A GOROROBA,
Alimentação suplementar para abelhas sem ferrão.
Pedro Acioli de Souza1; Rogério Marcos de Oliveira Alves2.
1. Apiário & Meliponário Princesa das Matas – Viçosa, Alagoas.
2. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano – IFBAIANO.
Introdução
A criação de abelhas nativas sem ferrão é uma atividade que vem tomando um grande impulso nos últimos anos. Dentre as opções oferecidas pela criação, destaca-se a produção de mel.
Os pilares da produção zootécnica englobam três fatores: a genética, manejo, alimentação + as condições ambientais. Devido à dificuldade em interferir nas condições de clima, o criador busca aumentar a produtividade observando os fatores zootécnicos. A genética, através da seleção de colônias e as práticas de manejo, recebem maior atenção por parte do criador (CARVALHO et al., 2003).
A alimentação seja ela natural (pastagem) ou artificial é pouco trabalhada sendo responsável por perdas de colônias nas épocas de escassez de alimento devido a seca, frio ou chuvas. Apenas alguns criadores implantam pastagens especificas para a produção de mel, com plantas de reconhecido potencial na produção de néctar e/ou pólen, que ajudaria a evitar perdas na criação, entretanto essa medida é eficiente apenas quando as condições ambientes são propicias.
Períodos de escassez de alimento são muito comuns, sendo a alimentação artificial de colônias com substancias energéticas e/ou proteicas a forma de suprir a falta de néctar e pólen. As formulações são várias e preferencialmente é utilizada a forma líquida (xarope).
As vantagens dessa forma de alimentação são muitas (rapidez na absorção do produto, facilidade de preparo, baixo custo) porém esse método apresenta também desvantagens (pilhagens, derramamento de líquido, fermentação).
Para as abelhas, a alimentação suplementar tem como principal objetivo permitir o desenvolvimento das colônias em períodos de escassez de alimento e quando da divisão ou translado. Ao receberem uma fonte alternativa de alimento, as operárias economizam a energia que gastariam para coletar néctar ou pólen no campo, podendo, assim, apoiar outras atividades essenciais, como defesa, limpeza, organização e suporte às atividades de postura da rainha (VILLAS-BÔAS, 2012).
A formulação de um alimento que nas épocas de escassez fosse ao mesmo tempo eficiente, palatável, não fermentasse rapidamente (atração de forídeos), evitasse a pilhagem, com ingredientes de fácil acessibilidade ao meliponicultor, baixo custo e preparação simples, pode contribuir para a redução de perdas na criação e aumento da produtividade das colônias.
No Estado de Alagoas a união da pesquisa e extensão possibilitou a formulação de um alimento com formulação gelatinosa que permitiu reduzir a perda de colônias e contribuir para o rápido desenvolvimento das colônias. Esse alimento foi denominado de “Gororoba”, formulação baseada no uso de gelatina como enchimento para fontes de carboidratos e proteína principais alimentos utilizados pelas abelhas.
A GOROROBA
Alimento preparado a partir de gelatina comercial, onde são misturados o açúcar, mel, água, fonte proteica e essência
Ingredientes: (Para preparar a gororoba)
– 500 ml de água;
– 400 g de açúcar (Preferir o demerara);
– 1 colher de sobremesa de mel ASF ou de APIS;
– 1 colher de chá de pó de pólen apícola fresco ou pólen de ASF ou pólen apícola fresco (conservados em geladeira);
– 1 pacotinho de gelatina de 12 g, sem cor e sem sabor;
– 3 folhas de “capim santo ou erva cidreira”.
Preparo:
Chá
Adicionar em vasilha, 400 g de açúcar + 3 folhas de capim santo ou erva cidreira + 500 ml de água. Levar ao fogo até ferver (manter sob fervura durante 3 minutos). Deixar esfriar até 40° graus. Retirar as folhas e guardar o líquido.
Preparo da gelatina:
Dissolver a gelatina aos poucos em 4 colheres de água em um copo, misturar até ficar uniforme, (manter em repouso).
Mistura: chá mais Gelatina.
Quando o chá resfriar (40°C), consegue-se colocar a mão na vasilha sem queimar, adicionar 1 colher de pó de pólen + 1 colher de sobremesa de mel mais Gelatina pré-dissolvida, misturando bem.
Testes
A Gororoba vem sendo testada em campo nos municípios de Viçosa, Mar Vermelho, Água Branca, Penedo, União dos Palmares (Estado de Alagoas) em caixas de diversas espécies (M. scutellaris, M. subnitida, Plebeia sp., M. asilvai, Frieseomelitta varia, F. doederleini) desde maio de 2013, com sucesso. Temos conseguido multiplicar as colônias 4 vezes ao ano, quando alimentadas regularmente.
Conservação:
Levar a mistura para geladeira. Após 12 h na geladeira pode ser servida as abelhas (adquire consistência gelatinosa). A “Gororoba” em recipiente fechado em geladeira, se conserva por 30 dias aproximadamente. Não conservar em locais com temperaturas altas.
Servindo as Abelhas:
Para as espécies maiores: Uruçu (Melipona scutellaris), servimos no interior da caixa, em potes plásticos (Copos de sorvete 1 bola, raso, 100g). Inicialmente vamos colocando pequenas porções, 3 vezes por semana, até que elas consumam o pote cheio.
Para abelhas médias: Jandaira (M. subnitida) e munduri (M. asilvai,) servir o alimento em tampa de refrigerante (2 a 4 tampas cheias, 3 dias por semana).
Para abelhas pequenas (Plebeia sp; Frieseomelitta sp.) 1 a 2 tampas de refrigerante, 3 vezes por semana.
VANTAGENS
A “GOROROBA” foi criada pensando na:
Eficiência:
As abelhas rapidamente procuram o alimento, não ficando resíduos na caixa, refletindo no aumento do número de operárias e da produção.
Versatilidade:
Pode ser utilizada tanto com a fonte proteica (pólen) e/ou a fonte energética (açúcar ou mel).
Camuflagem:
O pólen fresco natural, quando servido diretamente para as abelhas, atrai o principal inimigo: o forídeo. Quando dissolvido na gelatina o forídeo não é atraído pelo cheiro do pólen fermentado que fica imperceptível.
Redução de perda de operárias
A gelatina conserva e dá consistência ao alimento por mais tempo, evitando morte de operárias por afogamento.
Pilhagem
Reduz a pilhagem devido a não atrair Apis mellifera: Mesmo quando alimentamos as abelhas sem ferrão em cochos coletivos não atraiu as abelhas Apis mellifera. Nesse caso deve evitar expor a gororoba diretamente ao sol.
Palatável:
A Gororoba é elaborada com gelatina produto inócuo sendo inseridos pólen, mel, folhas de capim santo ou cidreira (efeito atrativo) sendo facilmente aproveitada pelas abelhas, podendo ser utilizado na produção de mel orgânico.
Baixo custo
Os ingredientes são de fácil aquisição e de custo baixo reduzindo o valor final e de baixo impacto no custo final do produto.
Praticidade
Não derrama, não sendo liquido, não precisa de alimentadores, é servido em copinhos ou em tampas de garrafas no interior da colmeia.
REFERENCIAS
VILLAS-BÔAS, J. Manual tecnológico: abelhas sem ferrão. Brasília, DF: Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), 2012. 96 p. (Série Manual Tecnológico).
CARVALHO, C. A. L. de; ALVES, R. M. de O.; SOUZA, B. de A. Criação de abelhas sem ferrão: aspectos práticos. 1. ed. Salvador-BA: SEAGRI-BA, 2003. 42 p.