Até quando o Apicultor terá prejuízo com a pulverização da lavoura

Radamés Zovaro – Diretor Técnico da APACAME e Empresário na área Apícola.

72% de todas as culturas agrícolas dependem dos polinizadores.
72% de todas as culturas agrícolas dependem dos polinizadores.
Tivemos a oportunidade de assistir na reunião planaria da APACAME, no dia 7 de dezembro ultimo,a palestra proferida pelo Prof. Dr. Osmar Malaspina da UNESP/Rio Claro comentando um assunto de suma importância para a área apícola que teve como tema Mapeamento de Abelhas Participativo (MAP).

O tema abordado conta com o apoioda UNESP e UFSCar. O tema proposto é de iniciativa de pesquisa do Projeto Colmeia Viva, desenvolvido pela SINDVEG – Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal, cuja finalidade é entender os fatores que contribuem para a perda de abelhas no Estado de São Paulo.

O tema é muito polemico, vários setores estão envolvidos, além das indústrias fabricantes de produtos conhecidos como “agrotóxicos” cuja utilização é para o combate de insetos na lavoura (a abelha é um inseto), assim como os pilotos de aeronaves que efetuam a pulverização, o fazendeiro e em especial o agrônomo responsável em solicitar e acompanhar a pulverização, órgãos governamentais que permitem o uso de determinados produtos assim como o próprio apicultor que no momento é o grande prejudicado.

A abelha é um inseto, porem ela não é maléfica, pelo contrario é altamente benéfica, pois 72% de todos os vegetais que consumimos só existem porque são as abelhas que fazem a polinização, dai a sua importância para a preservação do meio ambiente. E quando falamos de abelhas, falamos de todas as espécies, abelhas Solitárias, Bombus, Meliponas, Trigonas e as Apis mellíferas. Todas as espécies têm a função de polinizar as flores, ou seja, transferir os grãos de pólen da antera (órgão masculino da flor) para o estigma (órgão feminino) de uma mesma flor ou de uma outra flor do mesmo pé ou de pés diferentes. Por exemplo temos tido um excelente resultado com as abelhas Jataí (Tetragonisca angustula angustula) na plantação de morangos e da Apis melífera na plantação de maçã.

As indústrias fabricantes de produtos para a defesa vegetal, a maioria são multinacionais, com um potencial enorme, criam seus produtos que são aprovados pelos órgãos governamentais (Ministério da Agricultura, ANVISA, etc.) e colocam no mercado, com a finalidade de atender as necessidades do agricultor.

O fazendeiro agricultor normalmente contrata um Engenheiro agrônomo ou algum elemento conhecedor dos produtos para orienta-lo no plantio e na sustentabilidade do projeto agrícola. Cabe ao proprietário ou o responsável determinar o produto ou produtos que serão aplicados com a finalidade de combater as pragas que normalmente frequentam a plantação como forma de sobrevivência. Muitas vezes a quantidade aplicada é uma variedade muito grande de produtos chegando ao absurdo de uma aplicação atingir a quantidade de 10 a 15 itens. Cabe ao fazendeiro ou agrônomo analisar se a aplicação de todos esses produtos são realmente necessários na sua plantação.

É de suma importância a preocupação com o uso incorreto de substancias que são potencialmente perigosas para o meio ambiente. Devemos ter consciência que os agentes polinizadores (em especial as abelhas) podem ser atingidos se os produtos utilizados não forem aplicados corretamente além de serem observadas as normas básicas das boas praticas agrícolas.

Além da escolha do produto ou produtos, a forma a ser aplicada influem tremendamente no meio ambiente, Hoje é muito comum o uso de aeronaves para efetuar a aplicação dos defensivos agrícolas. Evidentemente fatores outros influem, como velocidade do vento, altitude do voo, aberturas dos bicos injetores (local onde é feita a liberação dos produtos a serem utilizados ou aplicados) etc., etc. É importante salientar que esses fatores se não forem seguidos corretamente poderá prejudicar outras plantações, insetos, animais e mesmos pessoas localizadas a uma distancia de 2 a 3 km ou mais da área projetada, isto porque o vento leva esses produtos para fora da área de ação planejada.

O apicultor infelizmente no sistema é o mais prejudicado, pois ele coloca as colmeias, próximo das plantações. Com a pulverização praticamente as abelhas são dizimadas, consequentemente além de não produzir nada perde também as abelhas. É importante que o apicultor ao negociar a colocação das colmeias com o agricultor faça um contrato constando determinadas clausulas que de garantia de ser ressarcido de determinados prejuízos por mortandade das abelha em função das pulverizações.

É importante o agricultor ter conhecimento da importância da abelha no meio ambiente, principalmente em determinadas culturas, onde a polinização das abelhas amplia e melhora consideravelmente a qualidade do produto final. Temos observado isso em plantações de laranjas e morangos, maçãs, melão, etc..

Acreditamos que um bom dialogo entre as partes poderá melhorar as condições que hoje são totalmente adversas ao setor apícola, Esperamos que o dialogo e o bom censo de ambas as partes possa ser benéfica a natureza e consequentemente a população.