SEGREDOS NO MANEJO DAS CASTAS NAS ASF
Prof. Harold Brand – Biólogo – Geneticista (Titular aposentado da PUC) – Meliponicultor
Muitos meliponicultores por falta de informações, são malsucedidos ao dividirem as suas abelhas, ao ignorarem a ausência de uma das castas em certas épocas do ano, outros ao introduzirem abelhas exóticas após algum tempo amargam a perda, há aqueles que desejam saber se os enxames naturais são melhores do que os produzidos artificialmente. Essas e muitas outras questões são intimamente relacionados aos mecanismos da formação das castas nas Asf, o que se faz necessário esse conhecimento, aplicado ao manejo.
Os mecanismos genéticos na formação das castas, seguem dois mecanismos distintos nas ASF e que ao mesmo tempo, são características importante e diferentes entre as Trigonas e as Melíponas.
Formação de Princesas nas Trigonas
A geração de princesas nas Trigonas é semelhante a abelha Apis, uma larva ao receber alimento em abundância irá desenvolver os órgãos reprodutivos. Toda a larva diploide, na sua programação genética tem as informações para formação de princesa, mas irá desenvolver, se tiver a quantidade de alimento adequado.
Semelhança entre a Abelha Doméstica (Apis) e as Trigonas.
Na abelha doméstica (Apis), basta coletar qualquer larva (diploide) e colocá-la em um alvéolo artificial com muita geleia real, para desenvolver uma princesa. Essa experiência demonstra que, todas as larvas têm a mesma programação genética para desenvolver uma princesa. Prova, o que restringe atividade desses genes limitados ao sexo é a questão alimentar. Nas Trigonas a resposta genética para o desenvolvimento dos órgãos reprodutores femininos é semelhante, a cápsula alveolar especial tem muito mais alimento.
Formação de Princesas nas Meliponas
Ao longo da história do conhecimento do gênero melípona, dois pesquisadores se destacaram nas observações e nas pesquisas da formação das castas reprodutivas dessas abelhas, o naturalista alemão Rudolf Von Ihering e o pesquisador brasileiro Warwick Estevan Kerr. (Nota: as suas publicações podem serem encontradas nos arquivos do (American Museu of Natural History).
O Resumo Dessas Observações e as Suas Aplicações para o Meliponicultor Atuante.
1 – A Formaçâo das Princesas não é um Processo Continuo
Realmente nos meus meliponários na capital mais fria do país, princesas são geradas entre os meses compreendidos de setembro a abril, muito raramente entre a outros meses. O que explicaria o fracasso ao tentar a divisão a não observância desse calendário.
2 – Não Existe um Local Específico no Disco de Cria Onde se Formam as Princesas
Os alvéolos onde estão se desenvolvendo as futuras princesas é completamente aleatório na sua distribuição no disco de cria.
No disco de cria nascente é fácil identificar nas cápsulas alveolares as pupas princesas, elas têm cabeças e olhos menores do que as operárias. Com essa técnica podemos demonstrar também que a posição que ocupam no disco é aleatório, não existe uma localização definida
3 – São Dois os Mecanismos Genéticos na Determinação das Castas, Princesas e Operárias
Nas melíponas pequenas formam mais rainhas do que nas melíponas grandes. Nas melíponas pequenas, o processo é regido por dois pares de genes limitados ao sexo, nas grandes por três, o que justifica a diferença numérica na formação de princesas.
Proporção de Nascimento de Princesas;
Melíponas grandes, como as uruçus a percentagem é 11 por cento de princesas. Melíponas pequenas, como a manduri a porcentagem é 25 por cento de princesas. Portanto, embora as diferenças, em ambos os casos, o número é muito grande de princesas, particularmente nas pequenas.
Nota: importante para o meliponicultor: esse esquema funciona exemplarmente bem nas altas estações florais, entretanto na ausência e nas baixas floradas nascem poucas e mesmo nenhuma princesa.
4 – As Abelhas Eliminam Muitas Princesas no Nascimento ou Logo Após Eclosão
As minhas experiências com a abelha jataí mostram um indicativo que os enxames naturais capturados na área da abrangência do meliponário, tem respostas adaptativas melhores do que os enxames obtidos por divisões artificiais.
5 – Von Ihering
Este iminente pesquisador alemão que permaneceu no Brasil por muitos anos pelas suas observações, postulava que a formação de princesa e zangão na mesma colmeia não coincide, o que, inviabiliza pela própria natureza o cruzamento consanguíneo.
Nota: Portanto, é de bom alvitre para o meliponicultor que pretenda introduzir uma espécie exótica inicie o seu projeto com muitas famílias e de tempo em tempo troque disco de cria com outro meliponicultor que tenha a mesma espécie.
6 – Tempo da Metamorfose
Nos dois grupos de abelhas as bifatoriais e as trifatoriais as princesas eclodem antes das operárias (levam menos tempo na metamorfose).
Fácil para o meliponicultor identificá-las ao e comparar as duas, a princesa é menor e diferencia ainda da operária pela cor mais escura do abdômen.
Nota: nas Trigonas as princesas levam mais tempo para nascer em relação as operárias e já nascem com os órgãos reprodutivos completos, portanto aptas a serem fecundadas.
Formação do Zangão
A formação é um processo irregular, tanto nas trigomas como nas melíponas, o mecanismo é complexo pois além da rainha eles podem serem gerados também por algumas das operárias.
Nota; no mês de agosto somente poucas colmeias de mandaçaia formam número reduzidos de zangões, mas, irão aumentando a quantidade até final do verão. No inverno a presença é extremamente rara.
Lembrando ainda que o zangão para se tornar macho fértil, deve partir da colmeia para desenvolver a sua sexualidade e nos meses frios sem abrigo das colmeias a pressão seletiva é maior, só os bons sobrevivem, são verdadeiros mártires da seleção genética.
Nota Final: O meliponicultor poderá facilmente identificar uma operária ou princesa, basta escolher um disco nascente e retirar delicadamente a “tampinha” de uma cápsula alveolar e observar o tamanho da cabeça e os olhos, na princesa ambos pequenos e nas operárias a cabeça ocupa todo espaço e olhos grandes.