O USO DA PRÓPOLIS PODE SER UM ALIADO NO TRATAMENTO DE DOENÇAS GASTROINTESTINAIS

Dr. Michael Marques – Médico, palestrante e escritor – Formações Brasil, Alemanha e Itália – Professor em várias pós-graduações – Cofundador do Instituto Olíbano – Apicultor e meliponicultor

A própolis é um produto natural, que tem sido utilizado a milénios na medicina tradicional em todo o mundo. Atualmente, consolidada na literatura científica por suas propriedades antimicrobianas, antioxidantes, anti-inflamatórias, imunoestimulantes e antiproliferativas, a própolis tem sido amplamente empregada no tratamento de diversas doenças, inclusive aquelas que afetam o trato gastrointestinal.

Diversos estudos, utilizando modelo animal e clínicos com humanos, mostram que a própolis tem efeito gastroprotetor e potencial benéfico no tratamento de diversas doenças gastrointestinais, como: mucosite, colite, gastrite, úlcera péptica, estomatite aftosa e até mesmo câncer de estômago e intestino; com a maioria dos estudos sendo realizados principalmente com a própolis brasileira verde e vermelha.

Em especifico, estudos mostram que o uso da própolis ajuda a prevenir e tratar úlceras gástricas, sendo observada a redução significativa no tamanho das úlceras, melhorias na histologia da lesão e na resposta imunológica local.

A eficácia da própolis no tratamento de distúrbios gastrointestinais pode ser atribuída às suas propriedades: antioxidantes, anti-inflamatórias e antimicrobianas. Mais especificamente, como um composto com ação antioxidante a própolis contribui para a redução do estresse oxidativo e para a proteção contra danos nas células do trato gastrointestinal.

Já através dos seus efeitos anti-inflamatórios a própolis pode reduzir a inflamação no trato gastrointestinal, proporcionando alívio para condições inflamatórias como a colite ulcerativa e a doença de Crohn.

Por outro lado, a propriedade antimicrobiana da própolis pode ajudar a combater bactérias nocivas no trato gastrointestinal, contribuindo para o equilíbrio da flora intestinal. Vale destacar, que vários estudos pré-clínicos recentes demonstraram que própolis, de diferentes origens, apresentam efeitos inibitórios no crescimento de bactérias da espécie Helicobacter pylori (também denominada de H. pylori).

Tal patógeno é encontrado no trato gastrointestinal humano, principalmente no revestimento do estômago, e é associado ao desenvolvimento de várias doenças, como: gastrite, úlceras pépticas e até mesmo câncer de estômago.

Estudos também indicam que a própolis pode reduzir o volume do suco gástrico e sua acidez (atividade antiácida), além de estimular e aumentar a produção de muco gástrico, conferindo proteção à mucosa gástrica.

Em sinergismo, os efeitos antioxidantes (que atua neutralizando os radicais livres e reduzindo o dano oxidativo), antimicrobiano (que abrange uma variedade de agentes patogênicos) e a modulação das respostas inflamatórias local pela própolis também contribuem para um ambiente mais propício à regeneração/cicatrização celular, promovendo uma recuperação mais rápida e eficaz de lesões teciduais existentes.

Além disso, a própolis também demonstrou estimular a proliferação celular, acelerando assim o processo de reparo tecidual (efeito cicatrizante).

Em suma, uma vez que os tratamentos farmacológicos convencionais para as doenças que afetam o trato gastrointestinal incluem medicamentos de altos custos e/ou com reações adversas significativas — e até mesmo com risco de resistência como no caso dos antibióticos — a própolis apresenta-se com uma abordagem terapêutica valiosa para a prevenção e tratamento dessas doenças.

No entanto, é fundamental que o uso da própolis em doenças gastrointestinais seja acompanhado de um estilo de vida saudável e também da orientação e acompanhamento médico.

Referências
BALTAS, N. et al. Effect of propolis in gastric disorders: inhibition studies on the growth of Helicobacter pylori and production of its urease. Journal of Enzyme Inhibition and Medicinal Chemistry, v. 31, n. sup2, p. 46–50, 2016.
DA SILVA, L. M. et al. Propolis and Its Potential to Treat Gastrointestinal Disorders. Evidence-based Complementary and Alternative Medicine : eCAM, v. 2018, p. 2035820, 15 mar. 2018.
GOVERNA, P. et al. Effect of in vitro simulated digestion on the anti-Helicobacter Pylori activity of different Propolis extracts. Journal of Enzyme Inhibition and Medicinal Chemistry, v. 38, n. 1, p. 2183810, dez. 2023.
RUIZ-HURTADO, P. A. et al. Propolis and Its Gastroprotective Effects on NSAID-Induced Gastric Ulcer Disease: A Systematic Review. Nutrients, v. 13, n. 9, p. 3169, 11 set. 2021.
SAMET, N. et al. The effect of bee propolis on recurrent aphthous stomatitis: a pilot study. Clinical Oral Investigations, v. 11, n. 2, p. 143–147, jun. 2007.
SANTIAGO, M. B. et al. Brazilian Red Propolis Presents Promising Anti-H. pylori Activity in In Vitro and In Vivo Assays with the Ability to Modulate the Immune Response. Molecules (Basel, Switzerland), v. 27, n. 21, p. 7310, 27 out. 2022.
SONG, M.-Y. et al. Anti-Inflammatory Effect of Korean Propolis on Helicobacter pylori-Infected Gastric Mucosal Injury Mice Model. Nutrients, v. 14, n. 21, p. 4644, 3 nov. 2022.
VILLANUEVA, M. et al. [In vitro antibacterial activity of Chilean propolis against Helicobacter pylori]. Revista Chilena De Infectologia: Organo Oficial De La Sociedad Chilena De Infectologia, v. 32, n. 5, p. 530–535, out. 2015.