A suplementação alimentar na criação de abelhas Apis mellifera em regiões secas:
Uma Revisão Bibliográfica

Fábio Antunes Arruda1; Thayná Thamires Freire2; Thiago Moreira dos Santos3.
1Médico Veterinário, Mestrado Profissional em Medicina Veterinária (PPGVET) IFNMG – Campus Salinas
2Médica Veterinária, Mestrado Profissional em Medicina Veterinária (PPGVET) IFNMG – Campus Salinas
3Professor do IFNMG – Campus Salinas, Doutor e Orientador do Mestrado Profissional em Medicina Veterinária (PPGVET)
Email contato: thiago.moreira@ifnmg.edu.br

Introdução

Nos últimos anos o número de apicultores vem aumentando consideravelmente em várias regiões do país, devido ao aumento no consumo dos produtos da colmeia. Outro motivo para esse acréscimo é que essa região, assim como em outras do semiárido brasileiro, vem sendo castigada por um ciclo irregular de chuvas, com prolongados períodos de estiagem, provocando perdas nas lavouras e pastagens. Isso não tem sido diferente no semiárido brasileiro, com ciclo irregular de chuvas que provoca perdas nas lavouras e pastagens, desperta a exploração apícola. No entanto, há uma baixa produtividade e grande perda de enxames nos períodos de escassez de floradas (Lira, 2014; LIMA et al., 2016).

Apesar dos fatores favoráveis à exploração da atividade apícola, esta região ainda é marcada pela falta de profissionalização, baixa produtividade e grande perda de colmeias. A falta de recursos alimentares naturais associada à ausência de técnicas de manejo, enfraquecem os enxames e compromete a produção das colmeias (Flores et al., 2018). A carência de técnicas e tipos de alimentos adequados à espécie, principalmente os substitutos do pólen, aliada à falta de recursos financeiros para adquiri-los, são as principais razões para não suplementar as colmeias nos períodos necessários (Lira, 2014). Alguns apicultores que fornecem dietas, apesar de preparadas com ingredientes ricos nutricionalmente, são desestimulados pelo alto custo, baixo desempenho e ou aceitabilidade pelas abelhas (Almeida, 2013).

Com a redução ou falta do fluxo de pólen e néctar, ocorrer a diapausa da rainha, que é uma interrupção da postura, devido a uma redução na produção de geleia real. Se a diapausa durar por mais de 60 dias, haverá uma redução populacional superior a 50% e, consequentemente, o enxame abandonará o ninho (Lengler, 2003). O fenômeno da perda da população é um processo sazonal, advinda de consequências diretas na fisiologia e reprodução das abelhas, podendo ser mitigado por meio de ações como disponibilidade de suplementação alimentar (Morais et al., 2013).

A suplementação alimentar pode ser usada para vários fins, dentre eles estão a estabilização dos enxames em períodos de escassez alimentar e estimulação da postura da rainha, em períodos que antecedem as floradas para proporcionar um aumento da população de abelhas, resultando em uma maior produtividade por enxame na safra seguinte (Pegoraro et al., 2013). Esse aumento de produtividade é justificado, pois, ao entrar no período de floração, as colmeias estando com uma população alta de abelhas em um nível produtivo, não dependem de um período para recuperação (Pereira et al., 2005).

Figura 1 Fornecimento de suplementação energética (xarope de açúcar) + proteica (aminoácido vitamínico).
Figura 1 Fornecimento de suplementação energética (xarope de açúcar) + proteica
(aminoácido vitamínico).

A necessidade de se dispor de um suplemento alimentar energético-proteico, que possa substituir com eficiência o pólen e néctar, ainda é um gargalo na apicultura. Por isso, faz necessário que se busquem novas alternativas, na expectativa de encontrar uma suplementação que seja economicamente viável para suprir as necessidades da exploração apícola.

Por que fazer suplementação alimentar para abelhas?

O néctar se apresenta como uma das principais fontes naturais de carboidratos e o pólen como fonte de sais minerais, proteínas, lipídeos e vitaminas, imprescindíveis no metabolismo das abelhas, podendo ser encontradas, sobretudo em flores nativas e exóticas de cada região (Barros E Pessoa, 2019). O pólen é extremamente essencial nos primeiros dias de vida adulta (abelhas nutrizes), as quais alimentam as larvas e a rainha. A qualidade da dieta do pólen influencia a fisiologia e sobrevivência das abelhas, através das reservas corporais que favorecem o desenvolvimento satisfatório das glândulas hipofaringeanas e cerígenas, para uma boa produção de geleia real, formação dos favos, longevidade e capacidade de forrageamento (Frias et al., 2016).

A escassez de floradas em alguns períodos do ano, junto à falta de suplementação alimentar, reduz a oferta dos alimentos naturais que leva ao enfraquecimento dos enxames e abandono das colmeias. Quando não há um consumo adequado de nutrientes especialmente para as abelhas nutrizes, ocorrem graves consequências, sobretudo na capacidade reprodutiva, propiciando abelhas rainhas com menor capacidade de postura (Dolezal E Toth, 2018; Daiana, Huang E Tarpy, 2019). Além disso, enxames sem reservas diminuem suas populações e apresentam uma resposta tardia ao forrageamento. Quando estão aptos a coletar grandes quantidades de néctar e pólen, a temporada de florada já está no final, prejudicando a produção (Dias, 2017).

Figura 2 Aumento do número de crias após a suplementação alimentar
Figura 2 Aumento do número de crias após a suplementação alimentar

Assim como em outras criações, a de abelhas requer aporte de alimentos externo. Em épocas de escassez de floradas, para que possa exercer plenamente suas funções fisiológicas de manutenção, crescimento, reprodução e produção, as abelhas dependem de suplementação alimentar para potencializar a produtividade das colmeias (Barros et al., 2016).

O fornecimento da suplementação deve ser baseado no calendário apícola da região ou pela observação da quantidade de crias, o estado geral da colmeia, a quantidade e qualidade de néctar e pólen coletados pelas abelhas, (Dolezal E Toth, 2018). Enxames fracos que não recebem suplementação na entressafra podem levar até 50 dias para reestabelecer suas populações a um nível produtivo no período de floradas (Oliveira, 2019). A suplementação, se usada entre 30 e 45 dias antes das floradas, auxilia na redução do enfraquecimento das colmeias, bem como um aumento significativo de sua população, com consequente aumento na produtividade por enxame na safra seguinte (Pegoraro et al., 2013).

O complemento nutricional propicia outros benefícios para as colmeias, além de impedir a desnutrição e estresse, contribui para a prevenção de doenças e ataques de inimigos naturais, proporcionando melhores condições de sobrevivência que implica diretamente na eficiência da produção (Lima et al., 2017).

Esta suplementação pode ser composta de alimentos energéticos ou energético-proteicos, dependendo do objetivo que o apicultor deseja atingir (Flores et al., 2018).

Suplementos alimentares energéticos e proteicos

A suplementação energética, conhecida como suplementação alimentar de subsistência, é utilizada para proporcionar longevidade às abelhas adultas e poder manter as colmeias com elevada densidade populacional. Possui alto teor de carboidratos e pode ser composta por açúcares simples, mel e água, na forma de xarope, invertido ou não, mais ou menos concentrado. (Pinheiro et al., 2009). A inversão do xarope para quebra da sacarose em glicose e frutose, facilita a absorção do alimento pelas abelhas, mas devido ao aquecimento, há um aumento do teor de hidroximetilfurfural (HMF) muito prejudicial à saúde das abelhas, quando em concentração superior a 150 mg/Kg podendo acarretar úlcera intestinal e disenteria (Krainer et al., 2016).

O estímulo primário para a postura em uma colmeia provém da oferta de carboidratos presentes no néctar, no mel ou no açúcar, entretanto, o pólen limita o crescimento das larvas e pupas, pois as crias somente se desenvolverão mediante a oferta de uma alimentação balanceada em energia e proteína (Schafaschek et al., 2008).

Excessos na alimentação artificial estimulante podem comprometer a qualidade do mel a ser colhido na safra subsequente, pois, com o aporte de néctar ao iniciar uma florada, as reservas sobressalentes de xarope depositado nos favos ficarão sem ser consumidas. Assim, no período final da suplementação, os apicultores devem fornecer a quantidade de alimento exata e apenas suficiente para estimular a postura, minimizando a possibilidade de adulteração do futuro mel com sacarose (Wolff, 2007).

Já na alimentação proteica, as abelhas obtêm suporte através do pólen fresco ou armazenado na colmeia em forma de pão de abelha. Aporte proteico é responsável pelo desenvolvimento tanto de músculos, tecidos corporais e glândulas. Além disso, geram reservas corporais para serem posteriormente mobilizadas para diversos fins, uma vez que as abelhas são capazes de transportar estas reservas de um lado a outro do corpo. Se houver períodos críticos em que não existe suporte proteico, as nutrizes não poderão desenvolver suas glândulas hipofaringeanas, com as quais alimentam a rainha e as crias, e as glândulas produtoras de cera, a ponto de as abelhas adultas se verem obrigadas a mobilizar reservas corporais como alternativa para curtos períodos; se a escassez de proteínas se prolongar, encurta-se a vida da colmeia (Nascimento Júnior, 2015).

Para a suplementação proteica, utilizam-se misturas contendo (farinhas de soja, milho, trigo, etc.), levedura de cerveja, suplementos aminoácido-vitamínicos, entre outros. Contudo, alguns autores consideram esses produtos como tóxicos, de baixa aceitabilidade e podem causar mortalidade das abelhas. Algumas rações comerciais já foram desenvolvidas e várias pesquisas têm sido realizadas com o intuito de buscar alimentos alternativos ao pólen (Amaral E Montanha, 2016).

Alguns produtos comerciais sem registros de indicação para abelhas, são utilizados no Brasil por apicultores como substitutos do pólen, tais como: Purilac® (sucedânio para bezerros da marca Purina®); ração MAT, da empresa Cia da Abelha e o Promotor L®, suplemento aminoácido vitamínico do Laboratório Callier (Pereira, 2005; Schafaschek et al. 2008). Nos Estados Unidos e no Canadá utilizam-se substitutos de pólen específicos para abelhas como: Bee-pro e TLS Bee food à base de soja e o Feed-bee (De Jong et al., 2009; Saffari; Kevan; Atkinson, 2010).

Embora importantes, as exigências nutricionais de vitaminas e sais minerais são pequenas e por vezes é difícil determinar a quantidade necessária ou a influência desses no metabolismo dos insetos. O fornecimento de xarope enriquecido com vitamina C e Zinco aumenta a síntese proteica, o peso corporal das abelhas adultas e a quantidade de cria nas colmeias, influencia o sistema imunológico individual e coletivo, aumenta a atividade antioxidante e a longevidade das operárias. O teor de zinco do pólen de uma região pode variar de 5,1 a 340,0 mg kg-1, contudo um teor menor que 30,0 mg kg-1 é insuficiente para manter as colmeias saudáveis. (Andi; Ahmadi, 2014; Zhang et al 2015).

Suplementos aminoácido-vitamínicos com indicação para várias espécies vêm sendo usado para estimular o crescimento de enxames. No entanto, como tem baixos níveis de inclusão no xarope, não fornecem as quantidades de aminoácidos suficientes para balancear nutricionalmente a suplementação, e as pesquisas já realizadas não são suficientes para comprovar a eficácia do seu uso na apicultura (Schafaschek et al. 2008).

Considerações finais

A suplementação alimentar é essencial, especialmente no preparo das colmeias para melhor explorar o potencial das floradas ou diminuir perda de enxames na entressafra. No entanto, essa prática ainda é subutilizada pelos apicultores, devido à falta de informações e produtos específicos para nutrição de abelhas.

Mediante a análise bibliográfica, observa-se que não há um grande número de publicações recentes sobre suplementação alimentar de Apis mellifera. Por isso, são necessários estudos, principalmente a campo, para geração de novos conhecimentos, a fim de contribuir no âmbito científico e tecnológico do manejo alimentar de abelhas.

Referências Bibliográficas

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BARROS, D. C. B, et al. Histórico das abelhas Apis mellifera L. no Brasil e a influência do PROMOTOR L® (suplemento aminoácido vitamínico) em áreas de cria e reserva de alimento. 5ª Jornada Científica e Tecnológica da FATEC de Botucatu 24 a 27 de Outubro de 2016, Botucatu. Faculdade de Tecnologia de Botucatu – SP, 2016.

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