A importância das Abelhas
Polinização, Biodiversidade, Meio Ambiente

Profa. Dra. Andresa Aparecida Berretta
Farmacêutica-Bioquímica, Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (FCFRP/USP-RP), com mestrado, doutorado e pós-doutorado pela mesma faculdade. É Farmacêutica Responsável pela Apis Flora Indl. Coml. Ltda., onde exerce sua profissão há 17 anos. É sócia-fundadora da Empresa Eleve Pesquisa e Desenvolvimento Ltda, e atualmente é Vice-Presidente da ABEMEL.

A produção de alimentos está ameaçada em várias regiões do mundo, sendo que o desmatamento é uma das principais causas desse evento, uma vez que ele afeta diretamente as populações de abelhas (Imperatriz-Fonseca & Nunes-Silva, 2010). Ainda, essa produção tem sido desafiada pelas mudanças climáticas e uso da terra, e pelo crescimento expansivo da população (Giannini et al. 2015).

Figura 1 – (A) Apresentação de uma flor perfeita (presença de órgão masculino e feminino) e flores imperfeitas, só apresentam um dos dois sexos (feminino ou masculino). (B) Demonstração de um processo de polinização, onde a abelha visita a flor, coleta pólen da antera em seu corpo e leva esse pólen até o estigma, favorecendo o contato entre a parte masculina e feminina da planta e promovendo a fecundação e geração de sementes e frutos. Extraído de Witter et al. 2014.
Figura 1 – (A) Apresentação de uma flor perfeita (presença de órgão masculino e feminino) e
flores imperfeitas, só apresentam um dos dois sexos (feminino ou masculino). (B) Demonstração
de um processo de polinização, onde a abelha visita a flor, coleta pólen da antera em seu corpo
e leva esse pólen até o estigma, favorecendo o contato entre a parte masculina e feminina da
planta e promovendo a fecundação e geração de sementes e frutos. Extraído de Witter et al. 2014.

A polinização é um serviço ecossistêmico que é essencial para a manutenção das populações selvagens de plantas e para a produção em ambientes agrícolas (Imperatriz-Fonseca & Nunes-Silva, 2010). Os insetos se destacam dentre os agentes polinizadores em virtude de sua eficiência e abundância na natureza. Cerca de 75% das culturas e 87,5% das plantas com flores dependem da polinização animal, e as abelhas são reconhecidas como os principais agentes nesse processo (Klein et al., 2007; Ollerton et al., 2011).

A polinização é um processo ecológico-chave, pois é o primeiro passo da reprodução vegetal e, portanto, essencial para a manutenção da vegetação nativa e dos animais que dela dependem, bem como para a produção de frutos e sementes em vários cultivos agrícolas, garantindo assim a sustentabilidade dos agro ecossistemas (Souza et al. 2007).

Na natureza existem as flores perfeitas e as imperfeitas, as primeiras apresentam a porção masculina e a porção feminina enquanto as flores imperfeitas apresentam somente o órgão masculino ou feminino (Witter et al. 2014) (Figura 1A).

A polinização consiste na transferência do pólen presente na antera, porção masculina da flor, para o estigma, porção feminina. No estigma, o pólen, caso seja compatível geneticamente, desenvolve um tubo que cresce até alcançar o óvulo no ovário, fecundando-o. Assim, a fecundação dos óvulos da flor depende do sucesso da polinização. Estando fecundados, os óvulos se transformam em sementes e o ovário em fruto (Delaplane & Mayer, 2000). A polinização pode ocorrer de várias formas, como através da ação do vento, da gravidade ou pela participação de insetos, sendo esta última a mais efetiva (Witter et al. 2014) (Figura 1B).

A polinização pode ser de dois tipos: autopolinização ou polinização cruzada. No primeiro caso, a flor recebe um pólen próprio ou de outra flor da mesma planta. No segundo, a flor recebe o pólen de flores de outras plantas da mesma espécie. A fecundação entre parentes próximos pode oferecer um número menor de descendentes e com vigor e saúde comprometidos. Desse modo, a autopolinização, em geral, gera poucos frutos, deformados e menores (Delaplane & Mayer, 2000).

Algumas plantas não aceitam a autopolinização em função de um mecanismo fisiológico com base genética denominado de autoincompatibilidade (Schiffino-Wittmann & Agnol, 2002). Outras plantas possuem mecanismos que dificultam ou impedem a autopolinização, como a distância entre a parte masculina e feminina na flor, a morfologia, grau de compatibilidade e o amadurecimento de cada órgão em momento distinto (Witter et al 2014). As plantas mais dependentes de polinização por insetos são as que apresentam flores imperfeitas, na mesma planta ou em plantas diferentes de mesma espécie. Nestes casos, a ausência do polinizador impede a produção de sementes e frutos. Já nos casos das flores perfeitas, onde pode ocorrer a autopolinização (soja e feijão, p.ex.) ou a polinização pelo vento (mamona e coco, p.ex.), a presença das abelhas otimiza o processo, gerando sementes e frutos de melhor qualidade (Delaplane & Mayer, 2000; Milfont et al. 2013) (Figura 2).

A interação entre as abelhas e as plantas garantiu aos vegetais o sucesso da polinização cruzada, que constitui importante evolução na adaptação das plantas, aumento do vigor das espécies, tornando possível novas combinações de fatores hereditários e aumento da produção de frutas e sementes, além da melhor qualidade dos frutos. Além das abelhas nativas, as abelhas naturalizadas também dependem da vegetação nativa ou introduzida para a garantia da sobrevivência da colmeia, garantindo reserva de mel e pólen (Souza et al. 2007).

Cerca de 85% das plantas com flores presentes nas matas e florestas da natureza, dependem, em algum momento, dos polinizadores para se reproduzirem. Sendo assim, as abelhas cumprem um papel imprescindível, verdadeiros “cupidos da natureza”, transportando o pólen entre as plantas, e garantindo assim a variação genética tão importante ao desenvolvimento das espécies, o equilíbrio dos ecossistemas, e a reprodução das espécies. Nunca é demais lembrar que, ao fazerem isto, contribuem para que existam plantas suficientes para a produção de parte do oxigênio vital para toda a forma viva em nosso planeta (http://www.semabelhasemalimento.com.br/home/polinizacao/).

As abelhas, assim como outros insetos necessitam de nutrientes essenciais para o seu desenvolvimento, manutenção das crias e crescimento da colônia, e essas exigências nutricionais normalmente são supridas pela coleta de néctar, pólen e água. O néctar coletado pelas forrageadoras é a principal fonte de carboidratos, o pólen é a fonte natural de proteínas, vitaminas, minerais e também a fonte de lipídeos. E é durante a coleta de néctar e pólen para suprir as necessidades nutricionais da colônia, que as abelhas forrageiras voando de flor em flor que realizam o mais nobre serviço a produção de alimentos: a polinização (Zandonadi & da Silva, 2005).

Figura 2 – Morangos polinizados por insetos (esquerda), autopolinizados de forma passiva (meio) e polinizados pelo vento. Extraído de FAO, 2009.
Figura 2 – Morangos polinizados por insetos (esquerda), autopolinizados de forma passiva (meio)
e polinizados pelo vento. Extraído de FAO, 2009.

O processo de polinização é um ganha-ganha para o meio ambiente e para a abelha, uma vez que as plantas e o meio ambiente ganham com a geração de sementes de maior qualidade genética em função da polinização cruzada, e a abelha se alimenta do néctar das flores. Assim, quando a abelha vai se alimentar do néctar das flores, ela carrega os grãos dos pólens que ficam aderidos em seu corpo, levando-os de flor em flor. Como consequência de ação primária que é a alimentação das abelhas e a polinização, a abelha produz de forma secundária o mel, que é um subproduto da polinização.

Origem das Abelhas Apis melífera no Brasil E Atividade Apícola

Com a finalidade de obter uma maior produtividade, tanto com os produtos diretamente produzidos pelas abelhas como com o incremento da produção agrícola mediante a sua polinização, desenvolveu-se a atividade apícola. A apicultura é definida por Muxfeldt (1968) como a “a arte de preservar abelhas, respeitando suas características e particularidades.

A atividade apícola não é recente, uma enorme quantidade de fatos demonstram que, desde tempos mais remotos, já havia um grande interesse do homem pelas abelhas e seus produtos. Schirmer (1986) relatou que as abelhas acompanham o homem desde a pré-história, não mudando suas atividades. Nesse estudo encontram-se referencias sobre a apicultura em Valência (Espanha), onde um desenho paleolítico de dez mil anos mostra um apicultor recolhendo mel. Igualmente na Alemanha, foi encontrado um favo com aproximadamente dez mil anos, cujos alvéolos tem o mesmo formato dos atuais. Na Europa, na África e na Ásia há relatos e desenhos que permitem concluir que as abelhas já eram exploradas pelo homem, de forma predatória e sem qualquer tipo de manejo, há mais de cinquenta mil anos.

O pioneiro da apicultura nacional, ao qual foi conferido o título do “Pai das Abelhas”, foi o alemão Frederico Augusto Hanemann, nascido no Reino da Saxônia, em 1819. Ele veio, com outro imigrantes alemães colonizar o São Leopoldo, RS, mas foi o primeiro imigrante apicultor a chegar ao país com firme propósito de se dedicar à criação de abelhas em 1853.

Com o advento da expansão européia e a colonização das novas terras descobertas, as abelhas Apis mellifera, que a princípio ocupavam somente o Velho Mundo, foram introduzidas em locais onde originalmente não existiam. As primeiras introduções documentadas nas Américas datam do século XVIII com a introdução de colméias da Europa Ocidental, provavelmente de A. m. mellifera nos Estados Unidos (Ruttner, 1992). Em terras brasileiras, elas primeiro foram introduzidas em 1839, quando o Reverendo Antônio Carneiro mandou vir da Europa colméias de A. m. mellifera. Com a introdução destas abelhas, além do objetivo de se produzir mel, pretendia-se utilizar a cera branca produzida por elas para a fabricação de velas para fins religiosos, uma vez que a cera produzida pelas abelhas sem ferrão nativas é de cor amarronzada, por ser uma mistura de cera e resinas, entre outros produtos. Primeiramente foram introduzidas nove colméias, sendo que destas, duas pereceram. Ao final do primeiro ano o número de colmeias já era de 50 e ao final do ano seguinte, mais de duzentas, que foram então entregues aos cuidados do governo local (Nogueira-Neto, 1972). Durante os anos seguintes, com a chegada de mais imigrantes, foram também introduzidas no Brasil as subespécies A. m. ligustica, A. m. carnica e A. m. caucasica entre outras, sendo as duas primeiras, juntamente com A. m. mellifera as principais subespécies européias introduzidas em nossas terras (Gonçalves, 1994).

Desta maneira, até o ano de 1956, somente as subespécies européias haviam sido introduzidas no Brasil. Entretanto, na década de 50, agências apícolas, órgãos governamentais, apicultores e cooperativas manifestaram seu descontentamento com a baixa produtividade das abelhas pretas (A. m. mellifera) em nosso país, bem como também com a dificuldade de “italianizar” nossas abelhas (Kerr, 1967). Após uma extensa busca na literatura apícola mundial, foram encontrados relatos de um apicultor da África do Sul chamado E. A. Schnetler que conseguia médias anuais que giravam em torno de 70 kg de mel por colméia utilizando-se da subespécie até então conhecida como A. m. adansonii (Kerr & Portugal-Araújo, 1958) que teve seu nome mudado para A. m. scutellata (Ruttner et al., 1978). No ano de 1956, o então eminente geneticista Prof. Dr. Warwick Estevan Kerr foi contemplado com o Prêmio Nacional de Genética “André Dreyfus”, o que possibilitou sua viagem ao continente africano de agosto a dezembro de 1956 com o intuito de que rainhas da referida subespécie fossem importadas para o Brasil. Dentre todas as rainhas que foram trazidas para o Brasil, 48 sobreviveram, sendo que destas, 26 eram consideradas “as mais produtivas e trabalhadeiras” que o autor já tinha visto até então (Kerr, 1957). Destas, 35 colônias foram transportadas para uma floresta de Eucalipto no Horto de Camacuã, nas proximidades da cidade de Rio Claro – SP para a realização de testes e cada uma das colônias teve sua entrada protegida por uma tela excluídora de rainhas. Um apicultor visitante retirou as telas e quando os pesquisadores tomaram conhecimento do fato, enxames de 26 colônias já haviam abandonado o local, estabelecendo-se então como colônias selvagens (Kerr, 1967). Iniciou-se então uma rápida expansão das abelhas para todas as direções no Brasil, realizando cruzamentos com as subespécies européias pré- introduzidas, que eram mantidas principalmente em apiários, resultando em um poli- híbrido (Kerr, 1967) que foi posteriormente chamado de abelha africanizada (Gonçalves, 1974). Nestes híbridos predominaram principalmente as características da subespécie africana como uma alta capacidade enxameatória, alta produtividade, forte comportamento defensivo e uma alta adaptabilidade. Todas estas características aliadas ajudaram as abelhas africanizadas a rapidamente se estabelecer como populações silvestres nas regiões Neotropicais (Lobo & Krieger, 1992).

Assim, a origem das abelhas africanizadas no Brasil surge do cruzamento entre as abelhas Apis mellífera melífera que vieram da Europa desde 1839 com as abelhas Apis mellífera scultellata, que chegaram da África em 1956. Esse poli-híbrido, com características morfológicas e genéticas distintas da Apis europeia e da Apis scutellata foi publicado na literatura pelo geneticista Dr. Kerr em 1967, ou seja, há 50 anos. Assim, a questão da abelha Apis ser considerada um animal exótico é questionável, pois as abelhas Européias (diferentes subespecies de Apis) foram introduzidas no Brasil ao redor de 1840-1850 e as Apis mellifera scutellata, chegaram em 1956. Quanto tempo é necessário para que uma espécie deixe de ser considerada exótica?? Elas já se hibridizaram, a o ocorrência desse poli-hibrido (abelha africanizada) ocorreu em território Brasileiro, com características diferentes da originais européias e africanas. Portanto, o híbrido não é mais exótico (Prof. Dr. Ademilson Espencer, USP/Ribeirão Preto).

Figura 3 - Mapa monstrando a expansão das abelhas africanizadas ao longo do continente americano. Os círculos coloridos indicam o ano em que os enxames foram encontrados nas regiões (Ruttner, 1992).
Figura 3 – Mapa monstrando a expansão das abelhas africanizadas ao longo do continente
americano. Os círculos coloridos indicam o ano em que os enxames foram encontrados nas
regiões (Ruttner, 1992).

Devido principalmente a sua alta capacidade enxameatória e às condições favoráveis que estas abelhas encontraram nos territórios Neotropicais, elas rapidamente se espalharam pelas Américas, colonizando o Brasil em 15 anos (Taylor, 1977) e, subsequentemente, quase toda a América do Sul, excetuando-se as regiões abaixo do paralelo 35o na Argentina, onde o limite foi provavelmente imposto pelas baixas temperaturas de inverno encontradas nesta região (Kerr et al., 1982; Sheppard et al., 1999).

Convívio Harmonioso entre as Abelhas Nativas e as Naturalizadas

Embora possa fazer sentido para alguns o banimento de apiários de abelhas Africanizadas em áreas de preservação, na verdade a apicultura colabora para a preservação e segurança nestas áreas. A apicultura, além de ajudar o meio ambiente através da polinização e melhoramento genético das plantas, ajuda a evitar acidentes com abelhas e a presença dos apicultores reduz o risco de fogo e ajuda a inibir extração de madeira e a caça.

O argumento que a manutenção destas abelhas interfere com as espécies nativas do Brasil não tem suporte cientifico, apesar de muitas tentativas de “provar” que as abelhas Africanizadas competem com as espécies nativas. Há muito pouca sobreposição de utilização de recursos florais, conforme demonstrado em uma pesquisa sobre o assunto realizada na Universidade de São Paulo (USP) (Pedro & Camargo, 1991). Conclusões similares saíram de outras publicações internacionais, como Paini (2004) e Roubik & Woulda (2001). No campus da USP em Ribeirão Preto, o Prof. Dr. Ademilson Espencer Egea Soares e seus alunos têm pesquisado as colmeias silvestres naturais de abelhas sócias nativas no próprio campus, alojados em arvores e em cavidades em paredes, edificações e outros. Além de centenas de colmeias em caixas para pesquisa, ele e o seu grupo tem mapeado e cadastrado mais de 1300 ninhos naturais de mais de 25 espécies de meliponíneos, em um campus que também aloja um grande apiário de pesquisa de abelhas Africanizadas, demonstrando que estas abelhas nativas convivem sem problema com abelhas Apis mellifera. http://www5.usp.br/4830/pesquisadores-aproveitam-os-mais-de-13-mil-ninhos-de-abelhas-no-campus-de-ribeirao/. Desse modo, embora alguns grupos tentam alegar que o convívio entre as abelhas nativas e as africanizadas não é possível, a literatura científica, bem como exemplos práticos que existem no Brasil demonstram que isso não é verdade, e que dada a importância da polinização para a diversidade biológica e meio ambiente, e ainda que cada espécie, nativa ou não, tem grande importância para a natureza e faz seu papel para as diferentes flores dada sua morfologia, a importância das abelhas para o Parque é indiscutível.

As abelhas Africanizadas são bastante dinâmicas e vão sempre ocupar o espaço ecológico disponível em áreas rurais, naturais e até em áreas urbanas. Se retirar os apiários, colmeias silvestres desta espécie (Apis mellifera) vão ocorrer em abundancia, abrigando-se nas arvores no mato, em buracos na terra (abaixo de cupinzeiros), em cavernas, e nas edificações, aumentando em muito o risco de acidentes com humanos. Colmeias em apiários ocupam este espaço ecológico, diminuindo o risco para as pessoas e animais, e os apicultores que cuidam destes apiários podem servir como um recurso para remover colmeias que se abrigam em locais inadequados, além de usar caixas iscas para capturar enxames que de outro modo vão nidificar fora dos apiários.

A empresa Fibria tem colaborado com os apicultores que desejam manter apiários nas suas plantações de eucaliptos. Eles perceberam que onde há apicultores, o risco de fogo nestas plantações tem diminuído substancialmente, porque os apicultores agem como agentes de vigilância, reportando e controlando eventuais focos. Há um convívio harmônico para o bem de ambos, plantação de eucalipto e apicultores. http://www.fibria.com.br/midia/releases/com-apoio-da-fibria-programa-colmeias-em-mato-grosso-do-sul-bate-recorde-de-producao-de-mel-em-2016/. Para finalizar, apresentamos o depoimento da bióloga que estuda as populações das abelhas nativas e naturalizadas no campus da USP de Ribeirão Prero: “O que a população precisa saber é que as abelhas têm papel ecológico fundamental para a manutenção da biodiversidade, porque muitas espécies vegetais são polinizadas por abelhas, que levam o pólen de um vegetal a outro, proporcionando a melhor germinação de sementes. E economicamente, as abelhas têm sido cada vez mais estudadas para a polinização de culturas, a fim de que sejam gerados produtos mais saborosos, fruto da maior variabilidade genética da cultura”, ressalta a bióloga Geusa Simone de Freitas, doutora pelo Departamento de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), que pesquisa as abelhas do campus da USP de Ribeirão Preto/SP desde 1999, orientada pelo professor Ademilson Espencer Egea Soares. (http://www5.usp.br/4830/pesquisadores-aproveitam-os-mais-de-13-mil-ninhos-de-abelhas-no-campus-de-ribeirao/ ). No campus da USP de Ribeirão Preto, as abelhas africanizadas e  abelhas indígenas sem ferrão (ASF), convivem há mais de 30 anos sem evidências de declínio das ASF na presença das Africanizadas.

O sumiço das Abelhas

http://www.semabelhasemalimento.com.br/home/abelhas-sumindo/

A apicultura e a meliponicultura no mundo todo enfrentam hoje o seu maior desafio: as abelhas, principais polinizadores da natureza, estão desaparecendo. Os primeiros relatos apontando o desaparecimento em larga escala de abelhas vieram dos EUA, mas hoje este problema também se manifesta na Europa, América do Norte, América Latina e, particularmente, no Brasil.

Estudos científicos indicam que este fenômeno é sintomático e epidêmico, causado por um distúrbio que mundialmente passou a ser denominado CCD (Colony Collapse Disorder – Síndrome do Colapso das Colônias) ou, simplesmente, Síndrome do Desaparecimento das Abelhas.

Porém, o declínio desses importantes polinizadores fica evidente também pelos relatos de mortes massiva de abelhas em apiários e meliponários, um fenômeno que se repete silenciosamente na natureza, atingindo também as abelhas silvestres.

As estatísticas sobre a atividade apícola no Brasil infelizmente são escassas, e um canal para o registro compartilhado do desaparecimento e morte massiva de abelhas apenas começou a ser feito a partir da iniciativa da campanha “Sem Abelha, Sem Alimento”, quando do lançamento do aplicativo Bee Alert. Antes, porém, destaca-se o importante trabalho do pesquisador Prof. Dr. Osmar Malaspina, da Unesp de Rio Claro, que estudou a morte de milhares de colmeias, em particular no estado de SP.

O aplicativo Bee Alert tinha, até fevereiro de 2015, mais de 100 casos documentados na América Latina (sendo 95% deles no Brasil), com aproximadamente 12 mil colmeias afetadas, e cerca de 700 milhões de abelhas exterminadas. Mas o assunto tem ganhado a atenção da mídia, por se apresentar como um problema que evolui e se expande de forma preocupante. O declínio dos polinizadores é, provavelmente, um dos temas que mais intriga a comunidade científica no mundo, por não haver uma razão única. É certo, entretanto, que as múltiplas causas têm, comprovadamente, grande interdependência entre elas.

Agrotóxicos, desmatamento, queimadas, doenças, ácaros, mudanças climáticas, déficit nutricional estão entre as inúmeras causas do desaparecimento ou morte das abelhas. Confira abaixo os principais fatores naturais e os ocasionados pelo homem.

Sem as abelhas, tanto a renovação das matas e florestas, como a produção mundial de frutas e grãos ficariam comprometidas. O equilíbrio dos ecossistemas e da biodiversidade sofreria um sério impacto, o que afetaria diretamente o ser humano de diversas maneiras.

O físico e prêmio Nobel alemão Albert Einstein exercitou o pensamento de como seria um mundo sem abelhas, e sintetizou um pensamento que se mostra um dos mais sábios:

“Se as abelhas desaparecerem da face da Terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas não há polinização, não há reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais, não haverá raça humana.”  Albert Einstein (1879/1955)

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