A APICULTURA COMO PRÁTICA EDUCACIONAL DE CONSERVAÇÃO, SUSTENTABILIDADE E FONTE DE RENDA NO CAMPO1
Cláudio Gomes da Silva Júnior2
1Parte do trabalho de conclusão do curso de Especialização em Educação do Campo – UCAM.
2Zootecnista, M.Sc., Doutorando em Zootecnia (Produção Animal – Apicultura) – UEM.
INTRODUÇÃO
A apicultura é uma das áreas da zootecnia, responsável pela criação racional de abelhas do gênero Apis. Segundo Vieira (1986), pode ser considerado também a arte ou ciência de criar abelhas para que, no menor tempo, nos forneçam produtos, em menores custos e obtenhamos maiores lucros.
Um dos maiores pesquisadores e responsável pela introdução de abelhas com características mais adaptadas e produtivas no Brasil, o Dr. Kerr (1979), argumenta ainda que a importância das abelhas cresce ao mesmo tempo em que no ecossistema aumenta o número de nichos ecológicos e, paralelamente, a proporção de espécies de plantas que dependem de insetos para realizar sua reprodução, conhecido como processo de polinização. Além da conservação e produção de várias plantas de importância econômicas, como a maçã, melão, laranja, entre outros.
A apicultura é uma das cadeias produtivas que completa todos os elementos da sustentabilidade: econômico, gerando renda aos apicultores; social, criando oportunidades de ocupação produtiva de mão-de-obra familiar no campo, diminuindo o êxodo rural e; o ecológico, já que as abelhas necessitam de plantas vivas para retirada de pólen e do néctar de suas flores, suas fontes alimentares básicas (Alcoforado Filho, 1997; 1998).
Segundo Graeff (2011), é uma das raras atividades agrícolas que não tem nenhum impacto ambiental negativo, pelo contrário, capacita o apicultor em “ecologista prático”. A autora diz que se trata de uma atividade importante para a produção de alimentos como o mel, pólen, própolis, geleia real e a polinização das plantas. Sendo assim, a mesma, considera uma atividade de educação não formal que atrai escolas, apicultores que querem transpor seus muros em busca de conhecimentos científicos, ajudando a aumentar o consumo de produtos apícolas pela população e a preservação das espécies existentes.
Portanto, objetivou-se realizar revisão bibliográfica sobre a apicultura como prática educacional de conservação, sustentabilidade e fonte de renda no campo.
DESENVOLVIMENTO
A apicultura é umas das criações de animais mais antigas e importantes para o mundo, prestando grande contribuição ao homem através da produção do mel, da geleia real, da própolis, da apitoxina, da cera e do pólen apícola, além dos serviços de polinização que melhoram a produtividade na agricultura (Wiese, 2005) e a manutenção da biodiversidade. No entanto, sempre prevalecerá diferentes opiniões sobre como e quando se iniciou a apicultura no Brasil. Mas foi em 1957 que surgiu no Brasil uma nova fase da apicultura. Segundo Nogueira-Neto (1972), esse ano, marcou o fim da criação amadora e o começo do predomínio das técnicas apícolas. Este mesmo autor, considera o fator responsável por essas intensas modificações, a introdução das abelhas africanas (Apis mellifera scutellata Lepeletier, 1836). Esta espécie de abelha ao chegar no Brasil, se multiplicaram e cruzaram com abelhas de raças europeias já importadas e exploradas há vários anos no país, dando origem a uma abelha poli-híbrida, nomeada de abelha africanizada.
As abelhas africanizadas tornaram-se importantes, junto com outras espécies já existentes no Brasil, colaborando como indicadoras biológicas, mantendo o equilíbrio em diversos ecossistemas e conservando a biodiversidade de forma direta ou indireta, gerando, inclusive, produtos e alimentos de origem apícola de forma sustentável, tornando-as modelos em produção sustentável. Freitas (1999), corrobora afirmando que, a própria apicultura é formada por alternativas ecologicamente corretas e auto-sustentáveis de explorar ambientes naturais ainda não degradados, ou recuperar áreas ameaçadas de erosão genética.
A polinização realizada pelas abelhas, por exemplo, beneficia a agropecuária em diversas culturas agrícolas. Estes insetos buscam nas plantas recursos florais como o pólen e/ou néctar, nesse processo, as mesmas colaboram na reprodução dessas plantas. Uma polinização bem realizada gera frutos, grãos e sementes em maiores quantidades, em formatos mais desejáveis e consequentemente, mais aceitos pelo mercado consumidor. Diversos trabalhos comprovam melhorias, em frutíferas, por exemplo, Silva Júnior (2016), avaliando os potenciais polinizadores da caramboleira (Averrhoa carambola L.), identificou a espécie de abelha Africanizada visitando as flores durante todo o período diurno, buscando néctar e tocando os órgãos reprodutivos das flores. Portanto, essas abelhas foram as que estimularam o maior vingamento inicial de frutos. Podendo então, serem utilizadas para diminuir o déficit de polinização da caramboleira. Já nos ambientes silvestres, como em florestas, as abelhas realizam também a reprodução dessas plantas, ajudando na manutenção e reprodução de toda floresta. Além de gerar produtos como frutos, grãos e sementes para os animais que dependem desses alimentos para sua sobrevivência nestes ambientes naturais.
A atividade apícola é fundamentalmente ecológica, comprovadamente rentável, podendo ser desenvolvida em todo o espaço geográfico, que possui condições de solo e clima favorável e uma vegetação exuberante e rica em floradas, sendo uma atividade sustentável e de grande importância econômica (SANTOS et al., 2009). Pela sua natureza, Guimarães (1989), considera a apicultura uma atividade preservadora de espécies. Pois segundo ele, não é destrutiva como a maioria das atividades rurais e é uma das poucas atividades agrícolas que alcançam todos os requisitos do tripé da sustentabilidade: o econômico, gerando renda para os agricultores e pecuaristas; o social, utilizando a mão-de-obra familiar no campo, diminuindo o êxodo rural; e o ecológico porque não se desmata para criar abelhas.
A apicultura é um empreendimento desenvolvido a partir de pouco investimento, baixo custo operacional e permite o consórcio com qualquer outra atividade agropecuária, pois não concorre com nenhuma outra atividade do campo (Van Tol Filho, 1963). O mesmo autor, enfatiza também o aumento da produtividade das colheitas através da polinização em massa, com produtos gerados de alto valor de mercado, além de, com apiários localizados em vegetação nativa, em condições adequadas, pode haver possibilidade de produzir mel orgânico que atinge preços elevadíssimos no mercado internacional.
Atualmente, a cadeia produtiva apícola é considerada uma das grandes opções para as regiões do Semiárido nordestino, podendo ser considerada a que melhor remunera o produtor mesmo em anos de adversidades climáticas tão comuns nesta região (SEBRAE, 2005). Este mesmo órgão, considera que a grande diversidade de floradas e de microclimas, aliados às vastas extensões ainda inexploradas e isentas de atividade agropecuária tecnificadas fazem desta região a de maior potencial para a produção de mel orgânico em todo o mundo.
Lima (2005) analisando a atividade apícola como alternativa social, econômica e ambiental para a XI Mesorregião do Noroeste do Paraná, concluiu que a apicultura é importante e deve ser encarada como alternativa para a região estudada interligando os aspectos sociais, econômicos e ambientais, de forma que proporcione a agricultura familiar, a utilização da mão-de-obra da família, fixação do homem ao campo e a prática da apicultura adequada caracteriza o desenvolvimento sustentável frente aos recursos naturais, muda a consciência dos produtores sobre a conservação do meio ambiente e, acima de tudo, gera renda, trabalho e alimento às famílias, além de favorecer o fortalecimento do associativismo na região.
Em outra pesquisa, realizada por Graeff (2011), avaliando a percepção dos alunos do Curso Técnico em Agroindústria do Instituto Federal Farroupilha sobre a atividade apícola e sua interação com o meio ambiente. Confirmam que a apicultura, o meio ambiente e a educação andam juntas e não há como separá-las, isso porque a apicultura é encarada como alternativa social, econômica e ambiental, que proporciona ao ser humano vários produtos fornecidos pelas abelhas, existindo a necessidade de interação com o meio ambiente para a produção dos mesmos, e a educação ambiental é uma ferramenta de mudanças nas relações do homem com o ambiente.
Em trabalho realizado por Dalazen et al. (2016) com objetivo de conhecer a relação dos apicultores da Zona da Mata Rondoniense com a conservação de florestas. Demonstraram uma relação positiva com as florestas, sendo apontadas como áreas de recursos desejáveis para as abelhas com diversidade de plantas, sendo escolhidas como locais de instalação de apiários. Os apicultores evidenciaram ainda preocupação com as atividades que causam impactos negativos ao ambiente, tais como desmatamentos, uso de agrotóxicos e queimadas.
Segundo Caldeira et al. (2010), em pesquisa, concluiu que a região da Amazônia Legal oferece boas condições para a manutenção e criação das abelhas, pois a região tem uma vasta quantidade e diversificado pasto apícola, recursos para alimentação e produção de mel, a condição de fixar o homem ao campo, devido ao baixo custo de implantação e manutenção, gerando boa renda anual para o pequeno agricultor ajudando na formação de associações e pequenas cooperativas. A apicultura é uma das atividades que satisfaz aos três pilares da sustentabilidade: viabilidade econômica, equidade social, e a conservação ambiental.
A apicultura não exige dedicação exclusiva, deixando os apicultores desenvolverem outras atividades sem que isso prejudique na criação de abelhas (SOUZA, 2007). O autor considera, que possibilita também serviço aos membros da família e viabiliza a geração de renda, garantindo a diversificação da produção na pequena propriedade. E por isso, ele diz que a apicultura, é uma atividade excelente para o pequeno e médio produtor.
Mesmo aqueles que não têm uma terra agrícola, segundo Souza (2007), podem tocar um negócio apícola. Pois o mesmo justifica, que é porque a área necessária para implantação do apiário não é grande e sua instalação não modifica o ambiente natural da propriedade, facilitando as sessões de áreas de terceiros para os apicultores. Outro fato observado pelo pesquisador, é que a produção do apiário é independente do tamanho da propriedade, pois as abelhas “trabalham” voando e não conhecem os limites legais da terra, permitindo aos apiários das pequenas propriedades as mesmas condições de produção dos localizados nas grandes fazendas da região.
CONCLUSÃO
Diante do exposto, a apicultura é uma atividade conservacionista, sustentável e geradora de renda ao homem do campo, melhorando a qualidade de vida em ambientes rurais. Sendo ainda, uma importante ferramenta na Educação Ambiental e do Campo, pois os modelos de produção de seus produtos e alimentos ensinam e educam os apicultores a serem mais ambientalistas e incentivadores da conservação da natureza.
REFERÊNCIAS
Alcoforado Filho, F. G. Cadeia produtiva do mel de abelhas do Piauí. In: Congresso Brasileiro de Apicultura. Anais… 1998.
Alcoforado Filho, F. G. Flora da caatinga: conservação por meio da apicultura. In: Congresso Nacional de Botânica. Anais… 1997.
Caldeira, D. R. M.; Rosa, J. S. M.; Zanardi, O. C.; GEschonke, R. P.; Bruneto, C. Apicultura como alternativa para o desenvolvimento sustentável em reserva legal – estudo de caso para região de floresta em Amazônia legal. In: I Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental. Anais… 2010.
Dalazen, A. P.; Modro, A. F. H.; Maia, E. Relação da apicultura com a conservação de florestas na zona da mata Rondoniense. In: X Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais. Anais… 2016.
Freitas, B.M. A vida das abelhas. Craveiro & Craveiro – UFC, Fortaleza CE. 1999 (Livro em CDROM).
Graeff, I. A apicultura como instrumento de educação ambiental no contexto social, econômico e ambiental. 2011. 59f. (Monografia de Especialização) Especialização em Educação Ambiental – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria – RS.
Guimaraes, N. P. Apicultura, a ciência da longa vida. Ed. Itatiaia Ltda. Belo Horizonte, 1989.
Kerr, W. E. Biological control of crown gall in stone fruit and roses through production of Agrocin 84 Agrobacterium radiobacter tumefaciens. Australia. Plant Disese, v.64, p.28-30, 1979.
Lima, S. A. M. A apicultura como alternativa social, econômica e ambiental para a XI mesorregião do noroeste do Paraná. 2005. 96f. (Dissertação de Mestrado) Mestrado em Ciências Florestais – Universidade Federal do Paraná, Curitiba – PR.
Nogueira-Neto, P. Notas sobre a história da apicultura Brasileira. In:___________Manual de apicultura. São Paulo: Agronômica Ceres, p. 17-32, 1972.
Santos, C. S.; Ribeiro, A. S. Apicultura uma alternativa na busca do desenvolvimento sustentável. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável – Grupo Verde de Agricultura Alternativa (GVAA). v.4, n.3, p.01-06, 2009.
SEBRAE. Nacional, gestão orientada para resultados – A experiência da rede apis, 2005.
Silva Júnior, C. G. Polinização na caramboleira (Averrhoa carambola L.) por Apis mellifera L.: requerimentos da cultura e eficiência do polinizador. 2016. 74f. (Dissertação de Mestrado) Mestrado em Ciência Animal e Pastagens – Universidade Federal Rural de Pernambuco, Garanhuns – PE.
Souza, D. C. Apicultura: manual do agente de desenvolvimento rural. 2. ed. rev.._Brasília: Sebrae, 2007.
Van Tol Filho. Criação nacional de abelhas. Melhoramentos: São Paulo, 1963.
Vieira, M. I. Apicultura atual: abelhas africanizadas; melhor adaptação ecológica, maior produtividade, maiores lucros. São Paulo: M. I. 1986.
Wiese, H. Apicultura. 2. ed. Guaíba: Agrolivros, 2005.