utilizada como alimento, por meio do cozimento das raízes, posto que apresenta rizomas ricos em amido. Quando processada, pode fornecer elementos para a elaboração de corantes, bebida fermentada, como o Okolehao havaiano, por exemplo, ou determinado tipo de adoçante. Entre os povos das ilhas do oceano pacífico, suas folhas são utilizadas para coberturas de casas, embrulho de alimentos, vestimentas, feitura de cordões e em outras aplicações, sendo que a planta é ainda empregada na medicina popular. Ela possui propriedades antioxidantes, antimicrobianas, anti-inflamatórias e antitumorais, sendo usada em algumas localidades, sozinha ou em combinação com outras plantas, no tratamento de dores de cabeça, febres, feridas, doenças de pele, doenças respiratórias, tuberculose, disfunções intestinais e problemas menstruais. Há registros de que seus frutos podem causar náuseas se ingeridos por animais como o cachorro e o gato. Portanto, nesses aspectos relacionados a terapias, é uma espécie que merece ser melhor estudada pela ciência para que se tenha maior segurança em sua utilização.
Por ser considerada uma planta sagrada nesses países e regiões, ela está quase sempre presente em casas, terrenos, altares e cemitérios, sendo utilizada dos mais diversos modos e em inúmeras cerimônias. É muito comum seu uso em rituais de iniciação, de cura, de guerra, de caça, exorcismos, noivados, casamentos, funerais, demarcação de terras e fronteiras, plantios, pesca e antes de relações sexuais. Geralmente, sua função ritualística é proteger, ou mediar, junto a entidades superiores, pedidos de proteção e boa sorte, atraindo bons espíritos, afastando o mau agouro e os espíritos malignos, sendo por isso plantada em santuários e em bosques sagrados. Suas folhas são carregadas como amuletos e os colares feitos com elas, dentro da mitologia havaiana, por exemplo, são denominados “leis dos deuses”, já que essa planta é consagrada aos deuses no Havaí. No Brasil e em muitos países ocidentais não é comum essa espécie ser utilizada com fins rituais ou religiosos, sendo sua finalidade mais ligada a questões estéticas, com vistas apenas a embelezar ambientes, ou a valorizar projetos paisagísticos.
Em locais como Bornéu, Nova Guiné, Fiji, Samoa, Nova Zelândia e Havaí, a Cordiline é conhecida como “planta Ti” (Ti plant, ou Ti red), ou ainda “Lírio de Palmeira”, ou “Palmeira de Repolho”, sendo utilizada para fins religiosos, pois acreditam que ela seja dotada da capacidade de comunicação com o sobrenatural. Nas Filipinas a chamam de “Kilala”, que significa “Saber”, devido à sua importância em práticas de adivinhação. Várias culturas a consideram dotada de poderes místicos ou espirituais. As características comuns incluem a crença de que ela pode conter almas e, portanto, é útil na cura de doenças de “perda de alma” e no exorcismo contra espíritos malévolos. Nesse aspecto é utilizada em trajes e ornamentos cerimoniais, ou como marcadora de “fronteira”. Um exemplo é a feitura de sandálias com as folhas dessa planta, que servem para proteger os pés de pessoas que caminham sobre brasas, em ritos primitivos. As plantas Ti com folhas vermelhas comumente simbolizam sangue, guerra e os laços entre os vivos e os mortos, enquanto que as plantas Ti com folhas verdes costumam simbolizar paz e cura.
A Cordiline pode ser multiplicada facilmente por estaquia, ou brotos, que surgem espontaneamente direto do rizoma, no entorno da planta. Pode-se realizar o corte de segmentos maduros do caule da planta, postos para brotar em substrato mantido úmido e em local sombreado. Após a brotação, é realizado um corte na região brotada, replantando-se no solo ou no vaso para o enraizamento. A reprodução por sementes é mais rara e resulta em indivíduos muitas vezes diferentes da matriz. A taxa de germinação é alta e ela leva poucos meses para se completar.
Essa planta pode ser de valia para o apicultor em diversos sentidos. Com ela se pode ter facilmente e em razoável período de tempo uma fonte de alimentação para as abelhas, pois é uma espécie de boa adaptação a diferentes ambientes e com desenvolvimento moderado, sendo bem prático manuseá-la e a reproduzir, além de outras vantagens que oferece, como a possibilidade para a formação de belas cercas-vivas, ou de melhoria da qualidade do ar nas proximidades das colmeias. Quanto às aplicações que certas culturas orientais dão a essa planta há séculos, elas ainda merecem maior atenção e estudos científicos mais apurados para que possamos de fato aproveitar melhor as potencialidades da Cordiline em nossas vidas e nas vidas de nossas queridas abelhas.
Referências:
Enciclopédia de Plantas e Flores. São Paulo: Abril Cultural, s/d, p. 7.
http://jardim.98905.com/plants-flowers-herbs/plant-basics/1009026576.html
http://www.unirio.br/ccbs/ibio/herbariohuni/cordyline-fruticosa-l-a-chev
https://en.wikipedia.org/wiki/Cordyline_fruticosa
https://www.gardeningknowhow.com/houseplants/ti-plant/cordyline-plant-varieties.htm
https://www.jardineiro.net/plantas/coqueiro-de-venus-cordyline-fruticosa.html