Missão: ensinar
Por Tânia Soares.
Adriana Abdelnur, instrutora dos cursos de Apicultura e Meliponicultura mantidos pelo SENAR, fala sobre sua trajetória no ensino e a importância da divulgação do conhecimento técnico para a evolução da atividade
Para Adriana Abdelnur o trabalho com as abelhas é mais do que uma atividade profissional: é lazer, prazer, terapia e missão de vida. “A apicultura e meliponicultura fazem parte do meu dia a dia, um aprendizado diário, uma atividade prazerosa, embora às vezes cansativa”, conta a instrutora. “É muito gratificante estar sempre em contato com a natureza e poder se surpreender toda vez com a atividade, e a organização e o cooperativismo de nossas amiguinhas aladas”.
Graduada em Zootecnia pela Escola Superior de Agricultura de Lavras (ESAL-MG), atual Universidade Federal de Lavras, com pós-graduação em Nutrição e Produção Animal, e mestrado em Apicultura pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu, na área de Armazenamento e Qualidade do Mel, Adriana Abdelnur ministra os cursos de Apicultura e Meliponicultura oferecidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) no estado de São Paulo, ajudando a formar dezenas de novos apicultores e meliponicultores, além de contribuir com o desenvolvimento de diversos praticantes já experientes, que melhoram seu manejo graças ao aprendizado de técnicas mais eficientes.
Nesta entrevista, Adriana conta um pouco de sua trajetória pessoal, seus desafios como apicultora e o importante papel dos cursos livres na profissionalização da atividade em nosso País.
Mensagem Doce – Conte-nos como você se iniciou na Apicultura.
Adriana Abdelnur – Iniciei na Apicultura bem antes de ingressar na faculdade, por volta de 1980, acompanhando meu irmão mais velho, que trouxe a novidade para casa. Naquela época, eu o acompanhava por curiosidade. Mais tarde ele parou e eu dei continuidade com a brincadeira que virou paixão e depois profissão.
MD – E quando se iniciou no ensino?
AA – Minhas atividades no ensino com as abelhas tiveram início junto ao Sebrae e Instituto Biosistêmico (IBS), onde atuava a campo, visitando propriedades e ministrando palestras para os apicultores, em 2004. Na época, já atuava no SENAR como instrutora de olericultura orgânica, fui convidada também a ministrar o Programa de Apicultura, onde atuo até hoje.
MD – Como criadora, quais são seus maiores desafios? E como instrutora?
AA – Como apicultora, meu maior desafio no momento é a implantação da Casa do Mel na minha propriedade, com o Selo de Inspeção Municipal (SIM), para ter o produto regularizado no mercado. Já como instrutora é fazer com que o apicultor ou iniciante na apicultura consiga entender a importância das abelhas e de seus vários produtos, não só o mel, mas a própolis, o pólen, a cera, a geleia real e a polinização, que é de fundamental importância para nós e nossa sobrevivência no planeta, e que o aprendiz tenha assim condições de montar seu apiário, respeitando as abelhas e produzir para viver bem.
MD – Em sua visão, qual a importância dos cursos livres de Apicultura/Meliponicultura?
AA – É fundamental levar o conhecimento e a importância das abelhas e seus produtos para o maior número de pessoas possível, possibilitando assim aumentar a preservação do meio ambiente, bem como gerar renda e melhorar a qualidade da alimentação. São cursos práticos que possibilitam um contato direto do público com as colmeias e seus produtos.
MD – Qual o perfil geral das pessoas que procuram os cursos? A que fatores você atribui essa procura?
AA – Muitos procuram os cursos pois já estão envolvidos de alguma forma na área e querem aumentar ou aperfeiçoar o conhecimento. Outros são iniciantes que de alguma forma se interessaram e querem adquirir conhecimento antes de investir, possuem propriedade e sabem da importância da abelha, ou querem uma opção a mais de renda. Temos ainda um público de interesse exclusivo pelo preço do mel.
Quando preço está em alta, muitos querem se tornar apicultores, geralmente esses têm um perfil que não combina com a atividade, normalmente não permanecem por muito tempo.
MD – E qual o papel do SENAR neste contexto?
AA – A Apicultura e Meliponicultura vem cada vez mais se destacando em cursos e atividades práticas para o público em geral. A procura e participação pelos apicultores é grande, o que favorece a organização das atividades, melhora a produção e a comercialização. O SENAR tem papel de destaque na área, atuando a campo, junto ao produtor, em todo o estado, levando até ele teoria e prática, o que é de fundamental importância para a estruturação e sucesso da atividade. Aprender fazendo!
MD – Você percebe alguma influência das campanhas ambientais pela conservação das abelhas na procura por cursos de Apicultura/Meliponicultura?
AA – Com certeza as mudanças ambientais assim como agrotóxicos chamam muito a atenção para a apicultura e as abelhas de um modo geral, e é muito bom que isso aconteça, pois quanto mais pessoas se envolverem e se preocuparem com questões tão sérias e que afetam a todos como essa grande mortalidade que vem ocorrendo, maiores as chances de preservarmos quem é tão importante e fundamental para nossa existência, nossas insubstituíveis abelhas.
MD – Como você prepara suas aulas? Que aspectos da Apicultura/Meliponicultura são mais difíceis de ensinar e de aprender?
AA – Como trabalhamos com público misto e conhecimento de níveis variados, procuro sempre conhecer um pouco da realidade de cada participante para direcionar o assunto abordado na teoria e na prática de forma que fique acessível e fácil de ser aplicado no dia a dia. Não vejo um aspecto que diria difícil ou fácil, para ensinar ou aprender, mas o que me chama mais a atenção e me fascina é o comportamento das abelhas. Na verdade, e um privilégio trabalhar com elas e só quem convive sabe do que estou falando!
MD – Poderia compartilhar alguma história de sucesso de participantes dos cursos?
AA – Casos de sucesso acontecem em todos os cursos sem exceções, onde vemos apicultores experientes aumentando suas produções a partir de implementação de novas técnicas ou simplesmente no ajuste do manejo, novatos montando seus apiários, alguns mudando o tipo de produção pois passa a olhar com outros olhos sua região e possibilidades. Temos apicultores que só produziam mel e nem sabiam da possibilidade do uso da própolis e do pólen. Após os cursos, redirecionaram as atividades observando que a região era mais propícia a outra atividade. Apicultores que passaram a produzir hidromel como complemento de renda e derivados como velas e sabonetes.
MD – Podemos dizer que os cursos ajudam os apicultores a evoluir?
AA – Sem dúvida. A maioria dos participantes que já possuem apiário conseguem pelo menos dobrar sua produção após adaptar as técnicas de manejo aprendidas e colocadas em práticas em pouco tempo de produção. Iniciantes concluem o curso e se realizam com o apiário já em andamento e início de produção, o que é considerado um sucesso. Leonardo e Jéssica, jovens apicultores de Avaré, após o curso, juntamente com os outros participantes, fundaram a Associação de Apicultores de Avaré e Região, estão com a Casa do Mel, o SIM e comercialização local. Já aproveito para dar parabéns ao grupo!
MD – Em sua opinião, como as entidades do setor poderiam contribuir com o desenvolvimento da Apicultura?
AA – Acredito que a atividade poderia crescer se houvesse maior incentivo ao consumo interno dos produtos das abelhas, fortalecendo a ideia de que o mel é um alimento de riquíssimo valor nutricional, devendo ser consumido como tal, e não simplesmente ser tratado como “remédio”, quando se tem resfriado. Havendo maior divulgação e facilitando a acesso do mel as merendas, e a população mais carente aumentando assim o consumo, a produção e o desenvolvimento da atividade.