Preservando a jataí da terra (Paratrigona subnuda) em áreas urbanas
Marilda Cortopassi-Laurino (mclaurin@usp.br);
Gerson Pinheiro (gersonpinheiro@sosabelhassemferrao.com.br)
As abelhas jataí da terra são pouco conhecidas porque são abelhas pequenas e que nidificam sempre no solo tornando seus ninhos difíceis de visualizar e que só são descobertos quando da atividade externa das suas abelhas. Visitam como os outros meliponineos grande diversidade de plantas as quais, provavelmente também polinizam. Faltam estudos nesta direção.
Por serem estes ninhos quase invisíveis aos olhos urbanos é que são raros os registros da sua preservação.
Um deles, alojado numa calçada de casa que estava sendo demolida foi transferido para colmeia de barro adaptado por Gerson Pinheiro para esta espécie e que sobrevive com sucesso há dois anos. Este ninho estava a um metro de profundidade e tinha não mais que 20 cm de diâmetro.
A colmeia para as jataí da terra foi feita pensando nas características das espécies que nidificam no solo, cujo material mais próximo e que conseguiria trabalhar seriam os potes de barro. Para esta colmeia foram utilizados dois potes de tamanhos diferentes, sendo um dentro do outro e com espaço entre eles, inclusive no fundo, e que foram preenchidos com terra simulando como são encontrados na natureza. A preocupação principal foi tentar simular o máximo possível o ambiente natural, inclusive na metragem do túnel de acesso ao ninho que foi feito interligando os vasos de barro com canos de PVC na medida de 20 milímetros. O destaque foi adaptar um vaso, no caso, de metal, com terra do local do resgate bem na saída do tubo de acesso ao ninho. Uma coisa bem bonita de se ver foi o quanto elas aceitaram e protegeram toda a colmeia.
Outro ninho, na calçada quebrada do Parque da SABESP na avenida Doutor Arnaldo, SP correu o mesmo perigo pela reconstrução do calçamento. Um primeiro ímpeto foi retirar o ninho imediatamente antes que fosse soterrado pelo concreto e então o SOS abelhas sem ferrão foi acionado, pois para escavar perto de um metro de profundidade é necessário ajuda de ferramentas adequadas e braços fortes. Entretanto, como compromissos do SOS adiaram a ação para o outro fim de semana, outra ideia foi tomando corpo: porque não deixar o ninho no seu local de origem e solicitar que o seu entorno fosse preservado? Afinal, trocar o ninho de local sempre é um risco mesmo que com experiência exitosa anterior.
E assim foi feito. Conversa telefônica com o responsável pela obra da SABESP, Ricardo Spindola, e a presença no local do engenheiro Sergio Barbosa promoveram o salvamento deste ninho através de uma ideia simples: a extensão da faixa de gramado da calçada. Missão cumprida e comprida porque durante todo o processo, todos os dias, eram avisados os funcionários novos ou passava por lá alertando para terem cuidado com aquele ninho tão invisível. Com todo este movimento, atualmente, até os funcionários do parque já encontraram novos ninhos destas abelhas. A divulgação é chave na preservação.
Valeu o esforço!
Fica o pensamento: sempre é melhor pensar uma solução para manutenção do ninho no seu local de origem porque foi uma escolha das próprias abelhas aquele ambiente, o que nem sempre coincide com os locais que os humanos as colocam.