Pesquisa identifica abelha e planta nativas que produzem mel branco

Fonte: https://www.agricultura.rs.gov.br/pesquisa-identifica-abelha-e-planta-nativas-que-produzem-mel-branco – Texto: Elaine Pinto Fotos: Fernando Dias.

Guaraipo é uma abelha sem ferrão nativa das matas de araucárias e da mata atlântica - Foto: Fernando Dias.
Guaraipo é uma abelha sem ferrão nativa das matas de araucárias e da mata
atlântica – Foto: Fernando Dias.

O mel branco, mel monofloral feito a partir do pólen de uma planta predominante, é característico de Cambará do Sul e bastante apreciado pelo sabor delicado. Normalmente é produzido pelas abelhas exóticas europeias, da espécie Apis melifera. No entanto, equipe de pesquisadores da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR), em conjunto com USP, UFSCar, PUC/RS e Ulbra, conseguiu identificar uma espécie de abelha nativa sem ferrão, a guaraipo (Melipona bicolor), que também fabrica este tipo de mel.

A pesquisa conseguiu, ainda, identificar qual a principal planta utilizada para a fabricação do mel branco pelas guaraipos: a árvore carne-de-vaca (Clethra scabra), que, assim como a abelha, é uma espécie nativa da floresta de araucárias da região dos Campos de Cima da Serra. Os resultados foram publicados em artigo na revista científica Biota Neotropica, da Fapesp.

A carne-de-vaca é a principal fornecedora de pólen para a produção de mel branco da guaraipo - Foto: Fernando Dias
A carne-de-vaca é a principal fornecedora de pólen para a produção de mel branco
da guaraipo – Foto: Fernando Dias

“Analisamos cinco espécies de abelha sem ferrão e constatamos que a guaraipo tem mais de 90% de pólen da carne-de-vaca, então essa abelha é quase uma especialista na produção de mel branco”, conta a pesquisadora Sidia Witter, coordenadora da pesquisa. De acordo com ela, no Rio Grande do Sul, tanto a guaraipo quanto a carne-de-vaca estão ameaçadas de extinção. “O que significa que o mel produzido por esta abelha também se encontra ameaçado de extinção”, alerta.

Sidia destaca que a investigação sobre a guaraipo foi uma sugestão de um meliponicultor da região que, a partir das próprias observações, já havia notado que esta espécie de abelha nativa também produzia mel branco. “Conduzimos a pesquisa na propriedade do Sélvio Carvalho, que é um apicultor conservacionista que cria abelhas sem ferrão em Cambará do Sul. Foi a partir do conhecimento dele que fomos buscar a identificação dos pólens que davam origem a esse mel branco. Esse trabalho já está sendo realizado há vários anos na propriedade desse apicultor, mostrando uma parceria entre o pesquisador e o produtor”, detalha.

Este estudo pode subsidiar a indicação geográfica na forma de Denominação de Origem (DO) para Mel Branco de Cambará do Sul. Denominação de origem é o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território, que designe produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos.

Extração de mel branco do ninho de guaraipo - Foto: Fernando Dias
Extração de mel branco do ninho de guaraipo – Foto: Fernando Dias

Meliponicultura sustentável

As descobertas feitas pelas pesquisas com a guaraipo em Cambará do Sul trouxeram desdobramentos para novos projetos de pesquisa, que estão atualmente em fase de captação de recursos. O escopo destas pesquisas aborda desde a biologia e ecologia das guaraipos, passando pela análise físico-química dos méis produzidos pelas abelhas sem ferrão, até a produção de mudas de carne-de-vaca.

Conforme Sidia, a ideia é promover a meliponicultura sustentável utilizando abelhas e plantas nativas para diversificar a produção agrícola e agregar renda à propriedade rural. “As abelhas sem ferrão são muito presas às condições ecológicas das regiões que elas habitam, então a finalidade é conservar as abelhas nas áreas de ocorrência natural, mas pensando também numa forma de o meliponicultor agregar renda à pequena propriedade”, conclui.