SEGREDOS NO MANEJO DAS CASTAS NAS ASF
Prof. Harold Brand – Biólogo – Geneticista (Titular aposentado da PUC) – Meliponicultor
Tanto nas culturas de plantas como na criação de animais a eficiência no manejo depende das aplicações do conhecimento em genética, a meliponicultura em particular, não foge à regra. Neste artigo, a minha proposta é repassar o conhecimento dos pesquisadores que ao longo do tempo se dedicaram nas observações e estudos na formação das castas, mas também, a minha observação na aplicação desses conhecimentos no manejo diário, como as 28 espécies de ASF do meu meliponário.
Muitos meliponicultores por falta de informações, são malsucedidos ao dividirem as suas abelhas, ao ignorarem a ausência de uma das castas em certas épocas do ano, outros ao introduzirem abelhas exóticas após algum tempo amargam a perda, há aqueles que desejam saber se os enxames naturais são melhores do que os produzidos artificialmente. Essas e muitas outras questões são intimamente relacionados aos mecanismos da formação das castas nas Asf, o que se faz necessário esse conhecimento, aplicado ao manejo.
Os mecanismos genéticos na formação das castas, seguem dois mecanismos distintos nas ASF e que ao mesmo tempo, são características importante e diferentes entre as Trigonas e as Melíponas.
Formação de Princesas nas Trigonas
A geração de princesas nas Trigonas é semelhante a abelha Apis, uma larva ao receber alimento em abundância irá desenvolver os órgãos reprodutivos. Toda a larva diploide, na sua programação genética tem as informações para formação de princesa, mas irá desenvolver, se tiver a quantidade de alimento adequado.
Semelhança entre a Abelha Doméstica (Apis) e as Trigonas.
Na abelha doméstica (Apis), basta coletar qualquer larva (diploide) e colocá-la em um alvéolo artificial com muita geleia real, para desenvolver uma princesa. Essa experiência demonstra que, todas as larvas têm a mesma programação genética para desenvolver uma princesa. Prova, o que restringe atividade desses genes limitados ao sexo é a questão alimentar. Nas Trigonas a resposta genética para o desenvolvimento dos órgãos reprodutores femininos é semelhante, a cápsula alveolar especial tem muito mais alimento.
Formação de Princesas nas Meliponas
Ao longo da história do conhecimento do gênero melípona, dois pesquisadores se destacaram nas observações e nas pesquisas da formação das castas reprodutivas dessas abelhas, o naturalista alemão Rudolf Von Ihering e o pesquisador brasileiro Warwick Estevan Kerr. (Nota: as suas publicações podem serem encontradas nos arquivos do (American Museu of Natural History).
O Resumo Dessas Observações e as Suas Aplicações para o Meliponicultor Atuante.
1 – A Formaçâo das Princesas não é um Processo Continuo
Realmente nos meus meliponários na capital mais fria do país, princesas são geradas entre os meses compreendidos de setembro a abril, muito raramente entre a outros meses. O que explicaria o fracasso ao tentar a divisão a não observância desse calendário.
2 – Não Existe um Local Específico no Disco de Cria Onde se Formam as Princesas
Os alvéolos onde estão se desenvolvendo as futuras princesas é completamente aleatório na sua distribuição no disco de cria.
No disco de cria nascente é fácil identificar nas cápsulas alveolares as pupas princesas, elas têm cabeças e olhos menores do que as operárias. Com essa técnica podemos demonstrar também que a posição que ocupam no disco é aleatório, não existe uma localização definida
3 – São Dois os Mecanismos Genéticos na Determinação das Castas, Princesas e Operárias
Nas melíponas pequenas formam mais rainhas do que nas melíponas grandes. Nas melíponas pequenas, o processo é regido por dois pares de genes limitados ao sexo, nas grandes por três, o que justifica a diferença numérica na formação de princesas.
Proporção de Nascimento de Princesas;
Melíponas grandes, como as uruçus a percentagem é 11 por cento de princesas. Melíponas pequenas, como a manduri a porcentagem é 25 por cento de princesas. Portanto, embora as diferenças, em ambos os casos, o número é muito grande de princesas, particularmente nas pequenas.
Nota: importante para o meliponicultor: esse esquema funciona exemplarmente bem nas altas estações florais, entretanto na ausência e nas baixas floradas nascem poucas e mesmo nenhuma princesa.
4 – As Abelhas Eliminam Muitas Princesas no Nascimento ou Logo Após Eclosão
Explica o fato de formarem muitas, mas avistamos poucas ao manejá-las. Entretanto fica uma dúvida não esclarecida pelos ilustres pesquisadores, se a morte de muitas princesas pelas operárias seria um mecanismo de seleção por parte das abelhas? Se afirmação for positiva, ou seja, deixam sobreviver as mais aptas, nesse caso devemos admitir que os enxames naturais são melhores geneticamente das feitas artificialmente pelo meliponicultor?
As minhas experiências com a abelha jataí mostram um indicativo que os enxames naturais capturados na área da abrangência do meliponário, tem respostas adaptativas melhores do que os enxames obtidos por divisões artificiais.
5 – Von Ihering
Este iminente pesquisador alemão que permaneceu no Brasil por muitos anos pelas suas observações, postulava que a formação de princesa e zangão na mesma colmeia não coincide, o que, inviabiliza pela própria natureza o cruzamento consanguíneo.
Esse posicionamento do pesquisador explicaria a dificuldade de criação das abelhas não endêmicas. O meliponicultor ao introduzir uma família exótica não consegue manter essas abelhas, pela impossibilidade em no decorrer do tempo, da mesma substituir a rainha fisiogástrica.
Nota: Portanto, é de bom alvitre para o meliponicultor que pretenda introduzir uma espécie exótica inicie o seu projeto com muitas famílias e de tempo em tempo troque disco de cria com outro meliponicultor que tenha a mesma espécie.
6 – Tempo da Metamorfose
Nos dois grupos de abelhas as bifatoriais e as trifatoriais as princesas eclodem antes das operárias (levam menos tempo na metamorfose).
Fácil para o meliponicultor identificá-las ao e comparar as duas, a princesa é menor e diferencia ainda da operária pela cor mais escura do abdômen.
Ao eclodir a princesa não está apta a fecundação, levam vários dias ainda para desenvolver os órgãos sexuais.
Nota: nas Trigonas as princesas levam mais tempo para nascer em relação as operárias e já nascem com os órgãos reprodutivos completos, portanto aptas a serem fecundadas.
Formação do Zangão
A formação é um processo irregular, tanto nas trigomas como nas melíponas, o mecanismo é complexo pois além da rainha eles podem serem gerados também por algumas das operárias.
Nota; no mês de agosto somente poucas colmeias de mandaçaia formam número reduzidos de zangões, mas, irão aumentando a quantidade até final do verão. No inverno a presença é extremamente rara.
Lembrando ainda que o zangão para se tornar macho fértil, deve partir da colmeia para desenvolver a sua sexualidade e nos meses frios sem abrigo das colmeias a pressão seletiva é maior, só os bons sobrevivem, são verdadeiros mártires da seleção genética.
Nota Final: O meliponicultor poderá facilmente identificar uma operária ou princesa, basta escolher um disco nascente e retirar delicadamente a “tampinha” de uma cápsula alveolar e observar o tamanho da cabeça e os olhos, na princesa ambos pequenos e nas operárias a cabeça ocupa todo espaço e olhos grandes.