ALIMENTADOR MODELO ROSO PARA ABELHAS NATIVAS SEM FERRÃO

Desenvolvido por Vanerlei Mozaquatro Roso (Zootecnista e Meliponicultor) – Porto Alegre RS

Introdução

A alimentação complementar das abelhas sem ferrão, especialmente nos períodos de entressafra, é uma prática cada vez mais comum entre os meliponicultores. A receita mais conhecida consiste numa mistura (xarope) de água e açúcar na proporção de 1:1 (1 litro de água para 1 kg de açúcar), podendo ser acrescido algum produto que contenha aminoácidos, sais minerais e vitaminas. O alimento pode ser fornecido às abelhas de diversas formas.

A forma mais difundida entre os meliponicultores consiste em copinhos com alguns palitos de madeira ou lâminas de cera (ou cerume) colocados no interior da colmeia. A necessidade de se abrir cada colmeia para fornecer o alimento e monitorar o consumo resulta num aumento significativo da mão-de-obra, especialmente nos meliponários com grande número de colmeias.

Em determinadas situações o alimento pode ser fornecido às abelhas por meio de alimentadores coletivos, que são muito práticos e requerem pouca mão-de-obra. O grande inconveniente desse tipo de alimentador, entretanto, é que não se tem um controle efetivo sobre as espécies de abelhas que terão acesso ao alimento. Em alguns meliponários é comum os alimentadores coletivos serem tomados por abelhas com ferrão (Apis mellifera) poucos minutos após o fornecimento do alimento, colocando em risco a segurança das pessoas e dos animais.

Existem ainda os alimentadores semi-internos, com destaque para o alimentador Pernambuco, usado com sucesso na alimentação da abelha jandaíra, especialmente na região Nordeste. Nesse tipo de alimentador o abastecimento é externo, mas o acesso ao alimento ocorre na parte interna da colmeia. O alimentador tipo Pernambuco apresenta algumas dificuldades de uso em espécies de abelhas mais propensas à deposição de geoprópolis no interior da colmeia, como é o caso da mandaçaia. Trabalhando com a abelha mandaçaia anthidioides (Melipona quadrifasciata anthidioides), Sampaio e colaboradores (2013) relataram que essas abelhas depositavam geoprópolis no local de acesso ao alimento e que eram dispendidos aproximadamente 10 min por alimentador para deixá-lo em condições de ser usado novamente.

Diante das limitações e dificuldades práticas observadas com os diversos tipos de alimentadores disponíveis para as abelhas sem ferrão, fui levado pensar e desenvolver uma alternativa que reunisse o maior número características desejáveis sob o ponto de vista das abelhas e do meliponicultor. Foi assim que surgiu o Alimentador Modelo Roso. Esta denominação foi sugerida pelo professor e meliponicultor Marco Aurélio Silveira Torres, profundo conhecedor e divulgador desta atividade apaixonante que é a meliponicultura.

Descrição do Alimentador Modelo Roso

As principais características do alimentador modelo Roso são sua simplicidade, praticidade e funcionalidade. O alimentador é composto por apenas duas peças: uma base de madeira e uma garrafa de plástico (ou vidro) transparente. A base de madeira possui dois furos, um para acesso das abelhas à colmeia e outro para acoplar a garrafa que contém o alimento liquido. A tampa da garrafa possui um furo de dois mm de diâmetro. A base de madeira é instalada na entrada da colmeia formando o túnel de entrada. É por meio deste túnel que as abelhas alcançam o alimento.

Características Desejáveis do Alimentador Modelo Roso

Apesar de sua simplicidade, o alimentador modelo Roso possui uma série de características desejáveis, compatíveis com as boas práticas da meliponicultura moderna, dentre elas:

Praticidade: para alimentar as abelhas basta substituir as garrafas vazias por garrafas cheias, sem a necessidade de abrir as colmeias. Em poucos minutos pode-se fornecer alimento para um grande número de colmeias.

Funcionalidade: as abelhas alcançam o alimento de maneira muito fácil, por meio do túnel de entrada. Em pouco tempo o conteúdo da garrafa é transferido para os potes localizados no interior da colmeia.

Ausência de propolização: não se perde tempo removendo geoprópolis do alimentador, pois não ocorre fechamento após o consumo do alimento. Isto acontece porque o acesso ao alimento se dá no túnel de entrada, local de trânsito das abelhas. As abelhas não depositam geoprópolis nesse local.

Não expõe as abelhas às condições de clima adverso, já que não há necessidade de abrir a colmeia. Isto é especialmente importante para a região sul do Brasil, onde o inverno apresenta ventos frios e temperaturas muito baixas.

Não ocorre pilhagem: o túnel de entrada, por onde as abelhas alcançam o alimento, é uma região protegida pelas abelhas guardiãs. Em condições normais elas não permitem a entrada de intrusos interessados em “roubar” o alimento.

Controle do consumo: a garrafa transparente, que compõe o alimentador, possibilita o controle da quantidade de alimento consumido por cada colmeia.

Facilidade na confecção: qualquer pessoa com conhecimentos mínimos de marcenaria terá condições de fabricar o alimentador. As ferramentas necessárias são apenas um serrote, uma furadeira comum e algumas brocas. Maior rendimento poderá ser obtido na fabricação do alimentador, entretanto, se uma serra e uma furadeira de bancada forem empregadas para confeccionar a base do alimentador.

Baixo custo: o material utilizado na confecção do alimentador consiste numa base de madeira, uma garrafa de plástico e dois parafusos (ou dois pregos) para fixação do alimentador na caixa. O custo estimado para fabricação de um alimentador com uma base de eucalipto de 4 x 6 x 12 cm, uma garrafa tipo coquinha de 100 ml, adquirida no ML, e dois parafusos para fixação é de aproximadamente R$ 1,50 na data de hoje (março 2018).

Ecologicamente correto: o alimentador pode ser fabricado com sobras (tacos) de madeira e garrafinhas recicláveis de refrigerante, contribuindo para com o meio ambiente.

Versatilidade: com o simples aumento do furo da garrafa e a introdução de um refil, o alimentador pode ser usado para fornecer alimento proteico, na forma de uma pasta ou na forma sólida.

O alimentador permite outras possibilidades como, por exemplo, o fornecimento de água para aumentar a umidificação em colmeias de abelhas que necessitam de mais umidade para um bom desempenho (Marco Aurélio Silveira Torres, informação pessoal).

Utilização do Alimentador Modelo Roso

O alimentador modelo Roso foi desenvolvido em maio de 2017 e vem sendo usado desde então com muito êxito para fornecer alimentação suplementar no Meliponário Roso, localizado em Porto Alegre-RS, onde são mantidas cerca de 100 colônias de abelhas nativas sem ferrão das espécies mandaçaia (Melipona quadrifasciata quadrifasciata), guaraipo (Melipona bicolor schenky), bugia (Melipona rufiventris mondury), jataí (Tetragonisca angustula), mirim droriana (Plebeia droryana) e mirim guaçu (Plebeia remota). A expectativa é que este modelo de alimentador possa ser utilizado com sucesso na maioria das espécies de abelhas nativas sem ferrão.

Faça Você Mesmo, É Muito Fácil.

O alimentador modelo ROSO pode ser confeccionado de maneira muito fácil e rápida.

Corte uma peça de madeira de 4 x 6 x 12 cm para formar a base do alimentador. Essas medidas podem ser alteradas conforme a disponibilidade de madeira na propriedade. Sobras (tacos) de madeira utilizada na construção das caixas podem ser usadas.

Faça o furo (túnel) de entrada no meio da peça de madeira, no lado que contem 4 cm. O diâmetro da broca utilizada deve ser compatível com a espécie de abelha a ser alimentada. Para as abelhas mandaçaia, guaraipo e bugia, por exemplo, pode ser usada uma broca com 12 mm de diâmetro.

Faça o furo onde será acoplada a garrafa, no meio da peça, no lado que contem 6 cm. Para isto pode-se usar uma broca tipo Forstner ou uma broca chata com 30 mm de diâmetro. Tenha cuidado para que este furo chegue até o túnel de entrada, pois é através dele que as abelhas alcançarão o alimento.

Faça dois furos para os parafusos (ou pregos) de fixarão do alimentador na colmeia.

Providencie uma garrafa de plástico transparente e faça um furo de 2 mm no centro da tampa. A tampa deve ter 28 mm de diâmetro para que encaixe perfeitamente no furo de 30 mm da base do alimentador.

FORNECIMENTO DE SUPLEMENTO PROTEICO

O alimentador modelo ROSO também pode ser utilizado para fornecer suplemento proteico às abelhas. Basta fazer um furo de aproximadamente 12 mm na tampa da garrafa e introduzir um refil com o suplemento, na forma de uma pasta ou na forma sólida. A pasta deve ser suficientemente firme para não escorrer e bloquear o túnel de entrada. O refil pode ser confeccionado a partir de um pedaço de conduíte corrugado. Ele deve ser fechado na parte superior para que as abelhas não subam para o interior da garrafa após consumir todo o alimento.

Considerações Finais

O alimentador modelo ROSO é uma ferramenta inovadora que conseguiu combinar de maneira muito simples uma série de características desejáveis para um bom sistema de suplementação das abelhas nativas sem ferrão. Sua praticidade e versatilidade o qualificam como importante aliado dos meliponicultores no momento de alimentar as abelhas.