PROIBIR OU NÃO PROIBIR O GLIFOSATO EIS A QUESTÃO
Texto: Gabriele Steinhauser – Foto: Reuters
O futuro do herbicida à base de glifosato, o ingrediente ativo do Roundup da Monsanto Co., no mercado da União Europeia continua indefinido, depois que o pedido para uma extensão temporária de sua autorização de vendas não conseguiu obter a maioria necessária entre os governos que compõem o bloco.
A licença de comercialização do glifosato na UE expira no fim do mês. A proposta de permitir que o herbicida amplamente utilizado na agricultura continue sendo vendido na Europa enfrenta forte oposição de vários governos em meio a resultados conflitantes de avaliações científicas sobre se ele causa câncer.
O resultado da votação na segunda-feira — em que a grande maioria dos 28 Estados-membros da UE apoiou o pedido de extensão, mas não conseguiu obter o volume populacional necessário para uma aprovação — deixa a decisão final nas mãos da Comissão Europeia.
O braço executivo da UE havia proposto uma extensão temporária da licença de vendas entre 12 e 18 meses. Isso permitiria que a Agência Europeia dos Produtos Químicos produza um parecer sobre o impacto da substância na saúde.
O minúsculo país de Malta foi o único a votar contra a extensão, enquanto 20 Estados-membros votaram a favor, disse uma autoridade a par da votação confidencial. Mas já que países populosos como Alemanha, França e Itália se abstiveram de votar, a proposta não conseguiu a aprovação de pelo menos 65% da população da UE, informou a fonte.
Um porta-voz da Comissão Europeia não quis revelar se o órgão planeja simplesmente aprovar a extensão de até 18 meses.
“Os Estados-Membros devem assumir suas próprias responsabilidades e não tentar se esconder atrás da comissão”, disse o porta-voz.
A comissão deve discutir como reagir à votação na reunião semanal que ocorre nesta terça-feira, ele acrescentou.
Martin Häusling, membro do Parlamento Europeu pelo Partido Verde alemão, disse que, ao se abster e deixar a decisão nas mãos da comissão, os governos evitaram encarar sua responsabilidade. “O certo seria proibir o glifosato imediatamente”, disse ele.
A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, da Organização Mundial da Saúde, informou em meados do ano passado que o glifosato “provavelmente” tem o potencial de causar câncer em seres humanos, uma alegação contestada por outras agências de saúde pública, incluindo um estudo conduzido pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA, na sigla em inglês).
Os problemas enfrentados pelo glifosato salientam um ceticismo mais amplo entre os cidadãos europeus sobre o uso de produtos químicos na agricultura e no meio ambiente. Os organismos geneticamente modificados, ou transgênicos, enfrentam resistência similar.
O glifosato é um dos principais geradores de lucro para a americana Monsanto, empresa que recentemente virou alvo de compra da alemã Bayer AG. Mas também é um ingrediente-chave de outros herbicidas.
Junto com a extensão temporária, a Comissão Europeia havia proposto restrições sobre quando e como usar o glifosato. Entre essas restrições está a proibição do uso de um coformulante do herbicida, conhecido como taloamina, e recomendações para minimizar sua aplicação em parques públicos, jardins e antes da colheita.