CRESCI PERTO DAS ABELHAS!

Juliana Cecchetto – Mestre e Doutora em biotecnologia. Graduada em Ciências Biológicas (Licenciatura) pelo Centro Universitário Barão de Mauá e mestre em Biotecnologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP).

Chamada-Mulheres-na-Apicultura_1O mundo da apicultura entrou em minha vida ainda na infância, há exatos 34 anos quando a curiosidade por assuntos relacionados a natureza, levou meu pai, que era especialista em elétrica, a comprar um livro de apicultura, chamado Nova Apicultura, por Helmuth Wiese e o que era para ser apenas material de leitura, passou logo do papel para a prática e assim eu cresci perto das abelhas, ajudando nos processos e pouco a pouco no manejo de colmeias. Hoje tudo que sei sobre abelhas, foi devido a este homem que sempre foi um modelo de apicultor.

Assim, o fruto do trabalho com as abelhas se tornou renda complementar e o negócio da família que era artesanal passou a ocupar um local profissional, situado no interior de S.P na cidade de Matão, com registro S.I.M. (Selo de Inspeção Municipal) que permitia a venda dentro do território da cidade. Alguns anos após, a fase de vestibulares chegou e fui cursar Biologia no Centro Universitário Barão de Mauá em Ribeirão Preto – S.P, e todos os anos ministrava palestras sobre a importância das abelhas em escolas para crianças do pré-escolar ao ensino fundamental. Após formada, as oportunidades de trabalho surgiram em áreas distintas a apicultura e me permiti abraçar cada uma delas para aprender o máximo possível, trabalhando por um tempo até na Espanha e foi quando retornei e comecei a trabalhar em laboratório, despertando para pesquisa e com essa bagagem percebi que poderia fazer mais e ingressei na pós-graduação.

Iniciei o Mestrado e Doutorado em Biotecnologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp – Campus de Araraquara, mas mesmo colocando todos os esforços para a pesquisa em detecção de vírus e minha vontade de estar na área acadêmica, havia algo dentro do peito (aquela vozinha interior) que me chamava para longe dos laboratórios. Há um ditado que diz que “ o bom filho a casa torna” e foi assim que na metade do doutorado, meu pai conheceu uma Portuguesa, Marisa C. Rodrigues que também estava fazendo seu doutorado, com pesquisa em abelhas na Unesp – Campus de Jaboticabal, e começou a apoia-la em seu trabalho e logo se tornaram amigos, e numa de suas visitas de trabalho a Matão eu a conheci e vi através de seu trabalho que era possível disseminar a apicultura no Brasil, agregando valor aos produtos relacionados a abelha, juntamente com trabalho em conjunto com os apicultores, trazendo perseverança a todos, e também como resultado, a preservação da natureza. Foi aí que percebi que o sentimento que levava por anos, de busca por algo que estava faltando em minha vida, não existia mais, porque era isso que iria completar o que faltava.

Logo após, em 2019, fui convidada a ser professora conferencista de Apicultura e Sericicultura, para o curso de Zootecnia da Unesp – Campus de Jaboticabal, a qual pude levar meu conhecimento a pessoas que antes, ou nunca tinham pensado no importantíssimo papel que as abelhas têm em nossas vidas, polinizando mais de 1/3 do alimento que temos na nossa mesa, ou que a única coisa que sabiam sobre abelha é que tinham que ter medo, pois podia atacar. Assim, o mundo da apicultura foi se abrindo novamente em minha vida. Já em 2020, fui chamada para ser gestora de uma empresa apícola chamada Rubee Apis que estava nascendo em Alagoas, fundada por uma médica, Helen Klieber que compartilhava os mesmos ideais que eu, fazer da apicultura instrumento de transformação, trabalho e fortalecimento para apicultores, sendo iniciantes ou já experientes, resultando também na obtenção de produtos valiosos para saúde dos consumidores, e foi através dela que todo esse sonho se tornou possível. Hoje a empresa tem parceria fundamental com um seleto grupo de apicultores, que trabalham arduamente e com muito respeito com suas abelhas, tendo como resultado mel e própolis vermelha de extrema qualidade, estamos atualmente também trabalhando com a criação de viveiro de mudas para suprir as necessidades de desmatamento que infelizmente ocorrem na região e trabalhando para aumentar rapidamente nosso grupo de apicultores e também agregar mulheres que queiram ter sua independência financeira.

Quadro-fotos-mulheres-na-apiculura3Hoje, a Rubee Apis trabalha apenas com a própolis vermelha, produto único de alto potencial farmacológico por comprovação cientifica, cada vez mais buscada pelos brasileiros e no exterior, produzida pelas abelhas Apis mellifera (popularmente chamadas de abelhas africanas ou europeias), que utilizam o exsudado da planta Dalbergia ecastophyllum, conhecida como rabo-de-bugio, encontrada nas encostas dos manguezais, como matéria prima para sua produção. O objetivo inicial é o beneficiamento da própolis em extrato, com qualidade superior e selo de inspeção federal (S.I.F.), possibilitando a distribuição para todo Brasil, que estará disponível no mercado em abril e posteriormente, teremos subprodutos da própolis em sprays, cosméticos e linha pet, com perspectiva próxima, agregar mel, pólen e geleia real.

Trabalhar com apicultura no Brasil não é fácil, pois é necessária uma boa área com vegetação preservada e longe de agrotóxicos e hoje temos a cada ano menos locais e consequentemente menos abelhas. Me pergunto diariamente, até quando vamos aguentar? Hoje as pesquisas já apontam uma realidade alarmante na diminuição de abelhas no mundo, realidade essa subnotificada, pois a grande quantidade de abelhas nativas, solitárias que fazem seus ninhos escondidos em ocos e pequenos espaços, não são totalmente mensuradas, e estas têm um papel de polinização extremamente fundamental para natureza e consequentemente para espécie humana. Outra questão de grande importância, é que os brasileiros têm o costume de consumir mel, própolis, pólen e geleia real como remédio e não como preventivo, forçando o mercado apícola a exportar uma grande parte do que é produzido no Brasil. Outra questão que tenho diariamente em mente é. E se os brasileiros soubessem do valor que os produtos oriundos das abelhas têm? Posso responder com total convicção que todos teriam uma qualidade de vida muito melhor, seriam mais saudáveis com certeza.

Posso dizer que trabalhar com abelhas é um privilégio, pois além de ser um animal que faz um dos maiores papeis de agente polinizador do mundo, também te proporciona produtos de benefícios incomparáveis a saúde, gerando fonte de renda a milhares de famílias, que muitas vezes usavam recursos da natureza sem limitações, e hoje tem uma grande preocupação em preservar, sendo esta, uma das razões quando digo que a apicultura é ferramenta de transformação. Por isso, faço essa ressalva, não há mais tempo de deixar que as ações de preservação sejam feitas pelas próximas gerações, então precisamos atuar agora e também parar de abrir comidas ensacadas, precisamos nos alimentar melhor, colocar mais saúde em nossa mesa diariamente, dar valor aos pequenos produtores, sendo eles pequenos agricultores ou pequenos apicultores. Para finalizar, convido todos os leitores se puderem, a trazer para seu cotidiano mais ações que beneficiem a todos, a reutilizarem mais, a respeitarem mais, a amarem mais e por fim, a plantarem mais flores!