ENXAMEAÇÃO DAS ABELHAS NATIVAS

Harold brand – Biologo-Meliponicultor – Consultor da APA – Ex titular de Genética da PUC. – profharoldbrand@gmail.com

Foto HB. Na foto uma linda princesa de uruçu pronta a participar da enxameação
Foto HB. Na foto uma linda princesa de uruçu pronta a participar da enxameação

A etologia da enxameação das nossas abelhas nativas é bem diferente no seu comportamento do que a da abelha conhecida popularmente como a perigosa, com ferrão. Nessas ultimas, quando ocorre , é verdadeiramente explosiva, o seu enxame parte da colônia mãe na forma de um verdadeiro turbilhão, levando tudo que precisam para fundar uma nova família. O enxoval é completo, suficiente para estabelecer uma nova colônia distante da família que deu sua origem é um grande acontecimento sem volta, do tipo “ou tudo ou nada”.
No ritual das nossas abelhas sem ferrão, no lugar da enxameação explosiva como da Apis ela é silenciosa, gradativa com etapas complexas e delicadas que pode levar semanas para concretizar definitivamente.

As etapas:

A escolha do local

Foto HB. Uruçu na entrada da família mãe prestes a partir para a nova residência levando parte do
Foto HB. Uruçu na entrada da família mãe prestes a partir para a nova residência levando parte
do “enxoval”. Esse transporte pode durar semanas até que o vínculo definitivo mãe e filha
se desfaçam. Essa etologia ajuda explicar porque a distância entre os enxames mãe e filhas
devem ser pequenas.

O local a ser escolhido não pode ser longe da colônia mãe, o motivo são fáceis de entender, elas necessitam manter contato constante com a colônia mãe para obter provisões. As abelhas pequenas como a jataí procuram um local para nidificação a poucos metros da mãe, as maiores como a mandaçaia geralmente um pouco mais longe, podem chegar às vezes até 300 metros.

As conseqüências desse comportamento é uma curiosa distribuição das nossas abelhas no meio ambiente na forma de manchas familiares.

Há na literatura descrição de nidificação de cinco famílias da mesma espécie em uma única arvore frondosa distribuída pelo seu caule e ramos. Minhas experiências na procura de famílias antes de represamento de usinas, na conversa com meleiros, madeireiros, carvoeiros, confirmam essa distribuição.

E esse comportamento é uma “dica” para os pesquisadores de campo e para os meliponicultores, quando localizados uma família a procura de outras nas proximidades deve ser mais cuidadosa, as probabilidades são maiores. Esses agrupamentos originários da mesma família é uma distribuição típica das nossas abelhas nativas decorrente do seu padrão de enxameação.

Nas primeiras etapas algumas campeiras saem a campo na busca de um local, e o que é interessante podem achar vários locais diferentes e iniciar simultaneamente a preparação. O que torna uma incógnita é a atitude de paulatinamente eleger apenas um, passando a concentrar os seus esforços na preparação do local eleito. Como elas entram em acordo em estabelecer apenas um deles: Quem decide? Qual o critério de escolha?

Preparação do local

O primeiro passo é a limpeza, os fragmentos de madeira são jogados para o meio exterior, As frestas são lacradas e a construção da entrada é iniciada. Segue a construção dos potes de mel tudo isso a custo do material transportado da colméia mãe, é a primeira parte do enxoval.

Construção do ninho,

Segue a construção dos invólucros do ninho e no seu interior as células de cria que é o inicio da formação do disco. Agora “ o novo lar” esta apto a receber a princesa.

Partida da princesa

É o momento em que podemos observar uma maior agitação na família mãe, é a partida da princesa com muitas operarias e zangões. Esses últimos são os convidados que percorrem grandes distâncias atraídas pelo aroma irresistível da jovem princesa ( o zangão pode percorrer uma distância até oito vezes o que operaria campeira percorre no seu pasto floral).

É o grande momento em que podemos apreciar uma agitação, a partida para o novo lar. A princesa pode o não ser fecundada nesta fase.

Fase final­­­

Mesmo com inicio da postura da nova rainha, “o vai e vem” entre as colméias pelas operárias continua muitas vezes por semanas.

É o transporte do suprimento para a colônia filha principalmente do material mais “caro” para as abelhas, a cera. (as operarias novas são as que secretam cera, como elas não voam, portanto não participam da enxameação, o suprimento inicial desse valioso material deve vir da colônia mãe).

Nota:

A etologia da enxameação das nossas abelhas nativas sociais justifica porque no espaço geográfico elas se distribuem sob forma de manchas familiares ou clonais. Esse comportamento altera o equilíbrio de Hardy– Weinberg que rege a genética das Populações.

Em outras palavras, o processo evolutivo é mais rápido nas abelhas sem
ferrão comparativamente com a da Apis. Explica em parte porque os exemplos de especiação são mais freqüentes e a existência de mais de 300 espécies dessas abelhas nativas ao passo que na Apis apenas 8 espécies.