OS PRODUTOS DA ABELHA APIS MELLIFERA E A UTILIZAÇÃO DO MEL NA CICATRIZAÇÃO DE FERIDAS: REVISÃO DE LITERATURA

Beatriz Gabriele Mariano

RESUMO

Figura 1 - Divisão do corpo da abelha. Fonte: Rezerra e Lopes, (1956).
Figura 1 – Divisão do corpo da abelha. Fonte: Rezerra e Lopes, (1956).

As abelhas de espécie Apis mellifera são as principais abelhas criadas pelo homem através da apicultura. Ela é responsável pela polinização, pela produção de cera, própolis, pólen, geleia real, apitoxina e pelo mel. Um enxame possui apenas uma rainha, até 80 mil operárias e de zero a quatrocentos zangões. A cera é utilizada na construção de favos, na indústria, farmácia, medicina e na fabricação de cosméticos. A própolis mantém a colmeia livre de doenças e evita correntes de ar frio durante o inverno, além de servir como suplemento alimentar, preventivo de enfermidades e na aplicação tópica pela população humana. O pólen e a geleia real são muito importantes para a nutrição das larvas e das rainhas devido às suas qualidades nutricionais. Nos humanos, tem a mesma finalidade. A apitoxina é o veneno da abelha Apis mellifera, e serve para a sua defesa, e também para o tratamento de diversas afecções no homem. Um dos produtos considerados mais puros da natureza é o mel, derivado do néctar que é coletado e transformado pelas abelhas. O mel é um alimento apreciado por seu sabor característico e por seu considerável valor nutritivo, entretanto, possui outro papel muito importante, podendo ser utilizado no tratamento de feridas. O mel possui um importante efeito antibacteriano, principalmente devido a substâncias como o peróxido de hidrogênio, flavonoides e aos ácidos fenólicos. De maneira geral, o mel desodoriza feridas e as desbrida com facilidade, estimula o crescimento epitelial, minimiza a formação de cicatriz, reduz a inflamação, o edema e a quantidade de exsudato, além de ter efeito “calmante” quando aplicado sobre feridas.

Palavras-chave: Abelhas; Apis mellifera; cera; própolis; pólen; geleia real; apitoxina; mel; cicatrização de feridas.

Introdução

As abelhas atuais surgiram há milhões de anos junto com o surgimento das flores e, desde então, são seres extremamente importantes para o planeta. São consideradas insetos sociais, pois vivem em grupos, dividindo-se em castas na colmeia.

O gênero Apis, especialmente a espécie Apis mellifera, cujo nome significa “abelha que traz mel”, é a principal abelha criada pelo homem através da apicultura, com o propósito de gerar produtos para a comercialização.

Os produtos das abelhas Apis mellifera vêm sendo utilizados desde tempos antigos para fins medicinais, como no tratamento de feridas, por exemplo. E até os dias atuais possui grande importância para o mercado alimentício, farmacêutico e também para as indústrias de beleza e cosmética.

Neste trabalho serão abordados os produtos fabricados pelas abelhas como o mel, própolis, pólen apícola, geleia real, cera e até mesmo a apitoxina, o veneno da abelha Apis mellifera, e suas utilidades para as abelhas além dos principais fins para a população humana.

Algumas literaturas sobre o assunto foram revisadas e analisadas para que este trabalho fosse realizado, com o objetivo de revisar sobre a importância das abelhas para o planeta, mostrando o benefício de cada um de seus produtos.

Revisão De Literatura

Biologia, anatomia e a convivência das abelhas

O processo evolutivo pelo qual as abelhas passaram ao longo desses milhões de anos, desde o surgimento das flores até os dias atuais, deu origem a milhares de espécies diferentes (Bomfim; Oliveira; Freitas, 2017).

A família Apidae possui duas subfamílias: Apinae e Meliponinae. A subfamília Apinae possui as abelhas do gênero Apis e Bombus que possuem ferrão. A subfamília Meliponinae conta com as abelhas sem ferrão, chamadas de indígenas, e são abelhas encontradas em regiões tropicais e subtropicais. O gênero Apis possui quatro espécies de abelhas sociais: Apis, mellifera, Apis dorsata, Apis florea e Apis cerana (Itagiba, 1997).

São as abelhas Apis mellifera que mais realizam a polinização, ajudando a agricultura, produção de mel, geleia real, cera, própolis e pólen (Ramos; Carvalho, 2007).

No corpo da abelha existe uma divisão geral. Há o tegumento que é a parte viva e corresponde à hipoderme que dará origem a outras camadas, e a parte não viva que corresponde a quitina, esclerotina, resilina e a cera. Esses componentes proporcionam, respectivamente, resistência, rigidez, flexibilidade e impermeabilidade à abelha (Itagiba, 1997).

A abelha Apis mellifera é dividida em três partes: cabeça, tórax e abdome (Figura 1).

Na cabeça estão localizados os olhos simples e compostos, as antenas, o aparelho bucal e, internamente as glândulas. Os olhos simples ou ocelos são três pequenas estruturas que possuem função de detectar a intensidade luminosa, enquanto os olhos compostos são capazes de perceber luz, cores e movimentos. Nas antenas existem estruturas responsáveis por olfato, tato e audição. O aparelho bucal é composto por duas mandíbulas e pela língua, glossa ou probócide. As glândulas no interior da cabeça são as glândulas hipofaringeanas responsáveis pela produção de geleia real, glândulas salivares que podem estar envolvidas no processamento do alimento e as glândulas mandibulares que têm relação com a produção de geleia real e feromônio de alarme (Pereira et al., 2003).

O tórax é formado pelo prótorax ligado a cabeça, mesotórax e o metatórax ligado ao abdômen. Em cada um desses segmentos está fixado um par de pernas e cada par possui uma função definida. O primeiro par de pernas é responsável pela limpeza das antenas. O segundo possui esporão para retirar as bolotas de pólen que são transportadas no terceiro par, onde se localizam as corbículas, espécie de cesta onde é transportado o pólen e a própolis. Nos dois últimos segmentos encontram-se as asas. As asas posteriores possuem uma fileira de hámulos no bordo frontal que se prendem na asa anterior, no momento de voar, possibilitando o trabalho em grupo (Palumbo, 2015).

O abdome é formado por segmentos unidos por membranas bastante flexíveis que facilitam o movimento. No final do abdome, encontra-se o ferrão, órgão de defesa das abelhas, presente nas operárias e rainhas. O ferrão é constituído por um estilete usado na perfuração e duas lancetas com farpas que prendem o ferrão na superfície ferroada. Há uma bolsa onde o veneno fica armazenado que, mesmo após a injeção do veneno e saída da abelha, permanece realizando contração muscular para injetar mais veneno. Na maioria das vezes, quando o ferrão fica preso na estrutura ferroada, a abelha tem uma ruptura do abdome e consequente morte (Ramos; Carvalho, 2007).

Figura 2 - Estrutura das castas de Apis mellifera. Fonte: Starosta, (2007).
Figura 2 – Estrutura das castas de Apis mellifera. Fonte: Starosta, (2007).

Um enxame de abelhas é composto pela rainha, as operárias e os zangões (Figura 2), sendo que deve existir apenas uma rainha, até oitenta mil operárias e de zero a quatrocentos zangões (Abelhas, 2010).

Cada colmeia deve ter apenas uma abelha rainha, portanto, quando nasce a primeira delas, ela destrói as outras realeiras ou briga com as outras rainhas até que sobre apenas uma. A abelha rainha acasala ao seu 13º dia de vida, durante o voo nupcial que ocorre entre 10 a 20 metros do chão, no qual pode se acasalar com 8 ou até 20 zangões. Quanto maior a sua postura, maior será a produção de mel da colônia. A abelha rainha está sempre cercada por pequeno grupo de operárias, responsáveis por alimentá-la com geleia real e limpá-la. Seu tempo de vida pode ser de até 3 anos (Barbosa et al., 2007).

As abelhas operárias são responsáveis pelo trabalho de manutenção da colônia. Suas funções podem variar de acordo com o seu tempo de vida, portanto do 1º ao 3º dia, elas realizam a limpeza da colmeia e de alvéolos. Do 4º ao 14º dia, as operárias passam a elaborar a geleia real para alimentarem a abelha rainha e as larvas. Do 14º ao 21º dia elas passam a produzir cera e a construir favos. A partir do 21º dia, as operárias podem realizar atividades fora da colmeia, coletando néctar, pólen, resina e água (Abelhas, 2010).

Os zangões são os machos da colônia. As larvas que viram zangões são criadas em alvéolos maiores, podendo levar cerca de 24 dias para se tornarem adultos. Eles têm função única em cruzar com a rainha, portanto, não contribuem trabalhando. Quando há falta de alimento, as operárias podem expulsá-los ou matá-los (Bomfim; Oliveira; Freitas, 2017).

Figura 3 - Ciclo de desenvolvimento da abelha Apis mellifera. Fonte: Embrapa Meio-Norte, (2003).
Figura 3 – Ciclo de desenvolvimento da abelha Apis mellifera. Fonte: Embrapa Meio-Norte, (2003).

Durante o ciclo de vida, as abelhas passam por algumas fases: ovo, larva, pupa e adulto (Figura 3). Geralmente, a abelha rainha inicia a postura após o terceiro dia de sua fecundação, depositando um ovo em cada alvéolo. Três dias depois, ocorre o nascimento da larva que fica posicionada no fundo do alvéolo. Durante essa fase, a larva passa por cinco estágios de crescimento para trocar sua cutícula. No final da fase larval, a larva muda de posição, se tornando reta e imóvel, e tece seu casulo. Na fase pupa já é possível distinguir o corpo da abelha que passa por algumas mudanças de coloração até atingir a fase adulta (Pereira et al., 2003).

Produtos Oriundos da Abelha Apis Mellifera

As abelhas Apis mellifera contribuem com a apicultura, uma atividade de grande importância para o homem do campo, lhe servindo como alternativa de ocupação e renda. Os principais produtos obtidos através dessa atividade incluem cera, própolis, pólen apícola, geleia real, apitoxina e o mel (Freitas; Kahn; Silva, 2004).

A cera de abelha é um importante produto da colmeia, usada na construção de favos que servirão como depósito de alimento e desenvolvimento da prole. Atualmente, a cera também é utilizada na indústria, na farmácia, na medicina e na fabricação de diversos tipos de cosméticos (Silva et al., 2000).

A própolis é um produto oriundo de substâncias resinosas, gomosas e balsâmicas, colhidas pelas abelhas, de brotos, flores e exsudados de plantas, nas quais as abelhas acrescentam secreções salivares, cera e pólen para elaboração final do produto (Brasil, 2000). Sua composição química normalmente está relacionada com a flora de cada região visitada pelas abelhas e com o período de coleta da resina. De maneira geral, inclui flavonoides, ácidos aromáticos, terpenóides e fenilpropanóides, e ácidos graxos (Lustosa et al., 2008).

Pelas abelhas, a própolis é usado para manter a colmeia livre de doenças e para fechar as frestas e a entrada do ninho, assim evitando correntes de ar frio durante o inverno (Barbosa et al., 2007). Já para os humanos, é um produto utilizado em suplementos alimentares, como preventivo de enfermidades e em aplicações tópicas (Funari; Ferro, 2006).

O pólen coletado das flores é essencial para a nutrição principalmente das larvas e das abelhas adultas. É rico em proteínas, lipídeos, amido, açúcar, vários minerais e vitaminas. Graças aos nutrientes liberados pela digestão do pólen, metabolizado pelas células das glândulas hipofaringeanas e mandibulares, as abelhas são capazes de produzir geleia real. Para os humanos, os benefícios incluem estimulação de bem-estar e vigor físico, correção de alimentação deficiente e fortalecimento do organismo (Modro et al., 2007).

A geleia real é produzida pelas abelhas operárias mais novas. Na colmeia, é usada como alimento das crias e da abelha rainha, entretanto, é produzida por apicultores a fim de comercializá-la em natural, misturada com mel ou mesmo seca em tabletes. É uma substância rica em proteínas, água, açúcares, gorduras e vitaminas. Seu sabor é ácido forte e possui coloração branco-leitosa. Também é utilizada pelas indústrias de produtos de beleza e medicamentos (Barbosa et al., 2007).

A apitoxina é o veneno de abelha Apis mellifera. É um líquido transparente, incolor e muito solúvel em água. Possui cerca de cinquenta componentes identificados, sendo muitos deles tóxicos para vários animais. Entretanto, também possui efeitos benéficos uma vez que é utilizado pelas abelhas como forma de defesa e proteção da colmeia, e também para o tratamento de eczemas, úlceras tópicas, infecções, problemas reumatológicos, cardiovasculares, pulmonares e ortopédicos nos humanos (Modanesi, 2012).

Um dos produtos considerados mais puros da natureza é o mel, derivado do néctar que é coletado e transformado pelas abelhas. É um alimento apreciado por seu sabor característico e por seu considerável valor nutritivo (Just; Nespolo, 2010). De maneira geral, o mel de abelha é composto por cerca de 40% de frutose, 20% de água, aminoácidos, vitaminas (ácido nicotínico, piridoxina e tiamina), enzimas (diástase, invertase, catalase e glicose-oxidase), peróxido de hidrogênio e minerais (potássio, ferro, magnésio, fósforo, cobre, zinco e cálcio) (Alves et al., 2008).

O mel é uma substância viscosa, aromática e açucarada, podendo ter o seu aroma, paladar, coloração, viscosidade e até mesmo as suas propriedades medicinais ligadas diretamente à fonte de néctar que o originou e a espécie de abelha que o produziu (Carmargo; Pereira; Lopes, 2002).

Além de suas propriedades nutritivas, o mel também vem sendo utilizado desde os tempos antigos como remédio no tratamento de feridas agudas como as queimaduras e as lacerações, e de feridas crônicas como as úlceras (Jull; Rodgers; Walker, 2008).

Características da pele e o processo de cicatrização de feridas

A pele é o maior órgão do corpo humano, possuindo diversos tecidos, tipos celulares e estruturas especializadas, distribuídos em camadas interdependentes. É um órgão de defesa e de revestimento externo, com capacidade de se adaptar às variações do meio ambiente e às necessidades do organismo que protege, cobrindo-o em sua totalidade (Cestari, 2018).

As funções da pele incluem percepção, termorregulação, secreção sebácea e proteção, criando uma barreira que impede a penetração de agentes externos e impede perdas de água, eletrólitos e outras substâncias do meio interno (Sampaio; Rivitti, 2014).

Figura 4 - Camadas da pele. Fonte: Encyclopedia Britannica, Inc., (2010).
Figura 4 – Camadas da pele. Fonte: Encyclopedia Britannica, Inc., (2010).

A pele é formada por epiderme e derme, suas porções epitelial e conjuntiva, respectivamente (Figura 4). Abaixo da derme encontra-se a hipoderme ou tecido celular subcutâneo, entretanto a hipoderme não faz parte da pele, apenas a une com os órgãos subjacentes (Junqueira; Carneiro, 2008).

A epiderme é a camada epitelial da superfície, que está em contato com o ambiente externo. Invaginações desta camada produzem glândulas sudoríparas, folículos pilosos e outros anexos epidérmicos. A derme é uma camada média de sustentação que contém os anexos cutâneos, vasos sanguíneos, nervos e terminais nervosos. A subcutânea é a camada mais profunda, que varia em tamanho e em conteúdo, sendo, em geral, composta principalmente de tecido adiposo (Stevens; Lowe, 1997).

Uma ferida é representada pela interrupção da continuidade de um tecido corpóreo, em maior ou em menor extensão, causada por qualquer tipo de trauma físico, químico, mecânico ou desencadeada por uma afecção clínica (Brito et al., 2013).

O processo de cicatrização de uma ferida passa por determinadas etapas como: coagulação, inflamação, proliferação, contração da ferida e remodelamento (Mandelbaum; Santis, 2003).

A coagulação se inicia logo após o surgimento da lesão e substâncias vasoativas, proteínas adesivas, fatores de crescimento e proteases são liberadas para determinar as próximas fases. Ocorre uma vasoconstrição a fim de minimizar a hemorragia (Paganela Et Al., 2009).

A fase inflamatória ocorre, também, logo após o surgimento da lesão, porém, têm duração de três dias. Nesta fase, a migração sequencial das células para a ferida é facilitada por mediadores bioquímicos que aumentam a permeabilidade vascular, favorecendo a exsudação plasmática e a passagem de elementos celulares para a área da ferida (Tazima; Vicente; Moriya, 2008).

A fase proliferativa inicia-se por volta do terceiro dia após a lesão, perdura por duas a três semanas e é o marco inicial da formação da cicatriz (Tazima; Vicente; Moriya, 2008).

Essa fase é representada pela reepitelização, angiogênese e fibroplasia. A reepitelização permite reconstituir a integridade da permeabilidade da epiderme, enquanto a angiogênese é um processo de reconstrução da derme caracterizado pela formação de tecido de granulação. A etapa da fibroplasia inclui a síntese de colágeno e proteínas da matriz extracelular, envolvendo a migração e proliferação dos fibroblastos para o coágulo de fibrina formado precocemente no processo de cicatrização (Laureano; Rodrigues, 2011).

A contração das paredes marginais da lesão é realizada pelos fibroblastos ativados, os quais se diferenciam em miofibroblastos. Os miofibroblastos contêm fibras intracelulares de actina e miosina e formam fibronexus com a matriz extracelular e outras células dentro da cavidade da lesão (Paganela et al., 2009).

Finalizado a cicatrização, temos a fase do remodelamento com duração de meses. Ocorre no colágeno e na matriz. Os elementos reparativos da cicatrização são transformados em tecido maduro de características bem diferenciadas, portanto, há um aumento da força de tensão e diminuição do tamanho da cicatriz e do eritema (Oliveira; Dias, 2012).

A cicatrização de feridas pode ser afetada por fatores endógenos (fisiopatológicos) ou fatores exógenos (microrganismos). O risco de infecção aumenta à medida que as condições locais favorecem a invasão bacteriana e crescimento (Al-Waili; Salom; Al-Ghamdi, 2011).

Os antibióticos sistêmicos são uma opção para os pacientes com feridas, principalmente aqueles com queimaduras que são os mais susceptíveis a infecção, entretanto, têm baixa taxa de penetração em tecido morto e pode causar resistência. Existem muitos antissépticos disponíveis para tratamento tópico, mas com efeitos prejudiciais ao processo de cicatrização (Boekema; Pool; Ulrich, 2012).

A Utilização Do Mel Na Cicatrização De Feridas

De acordo com Mathews e Binnington (2002) existem diversos documentos relatando a eficácia do mel na cicatrização de feridas e vários estudos indicam que o mel parece ser superior a muitos métodos modernos de tratamento.

O mel rapidamente desodoriza feridas e as desbrida com facilidade, estimula o crescimento epitelial, minimiza a formação de cicatriz, reduz a inflamação, o edema e a quantidade de exsudato, além de ter efeito “calmante” quando aplicado sobre feridas (Molan, 2014).

Bangroo, Khatri e Chauhan (2005, p. 172) explicam que vários pesquisadores já demonstraram que o mel possui uma atividade antibacteriana contra vários microrganismos, incluindo bactérias Gram-positivas e Gram-negativas. Essa atividade antibacteriana se deve principalmente a substâncias como o peróxido de hidrogênio, flavonoides e ácidos fenólicos.

O efeito antibacteriano do mel é baseado em vários mecanismos. O peróxido de hidrogênio é produzido pela enzima glicose-oxidase quando o mel é diluído pelo exsudato da ferida. O peróxido de hidrogênio ativa os neutrófilos e então são ativados genes que produzem citocinas responsáveis pelo fortalecimento da resposta inflamatória em recruta e ativação de leucócitos (Vandamme et al., 2013).

Além disso, o mel é responsável por criar um ambiente com baixo teor de água, ou seja, com alta osmolaridade uma vez que o plasma e a linfa migram do tecido para a solução e inibem o crescimento bacteriano por diminuição de água (Rodríguez, 2011).

Os compostos fenólicos e os flavonoides têm propriedades captadoras de radicais livres, servindo como bons antioxidantes. Ainda conferem atividades antivirais, antibacterianas e anti-inflamatórias (Oliveira Et Al., 2012).

Outro fator que contribui para a atividade bactericida do mel é o seu pH baixo (Kwakman et al., 2010).

Com pH entre 3,2 a 4,5 o mel inibe ainda mais o crescimento de microrganismos, pois o crescimento ideal para a maioria deles deve ser de 7,2 a 7,4 (Vandamme et al., 2013).

As prostaglandinas são mediadoras da inflamação e da dor. São consideradas como imunossupressores, podendo diminuir muitos aspectos das funções dos linfócitos B e T. O mel natural pode conter matérias-primas que inibem a síntese de prostaglandinas, assim explicando muitos dos efeitos biológicos e terapêuticos do mel, principalmente aqueles relacionados à inflamação, dor, imunidade e cicatrização de feridas. Ainda, sugere-se que o aumento da produção de anticorpos ocorre devido a inibição das prostaglandinas realizada pelo mel (Al- Waili; Salom; Al-Ghamdi, 2011).

A propriedade antibacteriana do mel tem sido o foco quanto ao seu uso na cicatrização de feridas, por isso, sugere-se que mais estudos sejam realizados sobre outros possíveis componentes do mel (Song; Salcido, 2011).

Considerações Finais

A partir das literaturas pesquisadas para a realização deste trabalho, foi possível constatar que as abelhas, especialmente a Apis melífera, são seres extremamente importantes para o planeta. Chamadas de abelhas sociais devido a sua forma de viver em grupos, as abelhas são capazes de produzir substâncias para a sobrevivência, mas também para o usufruto dos seres humanos. O maior exemplo disso é o mel e a própolis, substâncias comumente utilizadas como suplemento alimentício e para fins medicinais. Porém, ainda existem outras opções como o pólen apícola, cera, apitoxina e a geleia real, que fazem parte do processo de sobrevivência das abelhas e entram como produtos utilizados por indústrias de produtos de beleza, farmacêutico e alimentício.

O mel vem sendo utilizado para fins medicinais há muitos anos e, um de seus papéis mais importantes, é na cicatrização de feridas. A sua composição favorece ao efeito antibacteriano, de maneira que se aplicado corretamente sobre as feridas, pode apresentar uma melhora na desodorização, desbridamento e na cicatrização, além de estimular o crescimento epitelial e reduzir a inflamação, o edema e a quantidade de exsudato.

Além de todos os itens produzidos pelas abelhas e que são utilizados também pelos humanos, é importante ressaltar que é apenas um pouco do que as abelhas são capazes de fazer pelo mundo. Elas possuem uma capacidade incomparável de realizar a polinização, que é o processo de retirada do pólen de uma flor para outra, permitindo a fecundação das flores para que haja o surgimento de novos frutos. Sem esse processo, muitos alimentos deixariam de existir.

Entretanto, a grande parte dos estudos realizados sobre a importância das abelhas e de seus produtos são trabalhos antigos, o que sugere que novos estudos sejam feitos a fim de se obter cada vez mais informações sobre seus benefícios.

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