Considerações técnico-cientificas sobre o 46º.Congresso Internacional de Apicultura da Apimondia Montreal-Canadá.
Lionel Segui Gonçalves1 e Darcet Costa Souza2 – 1USP/Ribeirão Preto/UFERSA-Mossoró-RN;
E-mail:lsgoncal@ffclrp.usp.br – 2UFPI/Teresina-PI; E-mail: darcet.pi@gmail.com
A apicultura internacional teve a oportunidade de reunir, em Montreal-Canadá, de 8 a 12 de setembro de 2019, seus principais representantes entre apicultores, meliponicultores, pesquisadores, técnicos apícolas, visitantes e representantes de organizações associativas apícolas dos 134 países bem como os membros da comissão organizadora local, membros das distintas Comissões científicas permanentes da APIMONDIA e membros da diretoria da APIMONDIA.
Desta vez o congraçamento reuniu mais de 5.000 participantes que puderam se confraternizar, trocar e enriquecer conhecimentos apícolas bem como entabular negociações comerciais mediante um rico e bem organizado programa de atividades desenvolvidas no amplo e confortável “Palais des Congrès de Montréal”.
O Brasil se fez representar oficialmente pelo Presidente da Confederação Brasileira de Apicultura, Sr. José Soares de Aragão Brito, pela Diretora da Comissão Científica da CBA, Sra. Lidia Maria R.C.Barreto e por vários pesquisadores brasileiros integrantes da programação científica da Apimondia-2019, inclusive pelo Membro Honorário da Apimondia e, até aquele momento, membro da Comissão Internacional Permanente de Biologia da Apimondia , Prof. Dr. Lionel Segui Gonçalves. No entanto, devemos também lembrar que, infelizmente desta vez não podemos registrar a presença sempre frequente nesse evento internacional, de um ativo representante da apicultura brasileira, que muitas vezes representou a CBA nos congressos da Apimondia, o nosso querido e saudoso amigo, Dr. Constantino Zara Filho, Presidente da APACAME, que muito fez pelo associativismo apícola brasileiro, falecido ano passado e a quem rendemos aqui nossa homenagem póstuma.
A programação do evento, além da cerimônia de abertura, caracterizou-se pelo alto nível técnico científico, contando com aproximadamente 100 conferencistas provenientes de 25 países membros da Apimondia, quatro conferências maiores (keynote conferences), 49 Simpósios, 9 Workshops, 7 Mesas Redondas, 940 Resumos de congressos apresentados como Posters ou Apresentações Orais, todas atividades distribuídas em oito distintas áreas (Economia, Biologia, Saúde das abelhas, Polinização, Tecnologia, Apiterapia, Desenvolvimento e Temas Transversais) além de 260 expositores de 55 países participantes da concorrida Api-Expo-2019 com aproximadamente 4.000 m2 de área para a exposição de materiais e implementos apícolas, produtos das abelhas, artesanatos com motivos apícolas, materiais educacionais, livros, revistas bem como uma rica apresentação de equipamentos apícolas.
Na Api-Expo-2019 houve o tradicional Concurso Internacional de Produtos das abelhas, Inovações e Invenções com exposição pública de todo material inscrito e uma cerimônia de divulgação das premiações (WBA-World Beekeeping Awards Ceremony).
Em relação as premiações queremos orgulhosamente comentar que felizmente mais uma vez o Brasil participou do grande pedestal de destaque de premiações pela Apimondia.
Desta vez tivemos, no total, oito medalhas sendo 3 de Ouro, 1 de Prata e 4 de Bronze. Medalhas de Ouro: Tarciano Santos da Silva com duas medalhas de Ouro Ref. 141 e Ref. 163 para dois tipos de mel e uma medalha de Ouro Ref. 204 para Mel Baldone; Medalha de Prata: Mel Baldone, Ref. 207 para mel: Medalhas de Bronze: Daniel Henrique Breyer com medalha de Bronze Ref. 56 para mel, Tarciano da Silva medalha de Bronze Ref. 161 para mel, Celio H.M. da Silva medalha de Bronze Ref. 493 para cera e Cesar Ramos Junior medalha de Bronze Ref. 238 para vídeo. Aos premiados nossos sinceros cumprimentos e os agradecimentos pelo orgulho que nos deram de colocar o Brasil no mais alto pedestal de destaque da Apimondia em 2019 quanto a qualidade dos produtos apresentados.
Além das atividades acima mencionadas a Apimondia 2019 proporcionou a seus participantes uma Assembleia Geral onde foram discutidos os principais problemas da apicultura mundial, discussões de temas estatutários bem como realizou a tradicional eleição, pelos representantes oficiais dos países membros, do país que sediará o segundo próximo Congresso Internacional da Apimondia. Foi eleita a cidade de Santiago, no Chile, como sede do 48º Congresso da Apimondia de 2023, portanto após o 47º. Congresso Internacional a ser realizado de 20 a 25 de setembro de 2021 em Ufa, na Rússia.
Finalmente ainda como atividade do Congresso de Montreal foram oferecidas aos participantes do evento sete opções, de excursões técnicas em regiões próximas ou ao redor de Montreal.
A cidade de Montréal é a mais populosa municipalidade da Província de Québec, no Canadá e se encontra situada na ilha de Montréal. A cidade tem uma população de mais de 1.700.000 habitantes. Ela tem um clima continental de quatro estações, porém apresenta um característico verão quente e um típico e frio inverno com neves. A língua mais falada em Montréal é o francês (49,8%) seguido do inglês (22,8%) e outras línguas (18,3%). Devido a seu múltiplo background étnico há uma elevada variedade de comida, sendo encontrada uma rica opção gastronômica nos restaurantes da cidade. A cidade apresenta uma área histórica com muitas atrações turísticas destacando-se o velho Porto de Montréal, o Market Bonsecours, a famosa Basílica Notre-Dame de Montréal que apresenta um renomado show de cores e luzes, muitos parques e jardins.
Um fato nos chamou muito a atenção e que difere muito do que ocorre no Brasil foi a dificuldade de se encontrar farmácias na cidade. Isso nos levou a consultar alguns cidadãos canadenses que nos informaram sobre o sistema de saúde existente no pais que garante a todos uma cobertura total de assistência médica, do nascimento à velhice, sem a necessidade de se pagar serviços médicos particulares e de comprar remédios ou pagar internações hospitalares, daí a razão da existência de poucas farmácias nas cidades.
No entanto, segundo fomos informados, as raras farmácias existentes são na verdade “drugstores” cujos produtos são “principalmente cosméticos, perfumaria, complementos ou dietas alimentares especiais, materiais ortopédicos e de assepsia para assistência primeiros socorros, produtos de limpeza pessoal, produtos dentários, fraldas, absorventes, complexos vitamínicos bem como alguns tipos de remédios mais comuns, embora existam também medicamentos que requerem aviamentos especiais em farmácias mediante receitas médicas etc.
Segundo nos informaram, de uma maneira geral a população recebe sem custos os remédios diretamente nos centros de saúde, o que mostra o elevado padrão de assistência médica e hospitalar apresentado naquele país. Montreal, apesar de ser uma grande metrópole aparenta ser uma cidade tranquila, bem organizada e, segundo fomos informados, de grande segurança sendo que o seu amplo e confortável “Palais des Congrès” com suas facilidades reuniu todas as condições para a realização de um organizado e confortável congresso.
Quanto a programação científica do Congresso, como destaque mencionaremos agora alguns aspectos das quatro conferências principais (keynote conferences):
Iniciaremos pela conferência do Dr. Gene E. Robinson do Instituto de Biologia Genômica da Universidade de Illinois-USA, cuja apresentação versou sobre pesquisas das raízes genéticas da socialização nas abelhas, tema de alto interesse biológico e evolucionista devido ao fato das abelhas servirem como um modelo de organização social.
A segunda conferência de destaque foi do Dr. Rufus Isaac, pesquisador do Dep. De Entomologia da Univ. Estadual de Michigan, USA, tendo discorrido sobre a integração entre a teoria e a prática na área de polinização, principal atividade das abelhas. Embora a polinização represente um papel muito importante das abelhas na reprodução das plantas e na produção de alimentos, a aplicação prática ou o uso da polinização pelas abelhas na agricultura ainda é muito insipiente e hoje a agricultura é muito deficiente quanto a presença de polinizadores.
O pesquisador chama a atenção para a necessidade de priorização e incentivo às áreas de pesquisa e extensão relacionadas ao uso das abelhas na polinização dirigida em culturas de interesse agrícola, como forma de melhorar a produção de alimentos e preservar as abelhas no planeta.
A terceira conferencia top do Congresso foi do Prof.Dr. Peter Rosenkranz, Diretor do Instituto Estadual de Apicultura da Universidade de Hohenheim,Alemanha. O Dr. Rosenkranz foi estagiário no laboratório de genética de abelhas do Prof. Lionel S.Gonçalves, nos anos de 1997 e 1998, no Depto. De Genética da FMRP-USP, ocasião em que foi feito um convênio com a Alemanha,com o Programa Probral Brasil Alemanha.
No Congresso de Montreal o Dr. Rosenkranz tratou do assunto relacionado às perspectivas mundiais sobre a saúde das abelhas Apis mellifera, com ênfase nas consequências das perdas de abelhas devido a patógenos como o ácaro Varroa destructor, vários tipos de vírus e o fenômeno conhecido como CCD (Colony Collapse Disorder) ou síndrome do desaparecimento das abelhas.
Finalmente chamou a atenção na importância dos produtos das abelhas como bio-indicadores de contaminações por pesticidas em áreas rurais e destacou a necessidade de se investir na proteção dos polinizadores em benefício da agricultura.
A última conferência top do Congresso de Montreal foi do pesquisador Dr. Thomas D. Seeley do Departamento de Neurobiologia e Comportamento da Universidade de Cornel, USA. Em sua conferência relatou alguns detalhes sobre o comportamento das abelhas silvestres ou da natureza comparado com o comportamento de abelhas manipuladas em apiários.
São muito conhecidos seus estudos sobre o comportamento decisório e coletivo das abelhas no comportamento de migração ou comportamento enxameatório. Esses estudos encontram-se muito bem detalhados em seu livro sobre a democracia das abelhas, concluindo em sua apresentação que as abelhas sofreram adaptações evolutivas ao longo dos seus mais de 30 milhões de anos de existência.
Quanto aos trabalhos apresentados em simpósios, mesas redondas e na forma de apresentações orais ou posters, face ao elevado número de temas abordados no Congresso torna-se quase impossível um relato mesmo dos principais temas apresentados, com risco de sermos omissos ou injustos face aos esforços dos autores participantes.
Para justificarmos essa dificuldade informamos, apenas para conhecimento dos leitores, que o Volume de resumos publicados na Apimondia de 2019 apresenta um total de 350 páginas com o conteúdo dos 940 resumos apresentados. Portanto, para colaborar com os leitores no sentido de tomarem conhecimento das novidades cientificas e tecnológicas apresentadas na Apimondia, faremos agora pequenos relatos, na forma de notas, de apenas alguns dos trabalhos apresentados.
Quanto ao controle ou monitoramento das colmeias foram apresentados vários tipos de monitoramentos à distância através do uso de aplicativos, uso da Web contendo GPS anti roubo, estações climatológicas e pallets contendo sensores em balanças para registros do peso, como o aplicativo Bee Guard, tudo ligados aos celulares.
No entanto, uma novidade que chamou muito a atenção foi o trabalho do extensionista Dr. Malcom Sanford e colaboradores, dos Estados Unidos, através do monitoramento utilizando-se o som das abelhas do interior das colmeias (Real-Time Diagnosis and Mapping of Emergent Honey Bee Health Issues via an Al-Powered App). O monitoramento é feito através de um “smartphone” que usa os sons da colônia de abelhas via inteligência artificial, (AI) software algorithms, e indica dados sobre a saúde da colônia, presença de rainha, presença de ácaros Varroa, nosema, cria-americana e outras informações sobre as condições da colônia. Dessa forma o apicultor pode monitorar de sua casa a situação de cada uma de suas colmeias.
Em relação ao monitoramento de abelhas comentamos agora um trabalho especial de monitoramento de colônias de abelhas nativas sem ferrão dentro do município de São Paulo, apresentado no Congresso pelo pesquisador brasileiro Dr. Tiago M.Francoy, da USP , São Paulo, Brasil. Trata-se de uma plataforma científica do cidadão que usa um aplicativo celular “BeeKeep” que permite a coleta de dados de ninhos de abelhas sem ferrão instalados livremente na natureza, suas características e localização no município de São Paulo, mediante GPS, fotografias bem como dados da interação abelha-planta (Beekeep: a citizen Science tool for bee monitoring and conservation), desenvolvido por C.Barbieri e colaboradores. Mediante os dados registrados numa plataforma global “i-naturalist”, o projeto permite aos cidadãos do município e em especial aos pesquisadores naturalistas, o registro e monitoramento das colônias de abelhas existentes na natureza, contribuindo para um melhor conhecimento da distribuição dessas abelhas na região em estudo e um incentivo ao manejo e conservação das espécies nativas de abelhas. Trata-se de um projeto de alta aplicabilidade para os estudos das abelhas, pondendo ser usado em qualquer região do país.
Quanto ao besouro Aethina tumida já existente no Brasil e que vem causando grandes preocupações aos apicultores em vários países, inúmeros trabalhos foram apresentados e destacamos aqui como novidade no tratamento o uso de pesticidas microbianos como o “Bio Beetle” apresentado por V.Strogolova, de Milwaukee-USA e cujo produto é tóxico para as larvas do besouro.
Quanto a uma detecção da presença do besouro nas colônias ainda com baixa infestação comentamos o trabalho de M.Bernier e colaboradores, de Missoula-USA sobre um método usando análise de DNA em debris (restos do besouro) encontrados na colmeia (Detection of small hive beetle Aethina túmida Murray in naturally infested hives using DNA analysis of hive debris and scraps ).
A rápida detecção da presença do besouro em baixos níveis de detecção da infestação é a chave da erradicação do mesmo ou seu controle, uma vez que a detecção visual e os métodos ou armadilhas de detecção representam perda de tempo e custos. A eficácia do método por análise de DNA de debris representa uma eficácia de 72,4%;
Com relação aos estudos sobre comportamento higiênico a pesquisadora Dra. Marla Spivak da Univ. de Minnesota-USA (Breeding Honey Bees for Disease and Mite Resistance) apresentou um trabalho sobre seleção de abelhas para resistência a doenças e acaro, que comprova que as abelhas usam uma estratégia de morte para realizar o comportamento de limpeza ao detectar e remover crias doentes da colmeia.
Ela comentou que as abelhas higiênicas, diferentemente das não higiênicas, são capazes de detectar e discriminar entre os odores de crias doentes e crias sadias, mesmo quando o nível do estimulo é baixo, tendo desenvolvido uma linhagem de abelhas (Minnesota) selecionada para esse comportamento de limpeza.
Em relação ao stress causado nas abelhas pelo transporte de colmeias Z.H.Huang na Univ. Estadual de Michigan-USA ( Transportation sensitizes honey bees to insecticides) concluiu em seus trabalhos que abelhas de colônias submetidas a transportes intensos apresentam um envelhecimento mais precoce que colônias de apiários fixos e se tornam mais vulneráveis aos inseticidas neonicotinoides imidacloprid e thiamethoxam e que as abelhas mais velhas são mais sensíveis aos pesticidas que as abelhas jovens;
Quanto a varroatose, praga causada pelo acaro Varroa destructor e que segue sendo considerada um grande problema em muitos países, para seu combate, além dos acaricidas já conhecidos como o thimol, o pyrazade a quinazoline e os ácido fórmico e ácido oxálico, destacamos um trabalho de um novo produto divulgado por S.H. Masry, o óleo da planta Jatropha curcas usado nos Emirados Arabes.
Ainda sobre a varroatose, mencionamos um trabalho interessante de De La Mora Pena e colaboradores, da Universidade de Zacatecas, México, que comprovaram que a presença do acaro Varroa destructor nas colmeias deixam as abelhas mais irritadas e que os testes de agressividade das colônias infestadas picavam mais.
Ainda a respeito da varroatose, pesquisas realizadas pela equipe do Prof. Dr. Ernesto Gusman Novoa com o acaro Varroa destructor corroboram o que já havíamos observado anteriormente no Brasil, o seja, as abelhas africanas são menos sensíveis à varroatose e a infecções virais do que as abelhas europeias sendo que no Brasil normalmente não ocorre morte de colônias de abelhas africanizadas devido ao acaro Varroa destructor ( Honey bee colonies of African maternal lineage are less susceptible to Varroa destructor infestation and to viral infections than colonies of European lineage) ;
Em relação aos trabalhos apresentados por pesquisadores brasileiros destacamos agora alguns deles iniciando com trabalhos sobre polinização. O primeiro que destacamos é a contribuição da equipe do Prof. Dr. Breno M.Freitas, da Univ. do Ceará, sobre a preferência das abelhas Apis mellífera por alguns tipos de culturas de melão que são amplamente cultivadas no nordeste brasileiro.
Na referida pesquisa foram analisadas várias culturas de tipos melão (amarelo, pele de sapo, cantalupe, charentais e galia) quanto ao odor das flores e o néctar tendo entre as conclusões principais o fato que na polinização as abelhas visitam preferencialmente as flores do melão cantalupe, tendo concluido também que tanto o cantalupe como o charentais foram os mais ricos em aminoácidos enquanto o tipo galia foi o mais pobre.
Ainda sobre polinização detacamos os trabalhos liderados pela pesquisadora Dra. Andresa Berreta do grupo AgroBee de Ribeirão Preto, com os projetos (Using bees (Hymenoptera, Apidae) for coffee’s (Coffea arábica) crop inteligente and assisted pollination (Agrobee) in diferente regions of Brazil, por J. Almeida Dias e colaboradores e Scaptotrigona depilis in Coffea arábica crops inteligente and assisted pollinated by Agrobee), por D.Moure Oliveira e colaboradores.
Trata-se de um projeto que proporciona uma ponte de ligação entre produtores de culturas agrícolas e criadores de abelhas Apis e abelhas sem ferrão, incentivando a polinização pelas abelhas objetivando o aumento de produção e melhoria na qualidade dos frutos.
Este projeto já apresentou os primeiros resultados positivos, representando uma excelente perspectiva de se ampliar a pesquisas de interesse econômico com polinização assistida no Brasil.
Outra pesquisa, de interesse ecológico-econômico, é a desenvolvida no Piauí,PI, liderada pelo Prof.Dr. Darcet Cost Souza e colaboradores (Palinoflora with apicultural potential used by Apis melífera L. (Apidae) in Riparia Woods under the influence of Caatinga,Piaui,Brazil) sobre o potencial de plantas da mata da Riparia sob a influência da Caatinga para serem utilizadas pelas abelhas africanizadas principalmente no período de secas.
Nesta pesquisa sobre a palinoflora foram registradas, mediante amostras coletadas e análises polínicas, a presença de 52 espécies, 42 gêneros e 25 famílias botânicas à disposição das abelhas africanizadas naquela região semiárida nordestina; Finalmente, ainda sobre polinização, porém voltada a certificação botânica da Caatinga, relatamos o trabalho do grupo do Dr. Vagner A. de Toledo, da Univ. estadual de Maringá,PR, sobre a identificação de méis da caatinga do nordeste brasileiro (Botanical certification of honey produced in Caatinga in Northeast Brazil) por J.E.Melo Nascimento e colaboradores, com destaque dos meis de marmeleiro (Croton sanderianus e velame (Croton heliotropiifolius ) que são bons representantes da vegetação típica da Caatinga nordestina.
Ainda dando destaque a trabalhos brasileiros e agora em relação ao problema da redução da população dos polinizadores na natureza, em especial das abelhas, relataremos agora dois trabalhos da equipe do Prof. Lionel S.Gonçalves sendo o primeiro sobre a morte de abelhas e CCD no Brasil, (Bees or no bees, this is the question: Deaths of bees and CCD-Colony Collapse Disorder) de Gonçalves e colaboradores, no qual o pesquisador Dayson Catilhos, da UFERSA de Mossoró registrou em seu doutorado, as frequências de mortes de abelhas na maioria dos estados brasileiros, durante todos os meses dos anos entre 2013 e 2016.
As ocorrências de mortes e CCD registradas através do uso do aplicativo Bee Alert, apontaram como causas principais o uso indiscriminado de pesticidas, destacando os neonicotinoides e o Fipronil.
O segundo trabalho trata de educação ambiental (Bees or no bees, this is the question: global educational challenge in direction of saving the bees and environment conservation), desenvolvido por Rosane G. Peruchi e M.J.Caliman e L.S.Goncalves.
Este trabalho utilizou a obra educacional “Caderno de Atividades para Educação Ambiental” direcionada a crianças de 8 a 10 anos, sobre a importância das abelhas e do meio ambiente, com foco na polinização, principal atividade das abelhas, sentinelas do meio ambiente.
A obra foi aplicada em 2018 e 2019 para aproximadamente 6 mil crianças de 30 escolas municipais do ensino fundamental no município de Ribeirão Preto-SP, Brasil no sentido de alertá-las sobre a redução da população das abelhas e sobre a necessidade delas serem protegidas bem como o meio ambiente.
Seguindo o destaque da participação de pesquisadores brasileiros no Congresso de Montreal mencionamos agora um trabalho do brasileiro W. Bartholet, de Caçador-SC (Apis mellífera capensis together with the scutellata causes the africanization), que causou grande surpresa principalmente para os brasileiros, pois se tratava de uma contestação a uma declaração da equipe do famoso cientista brasileiro Prof. Dr. Warwick Etevam Kerr, falecido ano passado, a respeito da origem da africanização das abelhas no Brasil.
Segundo o Prof. Kerr e sua equipe a africanização deu-se através do cruzamento entre as abelhas africanas scutellata e as europeias introduzidas no Brasil antes da chegada das africanas.
No entanto, segundo Bartholet, o Prof. Kerr teria introduzido no Brasil as abelhas africanas Apis mellifera scutellata e as abelhas do Cabo (Apis capensis) e distribuído ambas em todo o Brasil ,sendo que as abelhas capensis teriam eliminado todas as abelhas europeias introduzidas anteriormente no Brasil e a africanização seria resultante apenas do cruzamento das abelhas scutellata e capensis uma vez que, segundo Bartholet, todos os zangões europeus teriam sido eliminados pela capensis.
No entanto, segundo o Prof. L.S.Gonçalves, de Ribeirão Preto-SP, não foram distribuídas abelhas capensis no Brasil e sim rainhas europeias italianas (Apis mellifera ligustica), alemãs (Apis mellifera mellifera ), carnicas (Apis mellífera carnica) e as africanas (Apis mellífera scutellata). Do cruzamento destas surgiram as hibridas africanizadas sendo essa a informação divulgada pelo Prof. Kerr e sua equipe.
Finalmente, quanto aos trabalhos na área de Apiterapia, além da alta frequência de trabalhos com o uso de veneno de abelhas e em especial de tratamentos com picada de abelhas para tratamento de artrites e artroses, o que constatamos como novidade no Congresso foi o uso na Ukrania de supositórios contendo produtos das abelhas (própolis, pólem, geléia real e homogenados de larvas de zangões) nos tratamentos terapêuticos de doenças ginecológicas, urológicas e proctológicas (Application of suyppositorius with própolis, royal jelly and homogenated drones larvae as efficient and safe apitherapy method in Ukraine) por V.Knijzhenko, de Kiev, Ukraine.
Ao concluirmos agora o sucinto relato dos resultados de alguma das pesquisas apresentadas no Congresso de Montreal e pinçadas dentro de uma extensa lista de trabalhos registrados na programação cientifica e divulgados nos Anais do Congresso, esperamos ter proporcionado aos leitores uma pequena ideia da riqueza que foi a parte técnico cientifica do Congresso.
Para finalizar queremos também comentar sobre a preocupação que ficou para os participantes da Apimondia 2019, em especial dos que assistiram o Simpósio sobre Pesticidas do qual participamos (L.S.Gonçalves), sobre as alarmantes notícias sobre o crescente aumento no número de perdas de colônias e morte de abelhas em vários países.
Tal preocupação se deve principalmente ao indiscriminado uso de pesticidas no combate a pragas e doenças na agricultura. Como consequência há o risco, bastante preocupante, com a presença de resíduos de pesticidas nos produtos das abelhas, já encontrados em algumas análises de mel, e que pode interferir na sua qualidade e comercialização, com sérios prejuízos para a apicultura.
A Api-Expo-2019, que aconteceu paralelo ao Congresso da Apimondia, é sempre um dos pontos de grande interesse do público, sejam apicultores, técnicos, pesquisadores ou comerciantes do setor apícola.
Nela encontra-se o que se tem de melhor nos diversos seguimentos, como indumentárias, utensílios apícolas, colmeias e equipamentos. Estiveram presentes à feira cerca de 260 expositores de 55 países diferentes.
Destaque para o stand brasileiro muito bem localizado, com excelente estrutura e belíssima apresentação, uma parceria entre a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), o Consulado Geral do Brasil de Montreal, as empresas associadas à ABEMEL. O stand do Brasil expos o que temos de melhor em nossa apicultura, estiveram presentes diversos entrepostos de mel e empresas, entre eles os Apiários Lambertucci, Apis Flora, Agrobee, Abemel, Baldoni, Breyer Naturais e Orgânicos, CONAP, Essenciale Bee Products, Ita Brasil Mel e Própolis, Melbras, Minamel, Mn Própolis, Natucentro Green Propolis, Novo Mel, Prodapys Organic Honey, Supermel etc. Além de ser uma vitrine da apicultura nacional na Apimondia, a participação brasileira foi mais uma vez destacada por suas premiações no World Beekeeping Awards conquistando 08 medalhas conforme já mencionado.
Dentre as tendências que se observou na feira, verifica-se que fica cada vez mais evidente a incorporação de tecnologias, mecanização e informática na atividade apícola, como forma de se melhorar o rendimento do setor e minimizar as perdas por problemas diversos, mas que fogem ao controle do manejo tradicional nos apiários.
Várias empresas apresentaram equipamentos de monitoramento de colmeias, por meio de sensores que podem registrar desde a simples variação de peso, temperatura, umidade interna da colmeia e do meio ambiente, bem como os sons da colmeia como forma de orientar manejos específicos.
Tudo isso ligado a uma central de monitoramento e enviado por aplicativo de celular ao apicultor.
Também se verificou uma grande movimentação na oferta de produtos voltados a alimentação das abelhas, seja com vistas a manutenção de enxames, como para a preparação dos enxames para floradas. Produtos cada vez mais elaborados, buscando uma alimentação equilibrada, sendo possível encontrar até produto certificado orgânico.
Já com relação aos equipamentos de extração e processamento de mel, não se verificaram muitas novidades, estando presentes no evento todos os principais fabricantes do mundo, expondo as suas diferentes opções para pequenos, médios e grandes produtores.
Sucesso de movimento e venda verificou-se nos stands da China que trazem muitos utensílios e apetrechos de uso cotidiano no apiário e que sempre despertam o interesse dos apicultores.
O grupo da APACAME encerrou sua participação na Apimondia com a visita técnica pós-congresso denominada de Happy-Culture And Miel Fontaine, uma das seis opções disponibilizadas pelos organizadores aos congressistas.
Localizada na província de Quebec, a Happy-Culture é uma pequena empresa que atua com permacultura, apicultura e apiterapia.
Na ocasião o grupo foi recebido pelos proprietários com uma degustação de produtos produzidos na propriedade como mel, pólen e kombucha, uma bebida fermentada a base de mel. Conheceu-se o trabalho desenvolvido pelos jovens empreendedores da apicultura, a produção de mel, e também se visitou uma cabana de madeira utilizada para o trabalho de terapia com o ar da colmeia (Beehive Air Therapy).
Ainda na mesma propriedade se teve a oportunidade de conhecer como é feito o Maple Syrup e experimentar esse produto característico do Canada. Na visita a Miel Fontaine, localizada região de Monteregie, conheceu-se uma empresa de exploração apícola pequena, para o padrão canadense, onde são manejadas cerca de 300 colmeias e paralelo a isso também se tem a produção e venda de produtos que levam em sua composição produtos da colmeia como hidromeis, méis compostos, pólen, geleia real, molhos a base de mel entre outros.
A empresa possui uma lojinha na propriedade para comercialização direta de seus produtos, realiza treinamento de apicultores e comercializa insumos apícolas. Chamou a atenção o manejo que fazem com as colmeias no período de inverno, quando a temperatura cai a -30o C, o que os obrigam a manterem seus enxames dentro de galpões por quase cinco meses. Uma situação muito diferente da nossa no Brasil.
Encerramos a participação na Apimondia felizes pela oportunidade de mais uma vez ter compartilhado, com tantas pessoas de culturas e costumes tão diferentes dos nossos, essa experiência única que é trabalhar com as abelhas.
Aos organizadores do 46º Congresso da Apimondia-2019 aqui ficam nossos cumprimentos pelo brilhantismo do evento, em todos os seus aspectos e em especial ao seu elevado nível técnico científico, e pelo significativo e agradável congraçamento internacional entre seus participantes.