Mel: saúde e alegria
Clau Gavioli (ou Maria Cláudia Gavioli) é jornalista, mestre em hospitalidade e pesquisadora de comida. Ela é editora do site e apresentadora do podcast Minestrone (http://www.minestrone.com.br).

A alimentação é uma ação vital aos seres vivos e aos humanos é também cultural porque a relação com o alimento se refere aos aprendizados desde o nascimento. Comemos o que o nosso grupo social nos ensina que é comestível. Como onívoros que somos, escolhemos entre diversas possibilidades de alimentos, os que aprendemos sendo comida. Consideraremos então como alimento tudo o que seria possível comer e comida o que de fato escolhemos para entrar no nosso sistema digestório.
Conforme nos ensinam o que comer vivemos experiências que podem resistir ao tempo de toda nossa existência como memórias afetivas em nosso corpo físico e nas nossas emoções. Por isso, durante toda vida, sempre haverá comidas que enternecem e alegram enquanto outras chegam a causar repulsa e mal estar.
Observamos principalmente entre os mamíferos, mas também em outros animais, como se dão as relações de proteção, segurança e afeto. Os filhotes necessitam desses itens para um desenvolvimento satisfatório de seus instintos e percepções sobre o meio, assim como precisam dos alimentos.
Interessante é notar como a comida carrega consigo esses significados entre os humanos. Por exemplo, pense em situações em que um chá ou um simples copo d’água com açúcar nos acalmou diante de um susto ou perigo; de como uma canja de frango aliviou a dor do luto; aquela colherzinha de mel interrompeu uma tosse incessante; e, quem não se viveu, um café da tarde na casa da avó que estancou as lágrimas por uma nota baixa na prova ou por causa do fora no namoro.

Você pode pensar que se trata de mera relação de causa e efeito na qual os princípios ativos de cada ingrediente mencionado levam aos resultados atingidos, o que não posso negar com veemência. De fato, a camomila tem propriedades calmantes e o mel, adstringentes e anti-inflamatórias. Contudo, prefiro ainda considerar resultados que vão além da ação dos flavonoides, triptofanos, antiocioninas e antioxidantes de qualquer ordem que sabemos existir nos alimentos. Para além do nível físico-químico, acredito no caráter simbólico, fruto da memória afetiva de cada indivíduo que lhe é dada pela cultura alimentar de seu grupo.
Previamente à ideia de gastronomia como a percebemos, ou seja, tendo sido sistematizada na França dos séculos XVIII e XIX e levando em conta ingredientes, técnicas, modos e comportamentos à mesa, assim como a glamourização, os estudiosos da alimentação associavam o que comíamos diretamente aos humores e à saúde. Atualmente, a gastronomia funcional, de certo modo, resgata essa associação entre o que se come e de que modo isso interfere na saúde física e emocional.
Há poucas situações em que não se recomenda o consumo do mel e seus associados: para bebês até os 18 meses devido a formação do sistema digestório ainda incompleta nessa fase, para diabéticos, alérgicos e intolerantes a frutose.
O mel é ingrediente que pode nos acompanhar todas as refeições, do desjejum ao chazinho antes de se deitar para dormir. Sua doçura está tanto nos açúcares que contém, como nas informações dietéticas e emocionais que aprendemos, o que comprovadamente faz dele é uma opção relevante para ter mais saúde e alegria.