PÓLEN E AS ABELHAS
ENTENDENDO MELHOR

Harold Brand – Biólogo – Meliponicultor – Consultor da APA.

O pólen, o pequeno recipiente do precioso material genético masculino das plantas, muito cobiçado pelas abelhas e humanos pela sua riqueza em nutrientes e pelos seus microbiotas agregados. É indiscutível a sua riqueza nutricional, mas como toda riqueza ela vem dentro de um cofre com seu segredo para permitir o acesso. Para entendermos um pouco desse mecanismo o primeiro passo é diferenciar as maneiras com que os dois grupos diferentes de abelhas manejam o pólen desde a sua coleta no pasto floral até a fase da sua comercialização pela espécie predominante no planeta. São dois os grupos diferentes de abelhas coletoras, as conhecidas por ” domesticas, Apis melífera” muito respeitadas pelo seu ferrão e um outro grupo pouco divulgado, as nossas abelhas nativas denominadas de abelhas sem ferrão. As pessoas que manejam as primeiras as “Apis” são os apicultores e os que criam as abelhas sem ferrão “melíponíneos” os meliponicultores.Foto-1-Polen

Embora o pólen colhido por ambos os grupos seja muito semelhante, mas o processo ou fase de retirada pelo apicultor difere a do meliponicultor, no que resulta a grande diferença nutricional.

O pólen obtido através da Apis

“o pólen comercial”

O pólen obtido através da abelha Apis “a doméstica” comercializado, é aquele recolhido na entrada da colmeia por meio de um dispositivo especial no qual abelha ao voltar da sua colheita perde a sua carga na entrada da colmeia. O pólen assim obtido praticamente não sofre nenhuma alteração importante é como se fosse tirado diretamente da flor. Ele é recolhido no dispositivo diariamente pelo apicultor e desidratado de imediato. É um trabalho diário e cuidadoso pois o pólen úmido sofre ataque quase imediato por bolores.

Fase-de-construcaoÉ esse o pólen usado na alimentação humana, embora a grande riqueza nutricional tem pequena assimilação dos seus componentes químicos, a explicação é fácil de entender, pois no pólen seus componentes nutricionais estão reclusos dentro de duas membranas e a externa, além de muito protetora não é digerível. Para ser assimilável o conteúdo do pólen deve ser degradado no intestino humano por enzimas digestivas e por simbiontes como as leveduras e bactérias para que uma vez liquefeito, extravase para que possa ser absorvido. Entretanto, como o seu tempo de permanência no tubo digestivo humano é relativamente curto, o processo digestório é incompleto, o aproveitamento varia apenas entre 3 a 30%.

O pólen das abelhas sem ferrão.

Essas abelhas têm como uma das suas características fundamentais a construção de potes especiais onde são depositados o pólen trazido e onde sofrem ação de enzimas digestivas regurgitadas pelas abelhas e da atividade do grande número de microbiotas ali existente. É processo longo e que pode levar muitos dias. No decorrer do tempo o liquido resultante extravasa pelos poros de cada pólen, passando a ser recolhido pelas abelhas e usado na alimentação ou depositado nas capsulas alveolares onde a rainha põe seus ovos.

O liquido nutritivo encerado nas cápsulas alveolares irá alimentar a larva até a sua transformação em pupa.

No pote de pólen quando todo caldo resultante do processo de digestão extracelular for consumido pelas abelhas o mesmo é lacrado, nele restando apenas material não digerível como o envoltório e os microbiotas que aí povoam, (eles podem chegar a mais de 20 gêneros).

Potes Fechados das ASF, Comercializados.

São esses os potes fechados os comercializados “desprezados pelos indígenas como alimento “ seu valor nutricional para as abelhas foi todo retirado, mas têm um certo interesse medicinal para os humanos, pois funcionam no processo digestivo como fibras e os microbiotas aí remanescente podem enriquecer a flora intestinal. Nas pesquisas em biotecnologia vamos encontrar mais de 20 gêneros de bactérias e leveduras atuando nas diversas etapas de transformadoras do pólen. O exemplo muito interessante são os Lactobacillus encontradas em todas as etapas da digestão do pólen pelas abelhas e que também são encontrados no intestino humano.

A pergunta que fica:

Se esses potes lacrados não têm mais utilidade para as abelhas, porque, elas simplesmente não descartam totalmente esse material.

Toda sociedade tem de concentrar em primeiro lugar a sua energia na obtenção de alimento, mas como a energia gasta para obter alimento e a energia empregada no descarte de material são quase as mesmas, certamente primeira opção é prioritária. Nas nossas cidades ocorrem mais ou menos o mesmo comportamento, basta ver o interesse na política do tratamento de lixo e esgoto. Os índios eram muito enfáticos, eles se alimentavam do mel e complementavam o menu com as larvas e pupas (ditas por eles como deliciosas), mas jogavam fora os potes de pólen (porcaria).

O grau da biodisponibilidade é determinante no aproveitamento dos nutrientes, no caso do pólen o grande fator de limitação é a sua membrana externa a exina “ ou esporoderma” somente sob a ação dos sucos digestivos o conteúdo interno pode ser liquefeito e extravasado para que possa ser aproveitado. Para alguns organismos esse grau de disponibilidade pode ser maior, haja visto os forídeos que adoram o que para abelhas é apenas entulho.

Duas as avaliações práticas sobre o conteúdo dos potes fechados:

1 – Basta uma observação simples do material colhido e corado em uma lamina de microscopia ou uma simples observação direta ao microscópio por contraste de fase;

2 – Outra demonstração muito simples, basta retirar vários potes lacrados e deixar exposto externamente no meliponario. Em pouco tempo muito abelhas se interessam e passam a retirar todo envoltório de cera dos potes, deixando o conteúdo, a massa compacta de pólen. Se oferecermos os potes abertos elas levam o seu conteúdo e a cera da parede.

3 – A utilização dos potes fechados me faz lembrar o meu professor de zoologia, para obter material para aula pratica, preparava uma caixa fechada com apenas um pequeno furo, nela introduzia alguns potes amassados de pólen. Colocava no pátio externo e no dia seguinte a multidão de mosquinhas atraídas pelo aroma ácido era suficiente para cada um dos quarenta alunos tivessem material para estudo das suas características em laboratório.

Esse procedimento do professor na preparação de sua aula é muito semelhante à de alguns meliponicultores no manejo das suas abelhas. Após a divisão introduzem potes de pólen na caixa filha é um chamariz para um petisco tentador e com a defesa das abelhas ainda desorganizadas.
Imagem-Microscopio