Efeito da padronização da altura de melgueiras para abelha Jataí (Tetragonisca angustula latreille, 1811) em relação à sobreposição de potes de alimento (mel e pólen).

Antônio Felipe Guimarães Leite
Engenheiro Agrônomo e criador de abelha sem ferrão no Distrito Federal.

Introdução e Objetivo

A abelha Jataí (Tetragonisca angustula latreille, 1811), também conhecida como Jataí-Amarela e Abelha Mosquito, é provavelmente a abelha nativa sem ferrão mais conhecida da população brasileira. Ela possui grande distribuição geográfica e pode ser encontrada nos Estados do Amazonas, do Amapá, da Bahia, do Ceará, do Espírito Santo, do Goiás, do Maranhão, de Minas Gerais, do Mato Grosso, do Pará, do Paraíba, do Rio de Janeiro, de Rondônia, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e de São Paulo (Anacleto et al, 2009). No Distrito Federal, a espécie é facilmente localizada nas áreas rurais e, também, nos centros urbanos.

O mel dessa espécie possui sabor e aroma diferenciado em relação ao da abelha Apis melífera e tem apresentado ação antimicrobiana (Bobany et al, 2009 e Abril e Ramirez, 2009). Tais fatores agregam valor ao produto, em compensação à baixa produtividade dessas abelhas. Nogueira-Neto (1997) afirma que a Jataí demonstra características de rusticidade e hábitos higiênicos, características de destaque para a criação dessa espécie quanto à produção de mel.

Vários são os métodos utilizados para a colheita do mel das abelhas sem ferrão. Entretanto, o mercado tem exigido segurança e higiene nos produtos, em face disso, o processo de colheita é importante para a preservação da qualidade do mel obtido (Souza et al, 2006). Villas-Bôas (2012) cita os seguintes métodos de colheita do mel: a) Métodos tradicionais (perfuração dos potes e compressão deles) e; b) Métodos de Sucção (seringa descartável, bomba de sucção elétrica, bomba de sucção mecânica e bomba de sucção manual).

No caso da abelha Jataí, em razão do tamanho dos potes de mel e da sobreposição deles, o método de compressão é o mais utilizado para a colheita. Uma possibilidade de efetuar a coleta de mel de modo mais higiênico e com a separação adequada dos potes de mel e de pólen seria desenvolver uma melgueira que impossibilitasse a sobreposição desses recipientes de alimento (mel e pólen).

Filho e Chiroli (2014), em estudos para desenvolver uma proposta de melhoramento e padronização no processo de coleta do mel de abelha Jataí e evitar a sobreposição de potes de mel, sugeriram melgueiras com as seguintes dimensões 20cm×20cm×1,5cm.

Diante dos aspectos descritos, o objetivo desta pesquisa foi avaliar o efeito da padronização da altura de melgueira na sobreposição de potes de alimento
(mel e polén).

Material e Métodos

Figura-1-padronizacaoO experimento foi conduzido na fazenda Lagoa Bonita, em Planaltina, Distrito Federal. O local dispõe de um pomar constituído, predominantemente, de mangueiras (Mangifera indica) e laranjeiras (Citrus sp.), onde foi instalado o meliponário.

O pomar limita-se, de um lado, por uma reserva de 20 hectares de cerrado senso stricto, e do outro, por uma área de lavoura sob cultivo de milho e soja, em plantio direto na palha.

Inicialmente, para elaboração do projeto de dimensionamento das melgueiras buscou-se tomar diversas medidas de alturas de potes de mel em colônias de Jataí utilizando paquímetro. A altura média encontrada para os potes de mel foi de 14 mm. Além das medidas dos potes, buscou-se medir também a altura das estruturas de sustentação/fixação de potes.

O valor médio das estruturas de sustentação/fixação obtido foi de 2mm.

Com base nos valores médios de altura dos potes de mel e das estruturas de sustentação/fixação foi possível estimar a unidade de arquitetura alimentar (UAA) da abelha Jataí, a partir da soma: a) estrutura de sustentação/fixação, b) pote de mel e; c) estrutura de fixação/sustentação. Nesse sentido, o resultado obtido para UAA foi de 18mm.

Para facilitar a padronização das melgueiras e os cortes da madeira para fabricação delas adotou-se o valor de 20mm. Este valor foi alcançado a partir do arredondamento do valor encontrado para UAA. A adoção dessa medida apresentava segurança ao experimento em razão da impossibilidade de sobreposição de potes por restrição física de espaço.

As melgueiras foram fabricadas em Pinus (Pinus sp.) com a espessura da madeira de 20mm. Para a fabricação das melgueiras adotou-se as seguintes dimensões: externas (180mm × 180mm × 20mm) e internas (140mm × 140mm ×20mm). Com base nas medidas descritas calculou-se o volume interno da melgueira, que resultou em 392.000mm³. O material escolhido para separação entre melgueiras e entre essa e o ninho foi o polipropileno – folha transparente.

As melgueiras foram dispostas, no mês de abril de 2017, em 7 colônias de Jataí, transferidas, no mês de março, para caixas do modelo AL, adaptado a partir de outro proposto pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA). Os enxames foram alimentados, nos meses de maio, junho e julho, uma vez por semana, com xarope composto de uma parte de água e outra, de açúcar cristal, na quantidade de 5ml/colônia.

Em novembro, foi realizada avaliação, na qual se verificou que os enxames estavam preenchendo as melgueiras com potes de alimento (mel e pólen) e não havia sobreposição de potes de alimento em melgueira alguma, estando u ao lado do outro com disposição única na horizontal. Uma das colônias já havia completado todo o preenchimento e, nesse caso, foi adicionada uma nova melgueira.

Resultados e Conclusão

Para todas as colônias de Jataí testadas, identificou-se que a padronização de altura em 20mm impediu a sobreposição de potes de alimento (mel e pólen). Verificou-se também que a ausência de sobreposição dos potes possibilita: a) visualização e possível separação dos potes de mel e pólen, facilitando a colheita do mel; b) melhoria das condições higiene no manuseio dos quadros/melgueira, quando comparado com melgueiras tradicionalmente utilizadas – que permitem a sobreposição de potes de alimento (mel e pólen).

Ademais, percebeu-se que o emprego do polipropileno na melgueira padronizada a 20mm de altura apresentou uma vantagem a ser considerada. Ao ser retirada a folha de polipropileno da parte superior e inferior da melgueira fez-se uma abertura na maioria dos potes, o que sugere possibilidade de emprego de centrifuga para a extração do mel da abelha jataí. As dimensões do quadro/melgueira proposto neste trabalho divergem do recomendado por Filho e Chiroli (2014) em razão do valor de UAA calculado.

Bibliografia

Anacleto, D. A; SOUZA, B. A; Marchini, L.C; Moreti, A. C. C. C; Composição de amostras de mel de abelha Jataí (Tetragonisca angustula latreille, 1811). Ciencia e tecnologia alimentar. Campinas – SP, 2009.

Bobany, D. de M; Pimentel, M de A.P; Martins, R.RC; Netto, B.A de S; Tolla, M.S; Atividade antimicrobiana do mel de abelha Jataí (Tetragonisca angustula) em cultivo de microorganismos do conduto auditivo de caninos domésticos (Canis familiaris). Revista Ciência animal brasileira. Goiânia, 2010.

Villas-Boas, J; Manual tecnológico: Mel de abelhas sem ferrão. Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). Brasil, 2012.

Filho, E.C; Chiroli, D.M. de G. Proposta de melhoria e padronização no processo de coleta de mel de abelha Jataí. Simpósio Maranhense de Engenharia de Produção. 2014.

Souza, D.C; Paulino, F.D.G; Silva, K.A; Tavares, M.A.M; Apicultura: manual do agente de desenvolvimento rural. 2 Ed. Brasília – DF. SEBRAE, 2007.

Abril; M. V.G; Ramírez, J.F. Poder antibacterial de mieles de Tetragonisca angustula, valorada por concentratión mínima inhibitoria. Acta Biológica Colombiana, Vol.14, n°2. Bogotá, 2009.

Nogueira-Neto, P. Vida e criação de abelhas indígenas sem ferrão. São Paulo. Editora Nogueirapis, 1997. 445p.