Levantamento da Flora Apícola no Município de Carolina: Cerrado Sul Maranhense

Flávia Arruda de Souza1, Francisca Helena Muniz2, Gislane da Silva Lopes3, Luiz Junior Pereira Marques1.
1 Professor do Instituto Federal do Maranhão (Campus Barra do Corda);
2 Prof.ª. Adjunta – Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) – Campus São Luís;
3 Prof.ª Auxiliar – Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) – Campus Grajaú

Resumo. O conhecimento da flora apícola é importante por indicar aos apicultores fontes adequadas de néctar e pólen às abelhas. Este trabalho teve como objetivo identificar as espécies vegetais utilizadas por Apis mellifera L. como recursos alimentares, no município de Carolina – MA (7º20’S e 47º28’W), localizado na mesorregião sul maranhense, compreendendo uma vegetação de cerrado. As coletas de mel, pólen e plantas foram mensais de julho/2005 a junho/2006, em quatro apiários.

Neste trabalho se identificou e determinou a freqüência e a dominância dos tipos polínicos em amostras de mel e pólen coletados por A. mellifera, elaborando assim, um calendário apícola das espécies vegetais mais visitadas em cada mês. As lâminas de mel foram preparadas segundo Maurizio e Louveaux (1965) e os tipos polínicos encontrados foram desenhados e contados, em um mínimo de 300 grãos de pólen/lâmina, para a determinação da freqüência polínica. Foram identificados no espectro polínico das amostras de mel e pólen dos quatro apiários estudados: 73 tipos polínicos, dos quais 53 distribuídos em 24 famílias botânicas e 20 tipos indeterminados. As principais famílias representadas nas amostras de mel e pólen foram Mimosaceae e Myrtaceae com 11,3% das espécies identificadas, Asteraceae e Arecaceae com 9,4% cada e Poaceae com 7,5%, as demais com 3,8% a 1,9%. A maioria das espécies se apresentou irregular nas amostras, tendo sido Cecropia sp., Mimosa pudica L., Borreria spp., Cassia sp., Serjania sp. e Mauritia flexuosa L. as mais freqüentes. Entre as espécies mais visitadas no período chuvoso, destacou-se Mimosa pudica L. com freqüência relativa superior a 45% por vários meses (Pólen Dominante). Quanto a aptidão das espécies botânicas 55% apresentaram caráter nectarífero, 33% nectar-polinífero e 12% polinífero. O mel originário da região é considerado heterofloral.

Palavras chave: Espectro polínico, Apis mellifera L., mel heterofloral.

INTRODUÇÃO

A íntima relação entre abelhas e flores provavelmente teve início há mais de 50 milhões de anos (PIRANI; CORTOPASSI-LAURINO, 1993) e desde então, as abelhas dependem das flores para obtenção de alimento, e as plantas recebem os benefícios da polinização. Estudos sobre a ação das abelhas no ambiente evidenciam a extraordinária contribuição destes insetos na preservação da vegetação e na manutenção da variabilidade genética das espécies (FREE, 1980).

A qualidade da flora apícola depende das espécies de plantas que são naturais ou plantadas na região, do clima do lugar e da qualidade das terras. A realização de um levantamento detalhado do período de floração das plantas melíferas de uma região contribui para o planejamento racional dessa atividade; assim, o conhecimento e a observação das floradas de cada espécie e o interesse que as abelhas demonstram para cada tipo de planta é que determina a capacidade de sustentação de colmeias de uma região (MOREIRA, 1991). Além disso, a potencialidade das plantas apícolas está principalmente relacionada à qualidade e quantidade do néctar produzido pela espécie de planta e, conseqüentemente à produção de mel além da oferta polínica (PIRANI; CORTOPASSI-LAURINO,1993).

Neste contexto, o conhecimento detalhado da flora apícola (conjunto das plantas que fornecem alimento às abelhas em uma determinada região) e sua época de florescimento certamente contribuem de forma decisiva para o planejamento racional da apicultura e o estabelecimento de uma atividade produtiva e rentável. Permite, também, um maior aproveitamento dos recursos naturais e proporcionam soluções variáveis como alternativas de produção e alimentação, sem prejudicar as interações bióticas dos ecossistemas (Carreira; Jardim, 1994).

Uma maneira de caracterizar a flora utilizada por espécies de abelhas é através dos tipos polínicos encontrados nos sedimentos de méis e nas massas de pólen coletadas pelas abelhas (BARTH, 1989). A análise polínica indica a origem floral do mel, permitindo a caracterização apícola de uma determinada região geográfica (DURKEE, 1971; SEIJO et al., 1992). Ao coletar o néctar das flores, a abelha coleta também o pólen, sendo este regurgitado juntamente com o néctar nos alvéolos melíferos. Desta maneira o pólen aparecerá no mel constituindo-se importante indicador de sua origem botânica e geográfica (BARTH, 1989).

Para Oliveira e Castro (1998) as abelhas africanizadas têm hábito alimentar generalista e variadas possibilidades de nidificação, ocupando os mais variados habitats, nos mais variados ambientes. O Estado do Maranhão apresenta uma grande diversidade de ecossistemas, resultado das condições de transição entre o clima superúmido da Região Norte e o clima semi-árido da Região Nordeste, destacando-se mangues, campos inundados (periódicos e permanentes), cocais, cerrado, cerradão, caatinga/carrasco e florestas (GEPLAN, 2002).

Logo, a riqueza de ecossistemas do Estado, com grande diversidade de espécies, proporciona floradas o ano inteiro para a prática da apicultura, porém a falta de conhecimento da vegetação de interesse apícola é um dos principais fatores limitantes do desenvolvimento desta atividade. Portanto, o estudo do potencial do pasto apícola dos municípios maranhenses é de grande importância para impulsionar a prática de uma apicultura mais racional que gere renda e contribua para a preservação dos ecossistemas locais.

Este trabalho teve como objetivo identificar a vegetação de interesse apícola do município de Carolina-MA, a época de floração e as floradas preferenciais das abelhas, determinando o potencial produtivo do pasto apícola do município.

MATERIAL E MÉTODOS

Caracterização da Área

A pesquisa foi conduzida no município de Carolina-MA localizado nas seguintes coordenadas: 7º20’ de latitude sul e 47º28’ de longitude oeste, com área de 6.412,9 km2. O município pertencente à região fisiográfica do Planalto, cuja vegetação predominante são os campos cerrados, o cerrado e o cerradão (SEMATUR, 1991), localizado na mesorregião Sul Maranhense.

A típica vegetação que ocorre no Cerrado possui seus troncos tortuosos, de baixo porte, ramos retorcidos, cascas espessas e folhas grossas. Os estudos efetuados consideram que a vegetação nativa do Cerrado não apresenta essa característica pela falta de água – pois, ali se encontra uma grande e densa rede hídrica – mas sim, devido a outros fatores edáficos (de solo), como o desequilíbrio no teor de micronutrientes, a exemplo do alumínio. O Cerrado brasileiro é reconhecido como a savana mais rica do mundo em biodiversidade com a presença de diversos ecossistemas, riquíssima flora com mais de 10.000 espécies de plantas, com 4.400 endêmicas (exclusivas) dessa área (ARVORES BRASIL, 2015).

O clima da região é sub-úmido, com moderada deficiência de água entre os meses de junho e setembro, megatérmico, com temperaturas médias anuais entre 26 °C e 27 °C. Na maior parte do município, os totais pluviométricos anuais variam entre 1200 e 1600 mm, com uma umidade relativa do ar anual entre 70 % e 73 % (NUGEO/LABMET, 2002).

Metodologia

Inicialmente realizou-se prévio levantamento dos apiários no município e foram escolhidas as áreas para estudo, levando em consideração a representatividade da vegetação da microrregião.

Foram selecionados quatro apiários: Fazenda Olho d’Água, Xibiu, Brejinho e Serrinha. As coletas de mel e pólen foram realizadas mensalmente e simultaneamente no período que se estendeu de 31/07/05 a 30/06/06. No apiário Xibiu e Serrinha algumas coletas de mel não foram realizadas no período chuvoso em decorrência das fortes chuvas que impossibilitaram o acesso aos apiários em determinados momentos da pesquisa e/ou falta de mel nos apiários, refletindo na ausência de amostras de agosto/2005, abril/2006 e maio/2006 para o apiário Xibiu e nas amostras de fevereiro/2006 e abril/2006 para o apiário Serrinha.

As coletas de pólen foram realizadas manualmente, capturando-se as abelhas Apis mellifera e retirando-se as bolotas de pólen diretamente de suas patas. O material coletado foi preparado pelo método de acetólise de Erdtman (1952).

Para amostragem dos méis deu-se preferência para os méis considerados verdes ou recém-formados, a fim de se obter maior garantia de que o mel realmente havia sido produzido naquele mês. Para análise das amostras dos méis, levou-se em consideração o tipo polínico encontrado nas lâminas, os quais foram desenhados e contados para efeito da análise qualitativa, onde se identifica o pólen presente nos méis. Em seguida se prossegue com a análise quantitativa proposta por Louveaux (1978) onde se conta a percentagem de pólen dominante (P.D.) – mais de 45% do total; pólen acessório (P.A.) – de 15 a 45% e pólen isolado (P.I.) – menor que 15%. Podendo ainda se obter uma subdivisão do P.I. em P.I.i-pólen isolado importante (3<15%) e P.I.o – pólen isolado ocasional (<3%).

Durante a coleta dos méis foram realizadas observações diretas das espécies visitadas pelas abelhas, em um raio de 1500m a partir das colméias, foram anotadas as espécies em floração e foi realizada a coleta de material botânico para herborização. A herborização, montagem de exsicatas e identificação do material botânico foram realizadas no herbário do Núcleo de Estudos Biológicos (NEB) da UEMA em São Luís-MA. A identificação ao nível de família segue o sistema de classificação proposto por Cronquist (1981).

Os botões florais das plantas coletadas foram utilizados para montagem de uma coleção de lâminas de referências dos grãos de pólen de todas as plantas apícolas ou visitadas pelas abelhas. E a partir desta coleção de lâminas de referência se identificou grande parte dos tipos polínicos encontrados nas lâminas de mel e pólen. Para preparação das lâminas de pólen de referência tem-se utilizado o método de acetólise de Erdtman (1952).

A montagem das lâminas de pólen, mel e de referência foi realizada pelo método da gelatina glicerinada de kisser (SALGADO-LABOURIAU, 1961), sendo a lutagem feita com parafina.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados nas amostras de mel e pólen dos quatro apiários estudados, 73 tipos polínicos, dos quais 53 distribuídos em 24 famílias botânicas e 20 tipos indeterminados. As principais famílias representadas nas amostras de mel e pólen foram Mimosaceae com 11,3% das espécies identificadas, Myrtaceae com 11,3%, Asteraceae e Arecaceae com 9,4% cada e Poaceae com 7,5%, as demais com 3,8% a 1,9%.

As tabelas 1, 2, 3 e 4 apresentam a freqüência dos tipos polínicos encontrados nos méis dos Apiários Brejinho, Fazenda Olho d’Água, Xibiu e Serrinha, respectivamente.

A tabela 5 relaciona algumas espécies botânicas encontradas na região.

Os tipos encontrados da família Anacardiaceae foram Astronium sp. e Schinus sp., o primeiro se apresentou como PA e PIi tendo aparecido exclusivamente nas amostras de mel. Bastos et al. (2003) relataram Astronium sp. e Schinus sp. como PA em amostras de mel do cerrado mineiro, afirmando que estas espécies nativas juntas a Alternanthera sp. e Serjania sp. caracterizam o mel da região. Barth (1969) relatou a ocorrência de Protium sp. como PD em méis da região nordeste do Brasil. O segundo ocorreu como PD, PA, PIi e PIo. Carvalho et al. (2006) cita uma espécie pertencente a este gênero em méis de Melipona quadrifasciata no Recôncavo Baiano como PIo.

Figura 1. Distribuição das classes de abundância dos tipos polínicos encontrados em amostras de mel de Apis mellifera L., em Carolina – MA, 2005/2006.
Figura 1. Distribuição das classes de abundância dos tipos polínicos encontrados em amostras
de mel de Apis mellifera L., em Carolina – MA, 2005/2006.

Dentre os tipos polínicos da família Arecaceae, destacam-se, Astrocaryum sp. principalmente no fornecimento de pólen, Mauritia flexuosa L. e Orbygnia phalerata Mart.. Mauritia flexuosa L. foi a espécie mais significativa ocorrendo como PA em setembro/2005 nos apiários Brejinho e Xibiu.

Os tipos polínicos da família Asteraceae ocorreram de forma isolada, foram eles: Asteraceae 1, 2 e 3, Vernonia sp. e Tipo Elephantopus. Moreti et al. (2000) relacionou Vernonia sp. como PIi em amostras de méis de Apis mellifera L. coletadas na Bahia.

Da família Bignoniaceae foram identificados dois tipos polínicos, o Bignoniaceae 1 e 2. Bignoniaceae 1, ocorreu como PA no mês de agosto nos apiários Brejinho e Fazenda Olho d’Água e em setembro no Xibiu, ainda se apresentou em outros meses e no apiário Serrinha de forma isolada. Bignoniaceae 2 ocorreu como PD, PA, PIi e PIo. Viana et al. (2006) relatou a visita de abelhas a Tabebuia elliptica (DC.) Sandwith (Bignoniaceae).

A família Bromeliaceae foi representada pelo gênero Aechmea sp. que ocorreu como PA em setembro/2005 no Apiário Xibiu, e ainda de forma isolada nos demais apiários. Viana et al. (2006) relatou que uma espécie deste gênero foi visitada por abelhas nas dunas de Abaeté, Salvador, Bahia.

A família Burseraceae foi representada pelo gênero Protium sp. que ocorreu como PA em julho/2005 no apiário Xibiu. Barth (2004) relatou a ocorrência de Protium sp. em méis da região norte do Brasil, assim como Viana et al. (2006) relacionaram a ocorrência de visitas de abelhas a duas espécies deste gênero.

A família Caesalpiniaceae foi representada por Senna sp. e Bauhinia sp. O primeiro se apresentou como PA em agosto/2005 no apiário Fazenda Olho d’Água. Bauhinia sp. ocorreu de forma isolada, apresentando maior freqüência em junho/2006 no apiário Fazenda Olho d’Água, como PIi. Moreti et al. (2000) relacionaram os grãos de Bauhinia sp. como PD.

Dentre os tipos polínicos da família Melastomataceae, Miconia sp. apresentou maior destaque como PA no apiário Brejinho nos meses de agosto e outubro/2005. Já Tibouchina sp. ocorreu de forma isolada.

A família de maior destaque no que se refere a variedade de espécies foi a família Mimosaceae, com seis representantes: Cassia sp., Mimosa caesalpinifolia Benth., Mimosa pudica L., Mimosa sp., Schrankia sp. e o Tipo Acacia. Segundo Almeida (2002) a família Mimosaceae é composta por aproximadamente 60 gêneros representados por 3.000 espécies distribuídas, principalmente, em regiões tropicais e subtropicais, além de algumas espécies que são encontradas em regiões temperadas. Sua importância como fornecedora de recurso alimentar às abelhas é bem conhecida, sendo mencionada em vários estudos.

O gênero Cassia sp. se apresentou como PD, PA, PIi e PIo. Em outubro/2005 ocorreu como PD e em janeiro/2006 como PA no apiário Xibiu, ainda apareceu como PA no apiário Serrinha em agosto/2005.

Mimosa pudica L. foi a espécie que se apresentou mais freqüente no espectro polínico dos méis estudados. Esta ocorreu como PD no período compreendido entre dezembro/2005 a junho/2006, apresentando em sete amostras percentual superior a 90%, sendo que na amostra do apiário Xibiu de junho/2006 apresentou 100% de freqüência, isto é, foi a única espécie contribuinte para composição desse mel. Segundo Zander e Maurizio (1975) esta espécie é considera um tipo polínico polinífero, sendo importante na produção de mel quando apresenta valores acima de 90%. Esta ainda ocorreu como PA, PIi e PIo, estando presente em todos os meses nas amostras de mel em pelo menos um apiário. Carreira e Jardin (1994) relataram Mimosa pudica L. como PD no estado do Pará. Marques-Souza et al. (1993) registraram a ocorrência desta espécie em Ji-Paraná – RO.

Figura 2. Variação dos tipos polínicos encontrados nas amostras de mel e pólen dos quatro apiários pesquisados no município de Carolina – MA, no período de julho/2005 a junho/2006.
Figura 2. Variação dos tipos polínicos encontrados nas amostras de mel e pólen dos quatro
apiários pesquisados no município de Carolina – MA, no período de julho/2005 a junho/2006.

Mimosa sp. ocorreu como PD no apiário brejinho em julho/2005 e ainda de forma isolada neste e no apiário Serrinha. Mimosa caesalpinifolia Benth., Schrankia sp. e o Tipo Acacia ocorreram de forma isolada, sendo que o ultimo se apresentou somente nas amostras de mel. Moreti et al (2000) registraram Mimosa caesalpinifolia Benth, como PIi em amostras de mel de Rio Real – BA. Bastos et al. (2003) registraram Schrankia sp. como PIo em méis do cerrado mineiro. Não foi possível identificar nem mesmo até gênero o pólen denominado Tipo Acácia, que segundo Barth (1970) nesses casos deve-se recorrer ao tipo polínico, o qual engloba todas as espécies com grãos de pólen iguais ou semelhantes, pertencendo ou não, à espécie do mesmo gênero. O mesmo se repetiu para outros tipos polínicos encontrados.

A família Cecropiaceae foi representa por Cecropia sp., este ocorreu durante todo o ano exceto no mês de fevereiro, sendo em oito meses como PD. A presença deste tipo polínico no mel é resultado da busca das abelhas por proteína, ou da contaminação do mel por este, por se tratar de pólen anemófilo, portanto não contribui na elaboração do mel. Segundo Oliveira et al. (1998), as espécies do gênero Cecropia sp são importantes fontes de recursos alimentícios para a abelha Apis mellifera. O hábito generalista da abelha, a atividade de realizar várias visitas (AGUIAR et al., 2002), os picos de floração da espécie e a escassez de alimento podem estar relacionados com alta freqüência desse tipo polínico em alguns meses de estudos.

Figura 3. Percentual referente ao caráter néctar-polinífero das espécies botânicas visitadas por Apis mellifera L. no município de Carolina – MA.
Figura 3. Percentual referente ao caráter néctar-polinífero das espécies botânicas visitadas por
Apis mellifera L. no município de Carolina – MA.

A família Myrtaceae teve seis representantes, a mesma quantidade observada na família Mimosaceae, no entanto, esta apresentou tipos polínicos menos freqüentes que os da família Mimosaceae. Foram quatro espécies do gênero Myrcia sp., Eugenia sp. e Psidium guajava L., sendo que Myrcia sp. 3 se apresentou como PA em setembro/2005 no apiário Fazenda Olho d’Água e Psidium guajava L. como PA em agosto/2005 no apiário Brejinho, os demais ocorreram de forma isolada. Segundo Alves (2000), a contribuição da goiabeira para a apicultura é bem maior em pólen do que em néctar, não devendo ser vista como planta nectarífera.

A família Rubiaceae foi representada por dois tipos polínicos do gênero Borreria sp.. Borreria sp. 1 apresentou freqüências mais significativas, ocorrendo como PD em março/2006 e como PA em maio/2006 no apiário Serrinha, já Borreria sp. 2 ocorreu somente de forma isolada.

As famílias Amaranthaceae (Amaranthaceae 1), Combretaceae (Terminalia sp.), Euphorbiaceae (Ricinus sp. e Tipo Croton), Flaucortiaceae (Casearia sp.), Lamiaceae (Hyptis sp.), Malvaceae (Sida sp. e Pavonia sp.), Ochnaceae (Ouratea sp.), Papilionoideaceae (Aechynomene sp.), Poaceae (Poaceae 1, 2, 3 e 4), Sapindaceae (Serjania sp. e Talisia sp.) e Solanaceae (Solanum sp.), apresentaram tipos polínicos com ocorrência isolada. Em amostras de méis de cerrado do município de Pirassununga – SP, Almeida (2002) constatou Solanum sp. PD, PA, PIi e PIo, também encontrou Serjania sp. como PA, PIi e PIo, dentre outros tipos polínicos.

A família Poaceae apresentou quatro tipos polínicos nas amostras de mel e pólen, estes são considerados anemófilos. Segundo Barth (2004), a respeito do pólen carregado pelas abelhas, a variedade de espécies de planta é maior, e freqüentemente o pólen das espécies anemófilas como Cecropia sp e Poaceae estão presentes. A família Turneraceae representada por Turnera ulmifolia L., ocorreu somente em amostras de pólen.

As classes de abundância dos tipos polínicos foram avaliadas conforme mostra figura 1.

As análises polínicas das amostras estudadas mostraram uma grande participação dos polens isolados importantes e ocasionais. Para Barth (1970) quanto a quantidade de néctar e pólen fornecidos pela planta, estas espécies têm pouca importância, entretanto, quando o interesse é a origem e procedência geográfica das amostras estes polens tornam-se significativos. E ainda, a presença de maior número de espécies de plantas como pólen isolado ocasional pode estar relacionada a fatores da própria planta (pequena produção de pólen) ou ao comportamento de coleta da abelha (coleta indireta e/ou recurso coletado) (BARTH, 1989). Entretanto, é possível que grãos de pólen acidentais possam ter contaminado o néctar durante as atividades das abelhas nas flores e na colônia, contribuindo para aumentar o número de tipos polínicos com baixa representatividade.

Outras espécies vegetais são principalmente poliníferas, de modo que após a coleta de pólen as abelhas também contaminam o mel com estas espécies, que podem ocorrer até como pólen acessório ou dominante no produto final, como é o caso de espécies de Myrtaceae, Poaceae e do gênero Mimosa (BARTH, 1989).

Ao todo 33 amostras de mel apresentaram tipos polínicos como PD, no entanto, apenas 14 podem ser considerados como monoflorais. Isto se deve ao fato de 10 amostras apresentarem como PD, Cecropia sp. (Cecropiaceae) que se trata de pólen anemófilo e não contribui para a composição do mel, e ainda Mimosa pudica L. (Mimosaceae) se apresentou como PD em 9 amostras, no entanto em uma freqüência inferior a 90%, que seria o mínimo necessário para se considerar este mel monofloral. Sendo assim 31,1% das amostras podem ser caracterizadas como monoflorais e a grande maioria 68,9% como heterofloral. A figura 2 mostra a variação na quantidade de tipos polínicos que ocorreram nas amostras analisadas.

O período que apresentou a maior variedade de espécies botânicas visitadas pelas abelhas para a coleta de recursos alimentares foi de agosto a janeiro, sendo os picos compreendidos entre setembro e outubro, o período seco da região. No entanto, o período da colheita do mel no município é no mês de julho, logo após a época chuvosa.

Quanto ao fornecimento de recursos às abelhas, as espécies botânicas foram avaliadas quanto à oferta de pólen, néctar e ambos, como mostra a Figura 3.

As espécies botânicas que forneceram néctar e pólen (33%) não foram freqüentadas sempre para as duas finalidades, em algumas coletas estas se apresentaram somente nas amostras de pólen, em outras somente nas de mel e em outras em ambas, ver tabela X. As espécies freqüentadas para busca de néctar (55%) podem apresentar caráter néctar-polinífero tendo em vista que a amostragem de pólen foi reduzida, pode ter ocorrido de algum tipo polínico encontrado somente no mel, possa ser fornecedor de pólen, no entanto na amostra coletada não estava presente. Apenas 12% dos tipos encontrados forneceram somente pólen.

Viana et al. (2006) relataram que nas espécies de Melastomataceae, Solanaceae, Caesalpiniaceae, Mimosaceae e Ochnaceae, identificadas nas dunas de Abaeté, Salvador, Bahia, o pólen foi o único recurso disponível. Estes resultados divergem dos aqui encontrados, pois as espécies correspondentes às famílias citadas apresentaram caráter nectarífero ou néctar-polinifero.


CONCLUSÃO

As principais famílias representadas nas amostras de mel e pólen foram Mimosaceae e Myrtaceae com 11,3% das espécies identificadas.

Entre as espécies mais visitadas no período chuvoso, destacou-se Mimosa pudica L. com freqüência relativa superior a 45% por vários meses (Pólen Dominante) e no período seco, destaque para Miconia sp. e Bignoniaceae 1, presentes nas amostras de mel e pólen.

Os meses que apresentaram maior variedade de tipos polínicos foram entre agosto de 2005 e janeiro de 2006, sendo os maiores picos entre setembro e outubro de 2005.

De forma geral as principais espécies deste estudo apresentaram caráter nectarífero e o mel originário da região é considerado heteroflora.

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