Associação Terra Indígena do Xingu ganha prêmio da ONU por produção de mel certificado
Texto: Mônica Nunes – Fotos: Marcelo Martins (destaque) e Fabrício Amaral, do Instituto Sociambiental
Fonte: ISA – Instituto Socioambiental
O PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento acaba de premiar o trabalho realizado por 100 apicultores de 39 aldeias dos povos Kawaiwete, Kisêdjê, Ikpeng e Yydja que participam da produção de mel certificado e integram a Associação Terra Indígena do Xingu (Atix).
E a concorrência foi grande!
Cerca de 800 organizações de 120 países inscreveram projetos no Prêmio Equatorial 2017, que destaca iniciativas de desenvolvimento sustentável, que apresentem soluções inovadoras para as cadeiras produtivas no mundo, com foco no combate à pobreza e às mudanças climáticas. Este ano, foram reconhecidas 15 iniciativas de comunidades indígenas e de povos tradicionais da África, América e Ásia.
De acordo com o ISA (Instituto Socioambiental) – que apoia este projeto há duas décadas, que ainda conta com a parceria do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) -, o mel produzido pelos índios do Xingu é uma das “maiores referências em alternativa de geração de renda compatível com os povos da floresta“. E o projeto vai além: garante segurança alimentar para os povos locais, além de direcionar o excedente para comercialização em mercados que respeitam critérios sociais e ambientais.
Com o selo Origens Brasil – que valoriza os produtos florestais por meio de mecanismo de rastreabilidade -, a cada ano são comercializadas aproximadamente duas toneladas de mel. Paralelamente, outros produtos produzidos no Xingu têm conquistado espaço: a pimenta, o óleo de pequi e a meliponicultura (abelhas sem ferrão).
Certificação, como foi a implantação
Eis aqui um grande desafio para os povos do Xingu já que necessitavam da certificação de seus produtos para “conquistar o mundo”, mas não tinham condições de contratar empresas especializadas e seus sistemas auditados. Além de muito caros, falta adequação às particularidades dos povos indígenas, o que dificulta o processo todo.
Foi assim que, em 2015, a Associação se tornou a primeira associação indígena certificadora de produção orgânica. Credenciada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) – responsável pela normatização e fiscalização da produção orgânica no Brasil -, inaugurou o primeiro Sistema Participativo de Garantia (SPG) exclusivamente indígena… do mundo! Muito legal! Com ele, as normas garantem que a própria comunidade organize a estrutura de avaliação e verificação dos produtos e os certifiquem conforme as regras da produção orgânica, o que fortalece o controle social e a transparência.
Com um detalhe: mais do que a certificação do mel do Xingu, esse sistema é uma importante política pública que facilita o acesso de pequenos produtores à certificação orgânica. Ou seja, uma enorme conquista que possibilita que este produtores se organizem em grupos e se autocertifiquem, sem intermediações.