Melhoramento genético massal nas abelhas sem ferrão
Prof. Harold Brand – Ex titular de Genética da PUC – Biólogo – Meliponicultor – Consultor da APA.
Profharold brand@gmail.com
Quando falamos em melhoramento genético já imaginamos um laboratório com equipamentos complexos e uma infinidade de cientistas manipulando cromossomos e DNA. Essa imagem é exatamente inversa no caso da manipulação massal. Ela pode ser feita sem grandes dificuldades pelo médio e grande meliponicultor para isso basta ter boa vontade e critério na seleção das características desejáveis.
O meliponicultor que trabalha com muitas famílias da mesma espécie provenientes de várias regiões, pode observar muitas diferenças entre elas. Podemos citar como exemplo o meliponário de Piraquara formadas por muitas famílias de mandaçaias oriundas de várias localidades abrangendo regiões do Rio Grande do Sul até ao Espírito Santo. Elas embora mantidas nas mesmas condições tenham algumas diferenças entre si bem notórias, no tamanho das suas populações na quantidade de própolis formada, no volume de mel produzido, nos aspectos morfológicos e comportamentais. (ver artigo, Variabilidade fenotípicas das abelhas nativas publicado na Mensagem Doce 143).
Nota: Geneticamente é fácil entender as diferenças uma vez que essas abelhas permaneceram isoladas no seu habitat particular por muito tempo.
Na prática, como utilizar melhor as diferenças em nosso benefício e das abelhas? Qual das características interessa mais o meliponicultor? Nem sempre é fácil fazer a escolha, podemos cometer alguns erros no direcionamento da seleção. Exemplificando, algumas famílias de mandaçaias chegam produzir 6 kg de geoprópolis por ano, o consumo energético despendido pelas abelhas nesta função é muito alto, ele poderia ser usado pelas abelhas no aumento da produção de mel. O raciocínio aparentemente correto até o momento da descoberta de certas substâncias na geoprópolis de interesse na produção de cosméticos.
“Nota: a produção de geoprópolis é condicionada por dois pares de genes de comportamento mendeliano com efeito acumulativo”. Através de seleção Massal foi conseguido famílias praticamente sem geoprópolis. Recentemente nosso colega meliponicultor em seu meliponário junto ao parque Santa Híllaire descobriu a própolis azul produzido exclusivamente pelas mandaçaias e que o mesmo tem valor na produção de cosméticos. Esse exemplo nos mostra que o critério de seleção deve ser previamente muito bem avaliado. As perguntas a ser respondido, o que queremos realmente das nossas abelhas? Mel? Própolis? Polinização? Obtenção de medicamentos (mel expresso)? A seleção massal nas abelhas é relativamente simples uma vez que as abelhas rainha têm o dobro do material genético do zangão. Além disso, a rainha com as características desejadas é fácil de obter, pois basta retirar um disco de cria nascente (ou uma realeira no caso das Trigoninis) de uma colmeia com as características desejadas. Esse disco nos fornecera muitas rainhas geneticamente potencializadas. A descendência masculina dessa rainha selecionada herdará exclusivamente o seu patrimônio genético e que por sua vez irá aumentar a frequência de machos melhor dotados. A descendência feminina dessa rainha terá a metade do seu patrimônio e a outra metade aleatória dependendo do zangão que a fecundou.
Em resumo: A seleção massal no melhoramento genético tem por objetivo o aumento da frequência dos alelos favoráveis ou desejáveis baseado apenas no fenótipo dos organismos manipulados. Preparação da Família Mãe no Manejo do Melhoramento Massal. A futura família mãe deve ser escolhida entre as colmeias que tenha como característica grande número de abelhas. Ela permanecerá no seu local, onde receberá o modulo preparado com os discos de cria nascentes selecionados de outra colmeia.
Divisão Propriamente Dita
Nessa etapa do desenvolvimento se tivermos curiosidade podemos abrir uma pequena abertura no revestimento e observar no seu interior um conjunto de abelhas recém eclodidas e também de outras faixas etárias e uma ou mais abelhas de abdômen menor e escuro as princesas (no caso da tribo Meliponini). Nesse momento o modulo se torna apto a ser separada da caixa mãe. A separação é muito simples basta colocar o módulo 3 sobre a base (módulo 1). Este conjunto assim formado constituirá a colônia filha. A remanescente caixa mãe (módulo 2) receberá um novo modulo base e será transportada a outro local.
Essa manobra não danifica nenhuma estrutura e, portanto não vai despertar o interesse dos forídeos. (essas moscas são apenas predadores oportunistas). Esse procedimento permite que a colônia filha com o disco selecionado tenha abelhas de todas as faixas etárias, novas, mais velhas e inclusive campeiras da caixa mãe. O resultado é uma população em perfeito equilíbrio, com as abelhas realizando todas as funções.
Acompanhamento;
Duas semanas após a separação é interessante colocar um novo disco de cria nascente destinado a fornecer abelhas novas para manter o equilíbrio das faixas etárias. Esse novo disco suplementar pode ser retirado de uma colônia sem interesse genético, pois só fornecera operárias.