Ocorrência de Hololepta (Leionota) reichii Marseul, 1853 (Coleoptera, Histeridae) um novo inimigo em colmeias de abelhas africanizadas Apis mellifera Lepeletier, 1836 (Hymenoptera: Apidae:Apinae) na localidade de Bocaina, município de Santo Antônio de Leverger, no estado de Mato Grosso, Região Centro Oeste, Brasil.

Péche, W.E.S.** – Mello, A.M. F. ** – Oliveira, J. R.* Carvalho R. W.***
Biólogo/Entomologista/Apicultor Apiário Flor de Angico** – Biólogo* – Msc, PhD Médico Veterinário FIOCRUZ*** – wellpeche2004@yahoo.com.branamari234@yahoo.com.br; – joazirr@yahoo.com.br
rwcar@ensp.fiocruz.br

Resumo

Hololepta (Leionota) reichii Marseul, 1853 (Coleoptera, Histeridae) um novo inimigo das abelhas africanizadas Apis mellifera Lepeletier, 1836 (Hymenoptera: Apidae:Apinae) na localidade de Bocaina, município de Santo Antônio de Leverger, no estado de Mato Grosso, Região Centro Oeste, Brasil. Registra-se pela primeira vez a ocorrência do coleóptero Hololepta (Leionota) reichii Marshall, 1853 (Coleoptera, Histeridae), em colmeias de abelhas africanizadas Apis mellífera L. na localidade de Bocaina, município de Santo Antônio de Leverger, Mato Grosso.

Palavras Chave: abelhas com ferrão, besouro, manejo racional, predadores, prejuízo econômico

Introdução

A apicultura é uma atividade do setor da agropecuária que possui grande importância para a humanidade. No Brasil, nos últimos anos, a apicultura tem-se potencializado como atividade muito importante na agricultura familiar principalmente por causar impactos positivos, tanto nos aspectos sociais e econômicos, deste modo contribuindo para a preservação dos ecossistemas (Lopes et al. 2014; Paula Neto et al. 2006). Apicultura é tida como uma das poucas atividades agropecuárias que atende aos três requisitos da sustentabilidade: o econômico, o social e o ecológico (Wolff, et al. 2009).

A criação de abelhas como todas as atividades que envolvem seres vivos, estão sujeitas as ações impactantes promovidas pelos inimigos naturais. Destacando entre os inimigos naturais, os seres humanos como sendo de maior e mais danosos por destruir a vegetação que servem de refúgio e forrageamento para as abelhas (KERR, et al.1999). Vários autores, citando entre eles Nogueira Neto, (1970); Marques, et al. (2003) assinalaram outros inimigos naturais das abelhas Melliponidae, que também podem ser citados como predadores de Apis melífera (dados informais), entre eles citam-se as aranhas, ácaros, moscas, mariposas, formigas, sapos, lagartos hemípteros e besouros.

Esta nota tem por objetivo registrar a primeira ocorrência do coleóptero Hololepta (Leionota) reichii Marshall, 1853 (Coleoptera, Histeridae), em colméias de abelhas africanizadas Apis mellífera L. na localidade de Bocaina, município de Santo Antônio de Leverger, Mato Grosso.

Área de Estudo

O apiário Flor de Angico está encontra-se na localidade de Bocaina, no município de Santo Antônio de Leverger, distante 27 quilometros da cidade de Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso. A área do município foi estimada em 11.735,75 km² (IBGE, 2010 a 2014), 144 metros de altitude, coordenadas geográficas: Latitude: 15° 51› 17›› Sul, Longitude: 56° 4› 13›› Oeste. Pertence a mesorregião do centro-sul matogrossense à microrregião de Cuiabá e a região metropolitana do vale do Rio Cuiabá e à região metropolitana do vale do Rio Cuiabá. O município destaca como um formadores do Pantanal matogrossense.

A vegetação é constituída predominantemente de cerrado (Radambrasil, 1982). O clima, segundo a classificação de Köppen, é Aw (subtipo savana), com temperaturas altas durante o ano (média anual de 25,6 ºC), chuvas no verão (outubro-março) e seca no inverno (abril-setembro) (IBGE, 2010 a 2014; Oliveira Filho, 1992).

Materiais e Métodos

No apiário acham-se instaladas 20 colmeias Langstroth. Durante a revisão periódica realizada em novembro de 2017, pode-se constatar presenças de coleópteros em três colmeias distintas. Ao todo foram coletados 03 exemplares de coleópteros, estando 01 em cada colmeia. Os exemplares foram armazenados em fracos de vidros de 50 ml com tampa. A identificação dos coleópteros foram realizadas com emprego do Estereomicroscópio Micronal (40X). O estudo entomológico foram realizados com base nas chaves de identificação de Coleoptera Histeridae (Almeida, et al. 2009; Costa-Lima, 1950; Aballay, et al. 2013; Coletto-Silva & Freire, 2006).

Resultado e discussão

Os exemplares foram identificados como pertencentes a ordem Coleptera (Linnaeus, 1758), que constituem no maior grupos de insetos. São conhecidos como besouros (português), beets (inglês), coleopteres (Frances). Acham-se agrupados na família Histeridae (Gyllenhal, 1808) na qual constam cêrca de 3.000 espécies, algumas delas cosmopolitas, distribuídas em várias sub-famílias, com pouco mais de 1.000 representantes na região Neotrópical. No Brasil foram listadas 85 gênero e aproximadamente 352 espécies (Costa Lima et al., 1988).

Os histerídeos são atraídos por locais onde existe matéria orgânica em decomposição, carcaças. Possuem importância nos estudos forenses. As larvas e os adultos desta família são predadores de larvas de outros insetos, saprófagos, xilófagos. Entre os insetos predados pelos histerideos foram apontados Lepidoptera, Diptera e Coleoptera, deste último grupo citam-se aqueles agrupados na família Crysomelidae e Scolitidae (Costa Lima, 1950; Costa Lima, et al.1988).

Os espécimes encontrados nas colmeias pertence à família Histeridae (Gyllenhal, 1808) espécie Hololepta (Leionota) reichii Marseul (1853). Os espécimes geralmente, possuem a côr negra brilhante. O corpo é fortemente esclerosado, mais ou menos convexo, às vezes quase globoso, ora achatado; mede de 1 milímetro a 2 cm de comprimento, excluindo as mandíbulas proeminentes longas, desde a cabeça. A cabeça prognata, não retrátil; pronoto e eletro sem perfurações; comprimento maior que 6,9 ​​mm (fig. 1 e 2).

O primeiro registro de H. (L) reichii no Brasil foram assinalados por Colleto, et al. (2006) em colmeias de abelhas Melliponidae (sem ferrão), Amazônia Central, Brasil.

Esses coleópteros quando presentes nas colmeias Apis melífera causam danos irreparáveis, destruição de favos e de abelhas em todas as fases (Fig 03), demonstrando situação semelhante a observada por Colleto & Freire (2006) em seus experimentos.

Conclusão

Estes achados revestem-se de grande importância por registrar pela primeira vez a ocorrência dessa espécie de insetos atacando colmeias de abelhas Apis mellífera (com ferrão). Por outro lado, este registro acresce de importância por ampliar a distribuição desta espécie para região de cerrado do estado de Mato Grosso, região Centro Oeste, Brasil.

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