Potencialidades e oportunidades da meliponicultura
Harold Brand – Biólogo, Meliponicultor e Consultor da APA. Profharoldbrand@gmail.com
A criação de abelhas conhecidas no Brasil como abelhas sem ferrão e na Austrália como abelhas produtoras de potes, deixam muitas vezes de serem Hobby ou mesmo no campo de pesquisa, para se tornar umas atividades lucrativas. Isso graças ao desenvolvimento das técnicas de manipulação, o que nos libertou da dependência do processo extrativo no seu ambiente natural.
Os manejos como; a divisão artificial das colméias, alimentação artificial, aquecimento das caixas, intercâmbios de discos de cria, permitem ao meliponicultor passar da fase extrativista combatida pelos ecologistas, para a fase produtora e repositória dessas abelhas no seu ambiente natural, uma vez que elas têm processo de enxameação “silenciosa”.
As maneiras de obtenção de remuneração com a meliponicultura:
1) Venda de colméias
Muitas espécies de melíponas são relativamente fáceis de multiplicar o que as torna rentáveis, para a venda.
Os seus valores variam em função:
Como regra, abelhas maiores como as Uruçus, Mandaçaias, Guaraipo, etc.. tem valores mais elevados, entretanto como dentro de cada espécie existe muita variabilidade o que também influenciam os valores.
Alguns exemplos:
– Manduri de abdômen amarelo tem o seu valor duplicado em relação as outras Manduris.
– Mandaçaia Yellow, contrasta das demais pelo abdômen com os anéis dourados mais largos
– As Guaraipos tem muitas variáveis, as mais escuras são mais populosas e excelentes produtoras de mel.
OBS: Meliponas da mesma espécie de regiões diferentes são freqüentes as variabilidades (cada grupo de populações geneticamente distintas é conhecido como um ecótipo).
b) As abelhas exóticas
As abelhas exóticas, mas bem adaptadas as condições da região sul e boas produtoras de mel são procuradas pelos meliponicultores, o exemplo é a Uruçu Nordestina, bem adaptável e boa produtora de mel.
c) Condição de vitalidade das colmeias
O tamanho da população, a quantidade e tamanho dos potes e o número de discos de cria.
d) O visual da caixa e sua praticidade
O modelo, a madeira empregada e o acabamento são fatores avaliados na formação do preço final.
2) Venda de mel
O valor do mel das abelhas “sem ferrão” tem como referência o valor do mel da Apis, multiplicado por 8 ou mesmo por 10. O mel de Jataí é o mais conhecido e divulgado na região sul, o mel das outras espécies é pouco conhecido, mas o preço referência é o mesmo.
Testes gustativos realizados no Mercado Municipal de Curitiba com amostras de mel de várias espécies como: Mirins, Mandaçaia, Uruçu, Manduri, Jataí, Tubuna, obtiveram destaque, com as maiores notas pelo aroma e sabor, o mel de Jataí e Tubuna.
Saborear o mel das nossas abelhas é privilégio de poucas pessoas, é o “NECTAR DOS DEUSES”.
3) Mel Método Expresso
É uma técnica usada pelos pesquisadores russos com as abelhas Apis, mas que se presta muito bem com as nossas abelhas nativas, principalmente com a Uruçu que é boa produtora de mel em potes grandes. Esse método consiste em acrescentar na ração alimentar das abelhas, substâncias biologicamente ativas que as abelhas metabolizam e acrescentam ao seu mel.
A vantagem de acrescentar substâncias do nosso interesse no substrato alimentar das abelhas é aproveitar a capacidade inata que elas possuem, de equalizar e incorporar aos outros componentes químicos do mel. O mel promove a permeabilidade celular com baixa toxidade sistêmica, o que facilita a absorção, difusão e potencialização das substâncias acrescentadas.
As substâncias administradas multiplicam os seus efeitos podendo ser usadas em frações muito menores do que normalmente utilizadas como medicamentos. Devido à multiplicidade de substâncias que podem ser usadas por esse método fica difícil quantificar qualquer valor monetário.
4) Própolis
Até recentemente as abelhas eram consideradas produtoras de substâncias formadoras da própolis, entretanto as análises comparativas entre as substâncias componentes da própolis das colméias, com os produtos tirados das plantas visitadas pelas mesmas, nos revelam praticamente a mesma identidade química.
As análises cromatográficas das própolis identificam enormes variabilidades de substâncias biologicamente ativas e que as mesmas estão intimamente relacionadas com o “Pasto Floral”, ou seja, das espécies botânicas onde as abelhas coletam as secreções do metabolismo vegetal.
Essas secreções são produzidas pelas plantas em resposta aos agentes agressivos do meio ambiente: vírus, bactérias, fungos, insetos, raios ultravioletas, etc….As mesmas são denominadas de resinas pelos químicos e metabólicos secundários pelos botânicos.
A qualidade da própolis depende da flora onde as abelhas estão inseridas e também das espécies de abelhas que manipulam esse material. Como o Brasil é o mais rico país em número de espécies de abelhas nativas, é fácil entender a grande variedade de própolis.
A quantidade de própolis produzidas por espécie de abelha.
A Apis produz entre 250 a 800 gramas de própolis por ano, dependendo do manejo, as Tubunas e Mandaçaias são campeãs em quantidade, um caso documentado de uma única família de Tubuna foi obtido 11.200 gramas de própolis de excelente qualidade.
No Estado do Paraná é possível identificar 5 tipos de própolis da abelha Jataí( Ver artigo: Jataí – abelha farmacêutica I e II ).
Os componentes químicos podem ser empregados na elaboração de sabonetes, xampus, pomadas, protetores solares, cicatrizantes, conservantes de alimentos, bactericidas, anestésicos, etc…
A grande questão dos derivados da própolis é obtenção de quantidades necessárias para seu emprego comercial.
5) Cera
A cera das nossas abelhas já foi muito usada na confecção de velas no tempo do Brasil império, antes da introdução da Apis. E mais tarde usadas na agricultura em enxertia de plantas para evitar a perda de água e contaminação.
Uma experiência simples nos permite avaliar a diferença entre a cera de apis a das abelhas sem ferão, para isso basta amassar pequena porção de cera de Apis entre os dedos e logo após usar o mesmo procedimento com cera de jataí. Fácil sentir a diferença, a cera das nossas abelhas é bem macia e aromática. Essa delicada maciez e as substancias aromáticas agregadas à torna um produto de alto valor na indústria de cosméticos.
6) Discos de cria
Um bom disco de cria com abelhas nascentes tem o seu preço em torno de 15% sobre os valores das famílias.
Exemplo, preço da família Uruçu – R$ 400,00.
Preço de um disco R$ 60,00
OBS: Os discos da Tribo Trigonini devem estar acompanhados de realeira ou somente realeiras.
7) Turismo Gustativo
As maiorias dessas abelhas se prestam ao turismo gustativo, pois as colméias podem ser abertas na presença de turistas para mostrar a estrutura social e a gustação in loco do seu mel. O sabor do mel é uma característica da espécie como também reflete o pasto apícola onde a abelha está inserida.
8) Agentes de polinização
A grande variedade de grão de pólen contido nos potes é indicativa da capacidade de polinização dessas abelhas. Muitas espécies têm adaptações especiais que facilitam a polinização, como ultra-som, estrutura anatômicas, que a Apis não tem.
Elas se prestam bem a projetos de polinização migratória, fáceis de deslocar de uma região para outra sem riscos de acidentes sérios como no manejo com a Apis.
A grande tendência na agricultura moderna é desenvolver culturas em estufas, onde os cultivares está abrigado dos insetos e patógenos externos evitando o uso de defensivos químicos. A grande questão nesses ambientes fechados é a polinização. Certamente não será a Apis que ocupara esse espaço, devido o seu potencial de agressividade. Um bom exemplo vem dos australianos, eles vêm intensificando pesquisas com as suas abelhas indígenas (Trigonini). Os japoneses nas suas culturas abrigadas já fazem uso das nossas abelhas como a irai.