Apicultura e a mulher.

Hilton Claudino é Fitoterapeuta, Trofoterapeuta e Naturoterapeuta
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Chamada-Mulheres-na-Apicultura_1No calendário mundial o dia 8 de março, é comemorado o dia internacional da mulher, data que deveria ser dedicada a mais reflexão sobre a luta e suas conquistas, notadamente por igualdade e respeito, pena, que poucos o farão somente neste dia, e olhe lá! É que, de um dia para o outro, tudo cairá no esquecimento e voltamos a ver as mulheres sofrerem todo tipo de agressão, confesso, algo inaceitável, inexpugnável, para quem tanto participou e é um dos maiores responsáveis por nossa estada aqui no planeta terra.

Foto 1 - Profa. Renata Valéria e a discente Tatiane Barros.
Foto 1 – Profa. Renata Valéria e a discente Tatiane Barros.

Mas, se você pensa que o dia internacional da mulher é reservado para dar flores e chocolates, afim, de agradar as mulheres da sua vida, saiba que existe algo muito mais importante e agradável de se lembrar e celebrar, trata-se de seus feitos, de suas conquistas. E entre essas intermináveis conquistas e feitos, poderíamos citar algumas até com maior destaque na sociedade, entretanto, vamos falar da participação da mulher em uma atividade que requer muita dedicação, amor e carinho, virtudes que já lhes são peculiares. Portanto, aqui está uma justa e perfeita homenagem a todas as mulheres.

Por esta revista tratar da apicultura, a propósito, vamos falar da participação da mulher em um feito na apicultura, algo realmente singelo e gratificante, trata-se do Projeto Apicultura e Mulheres, desenvolvido pela Universidade Federal Rural de Pernambuco-UFRPE e coordenado pela Profa. Dra. Renata Valéria Regis de Sousa Gomes.

No início de 2018, Renata Valéria conheceu as Agroflores, um grupo de mulheres que foram retiradas do local onde moravam há mais de 30 anos, em Suape, e foram realocadas para o Assentamento de Ximenes, em Barreiros. “Mais de cem famílias foram transferidas para um local que não tinha estruturas, sem energia, nenhuma infraestrutura adequada. Eu fiquei muito sensibilizada com a história delas, são mulheres valentes e guerreiras que viviam numa terra de solo produtivo e acabaram indo morar em terras cansadas, degradadas, devido ao cultivo da cana. Elas tinham vontade de trabalhar e só faltava a oportunidade, então juntamos a vontade de trabalhar com a oportunidade de trabalho”, explica a professora Renata Valéria.

Através de reunião na associação do assentamento e com o apoio de Manoel Brito, um dos apicultores da região, que já mantinha vínculos com a UFRPE, as Agroflores conheceram as atividades desenvolvidas pela Universidade e deram início a um novo ciclo. “Essas mulheres estavam em vulnerabilidade social. Conhecendo a situação delas, sugerimos a produção do mel, que é bem aceito, vende bem e não estraga fácil, dura até dois anos se preservado. Caso não venda, pode ficar para consumo próprio, é um alimento saudável. E foi daí que elas escolheram conhecer e trabalhar com apicultura”, explica a professora e orientadora do projeto, Renata Valéria.

A apicultura é uma técnica desenvolvida na criação de abelhas com ferrão para o cultivo do mel, própolis e diversos outros produtos. De acordo com a professora Renata Sousa, não existe meio termo na realização da atividade, é preciso conhecer os tipos de abelhas, as possibilidades, mostrar a produção, o manejo, como se forma a colônia.

Para dar início às atividades, as Agroflores de Ximenes passaram por um estudo intensivo para conhecer as especificidades da área, para só a partir de setembro de 2018 dá início a implantação do primeiro apiário.

Quadro-fotos_Materia1Com cerca de nove meses de projeto, o grupo de mulheres já consegue desenvolver um sistema de economia criativa dentro do local em que vivem. Durante esse tempo, já foram realizadas duas colheitas de mel, o que possibilitou a criação de produtos variados para o consumo alimentício, promoveu a geração de renda e a autonomia para o grupo desenvolver novas técnicas de produção, vendas e novas experiências. A apicultura passou a garantir o sustento dessas mulheres. “A professora nos ensinou como trabalhar, como cuidar das abelhas da melhor forma e isso só nos trouxe coisas boas”, explica Sonia, integrante do grupo.

“As meninas estão tendo o produto bem aceito, fazem muito sucesso, porque estão tendo orientação técnica desde o manejo da colônia até a parte de extração e isso resulta na qualidade do produto que vendem, quebramos paradigmas e estamos levando o desenvolvimento local”, conta a professora Renata Valéria.

A força da mulher na apicultura:

Debater a participação da mulher dentro da apicultura é trazer à tona um padrão ainda imposto pela sociedade: o de que mulheres não podem trabalhar na área por ser uma atividade em que os homens monopolizam o centro de produção.

Antes de entrarem no projeto de extensão, as Agroflores foram praticamente “impedidas” de trabalhar com abelhas. Um produtor local lhes disse que era uma atividade “muito difícil para mulheres” realizarem. Ao conhecer Manoel Brito e o trabalho que fazia em total parceria com sua esposa e filha, notaram que, sim, era possível mudar, participar e realizar, com excelência, o trabalho com abelhas.

“Muitas vezes pensamos que não íamos conseguir, mas a gente tem um potencial dentro de nós que é desconhecido e quando começamos a botar pra fora notamos a diferença, principalmente quando encontramos alguém que está disposto a nos ajudar, incentivar a descobrir esse potencial que temos para fazer a atividade”, afirma Sônia.

O objetivo do trabalho é integrar e ajudar o grupo de mulheres a entenderem que são elas que vão executar toda a produção, que são capazes, porque embora seja uma atividade ainda presa a uma redoma masculina, essa realidade vem mudando. Se feito um levantamento a participação da mulher nas atividades apícolas, será pontuada uma grande presença feminina no que diz respeito ao cuidado da higienização e retirada do mel, enquanto o homem lida com toda a parte do campo.

“Hoje já conseguimos desmistificar essa divisão completamente e a mulher tem total condição de fazer qualquer atividade, mas não é uma atividade que se faz sozinha, independentemente de ser homem ou mulher. A apicultura é uma atividade que tem que se fazer no mínimo em dois, por conta dos processos de segurança e manejo” explica a professora.

A inserção da mulher na apicultura promove a participação ativa na economia doméstica e coletiva, a inclusão dos parentes e vizinhos na atividade, muda toda uma percepção ambiental e social, pelo fato de ser uma atividade limpa, que não polui, nem desmata, que agrega valores e desenvolve o respeito pela natureza. Hoje, o trabalho com abelhas já despertou o interesse de outros moradores do assentamento Ximenes, graças ao exemplo das Agroflores, de acordo com a Profa. Renata Valéria.

Além de compartilhar a tecnologia a quem precisa e fornecer subsídios para o desenvolvimento profissional, pessoal e coletivo, o “Mulheres e Apicultura: uma doce produção” promove questões como a igualdade e o exercício da sororidade, ou seja, a união entre as mulheres, com base na empatia e no companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum.

“Esse projeto trouxe muita riqueza para nós, conhecimento, estrutura, e principalmente empoderamento, sabemos que somos capazes de tudo”, afirma Sônia, o lírio.

Nota:

Agradecemos a Profa.Dra.Renata Valéria (chefe de gabinete), da Universidade Federal Rural de Pernambuco por ter fornecido dados que compuseram esta matéria.