Rememorando o Curso de Apicultura Racional no Parque do Xingu.
Histórico sobre a Apicultura Racional no Parque Indígena do Xingu estado de Mato Grosso
Mario Isao Otsuka
1 – O Parque Indígena do Xingu (PIX) foi criado pelo Governo Federal em 196l com área total de 2.642.003 ha. Nos últimos tempos 2 novas áreas foram incorporadas (Suiyá e Batovi), ampliando a área para cerca de 2,8 milhões de hectares. Habitam no Parque atualmente 15 etnias, falando 15 diferentes línguas, com uma população aproximada de 4.000 índios. A língua oficial para a união dos povos xinguanos é o português.
2 – O Instituto Socioambiental (ISA), uma Organização Não Governamental (ONG) mantém no PIX um projeto denominado Apoio à alternativas Econômicas para Etnias Xinguanas, que visa oferecer aos irmãos indígenas a obtenção de recursos para subsistência, respeitando o meio ambiente. Esse Projeto engloba várias atividades, entre as quais a apicultura racional.
3 – A atividade apícola, como coleta de mel baseada no extrativismo já existia no Parque (PIX) e parte da produção já era comercializada fora dele. Já no passado bastante distante a FUNAI havia tentado a apicultura racional, com entrega de roupas e materiais, mas não obteve sucesso por falta de uma adequada instrução e acompanhamento. Nenhum dos índios que hoje são apicultores estiveram presentes na fase da FUNAI.
4 – O ISA vislumbrando na apicultura uma atividade com um bom potencial, preocupou-se em oferecer aos índios um novo modelo de produção de mel, baseado no manejo racional dos enxames e não mais no extrativismo, e oferecer o conhecimento sobre o ciclo das floradas, condições higiênicas na extração e envasamento do mel.
5 – Dentro desse contexto, em 1996 fomos indicados pela APACAME pelo seu Presidente Executivo Dr. Constantino Zara filho e convidados por Sr. André Villas-Boas, Coordenador do Programa Xingu do ISA, para ministrarmos um curso eminentemente prático de Apicultura Racional aos índios (11 alunos) e assim estivemos pela primeira vez no PIX. Matéria sobre o assunto se encontra nas páginas 9 a 11 do periódico Mensagem Doce nº 38.
6 – Estivemos no PIX para novos cursos e verificações dos apiários implantados em 1998, 1999 e em 2000. Em todas essa visitas novos alunos índios nos cursos, incluindo alguns representantes da tribo Panará, os denominados gigantes pelos irmãos Villas-Bôas, cujo território situa-se no estado do Pará. Cada curso foi levado a efeito em aldeias diferentes.
7 – Em 2000demos por encerrado o nosso trabalho no PIX para que o ISA e a ATIX (Associação Terras Indígenas do Xingu) dirigida e administrada somente por índios daquele Parque, pudessem levar avante o projeto com suas próprias pernas, embora nós quiséssemos esta lá por muitas outras vezes.
8 – Hoje, setembro de 2003, a apicultura racional no Parque, tanto na parte técnica de criação quanto na parte comercial são atividades dirigidas pela ATIX, com a supervisão do ISA. Os apiários têm o acompanhamento dos monitores indígenas, e o responsável pela parte comercial que consiste na aquisição de materiais apícolas e na comercialização do mel é de competência de Ianukulá Kaiabi que tem o curso de segundo grau completo.
9 – Atualmente a apicultura racional no PIX é praticada em 23 aldeias, com quase 50 apicultores com cerca de 170 colméias. A produção anual de mel está em torno de 2.000/2.500 kg. Por ser mel com SIF (Serviço de Inspeção Federal) e com certificado de orgânico pelo Instituto Bio-Dinâmico de Botucatu-SP, alcança um bom preço e segundo a mídia está sendo comercializado pelo Grupo Pão de Açucar através do Projeto Caras do Brasil (Mel dos Índios do Xingu).
10 – Com 170 colméias atuais poder-se-ia produzir cerca de 4 a 5 mil kg de mel, em virtude do potencial de floradas da região. Entretanto, devemos saber respeitar a cultura dos índios, que ainda não estão afeitos ao trabalho nos moldes dos chamados civilizados bem como da relativa importância que dão ao dinheiro.
11 – Em 25/08/2003 estivemos reunidos com o professor Ricardo Bresler da Fundação Getúlio Vargas, Coordenador do Programa Gestão Pública e Cidadania, em trabalho conjunto com a Fundação Ford, que esteve no PIX para verificação “in loco” do trabalho de Apicultura Racional levado a efeito pela ATIX.
12 – Este é em síntese o trabalho que implantamos e desenvolvemos no PIX, e que graças ao ISA está mostrando bons resultados. Agradecemos a minha APACAME na pessoa do Dr. Constantino Zara Filho que nos deu sempre um grande apoio para o bom andamento do Projeto.
Este relatório foi elaborado em 23 de setembro de 2003.
Nos Cadernos de Gestão Pública e Cidadania, nº 44, volume 9, de novembro de 2004, da Fundação Getulio Vargas, o professor Bresler que historia a apicultura no PIX, relata num trecho: “ Com a formação da parceria ATIX/ISA, em 1996, e apesar das reticências, a idéia foi florescendo novamente. Uma coisa era certa: sem comprometimento e acompanhamento técnico contínuo, nos apiários não valia a pena voltar ao assunto. Nem a ATIX e nem o ISA possuíam pessoal qualificado para isso. Coube ao ISA procurar um parceiro que pudesse capacitar tecnicamente os apicultores. Encontraram na APACAME o parceiro ideal que se comprometeu com o projeto. De 1996 a 2000, foram realizados 5 cursos no Parque, coordenados por Mario Isao Otsuka (Diretor da APACAME). Em 2001 foi realizado um curso em São Paulo. Destaca-se o trabalho de Mario, que soube adaptar o conteúdo dos cursos às necessidades dos apicultores, capacitando-os efetivamente para a prática da apicultura racional”.
Dois técnicos do ISA foram capacitados pela APACAME: os engenheiros agrônomos Henrique e Wemerson Ballester.