Visita Técnica

Meliponicultura

Departamento de Abelhas Indígenas da APACAME.
Waldemar Ribas Monteiro - Meliponicultor -Conservacionista.



Fig.1 ninhos de meliponíneos instalados
no Meliponário-Escola Espaço Amigo
Dando prosseguimento às visitas técnicas agendadas pelo Departamento de Abelhas Indígenas Sem Ferrão da "APACAME", estiveram na cidade de Icém-SP, Waldemar Ribas Monteiro diretor técnico do Depto. e a prof.ª Dra. Marilda Cortopassi Laurino do Laboratório de Abelhas da USP.

O motivo da visita foi constatar em loco, o belíssimo projeto de educação ambiental denominado Projeto Natureza, instalado numa área cedida à prefeitura de Icem pela Hidrelétrica de Furnas em sistema de comodato.

Representando o prefeito da referida cidade, o Sr António Honório do Nascimento, o engenheiro agrônomo Júlio César Faustini e a fonoaudióloga Roseli Inoé, ambos meliponicultores, nos mostraram o local e as abelhas que fazem parte deste projeto Meliponário Escola Espaço Amigo (Fig. 1).

Fig. 2 favo de cria de Scaptotrigona depilis.
Notar a célula real e o grande número
de células em construção.


Este meliponário, fruto do trabalho de pessoas abnegadas e com sensibilidade para preservar o meio ambiente como o Sr. Julio Faustino e a prof.ª Maria Helena Reis Morato, está instalado sob a sombra de exuberante flora arbórea com representantes de árvores como sabão de macaco, murici, jacarandá preto, aroeira, fava-de-anta, aroeirinha, angico vermelho, ipês, pau-terra de folha larga, etc. As espécies de abelhas aí instaladas em 30 colônias distribuídas no estilo espinha de peixe (em zig-zag) eram das abelhas jataí, bijuí, iraí, uruçu amarelo, mandaguari sem pelo (Fig.2) mirim preguiça (Fig.3) marmelada, mandaçaia e mocinha preta (Fig.4). Na mesma área onde está o meliponário encontramos um variado número de meliponíneos nidificando nos ocos de árvores ali existentes tais como a jataí, irai, borá, vamos embora, mandaguari, marmeladas e outras, sendo que alguma nidificavam no mesmo tronco, como pode ser observado na Fig.5.

Fig. 3 células de cria em forma de cachos
mais agrupados da abelha mirim-preguiça.
Notar a presença de dois casulos reais.


Há de se ressaltar a dedicação e nobreza do Eng. Júlio César Faustini, que doou para a prefeitura os enxames que compõem o diversificado meliponário. Além de todo este trabalho de preservação, fomos conhecer outro projeto de Meliponicultura do município de Icem que também foi inspirado no Projeto Natureza e influenciado pelos ensinamentos do Engenheiro Júlio. É o Meliponário da Associação dos Pescadores Profissionais de Icem, onde encontramos muitas colméias de marmelada, abelha endêmica da região. As colméias estavam distribuídas numa área de preservação ambiental, e também neste local pudemos observar os locais de nidificação de várias espécies de meliponíneos nativos como descritos na tabela abaixo:  

Sobre o personagem que motivou todo esse movimento, o Engenheiro Agrônomo Júlio César Faustini, ele possui um Meliponário particular com 40 colméias das seguintes espécies: mocinha preta, marmelada, mandaguari sem pelos, mirim preguiça, bijuí, irai, uruçu e uruçu amarelo.

Fig. 4 entrada do ninho da abelha mocinha preta.
Observar que a ponta das asas são brancas.
Assim como a moça branca ou marmelada,
ela constrói potes de pólen no formato cilíndrico,
enquanto os de mel são ovóides.


O Meliponário é bem cuidado, e com capacidade para expandir-se.

Para termos uma idéia melhor sobre o assunto, vamos ler o depoimento do próprio Júlio a respeito de como começou o seu interesse pela Meliponicultura:  

Meu interesse por abelhas sem ferrão despertou no final da década de 80, quando morava na Vila Residencial de Furnas, onde fiquei por 16 anos. Na varanda da casa havia uma cabaça pendurada com uma colônia de jataí instalada. Nessa época estudava Agronomia em Machado-MG e devido a falta de tempo, abria a colônia e tirava mel apenas de vez em quando.Querendo por em prática a criação em caixas racionais, acabei por ser o pioneiro no município de Icem no uso do modelo Sobenko para jataí. Até então não sabia nada sobre abelhas sem ferrão, iniciando-me na Meliponicultura de maneira quase intuitiva. Primeiro foram duas ou três colônias de jataí, depois uma de iraí capturada num oco de goiabeira viva no sitio Barreirinho. Passado pouco tempo eu conheci a mocinha preta, numa estaca de aroeira do mesmo sitio, sendo esta a minha primeira colônia dessa espécie. Ela foi transferida para uma cabaça, junto com meu amigo, incentivador, entusiasta e companheiro na apicultura e meliponicultura Godofredo José de Souza Dias e meu outro amigo Fabiano Martins Garcia Rosa, filho do Sr Dorival Garcia Rosa, proprietário do sitio.

Fig. 5 duas entradas de ninhos de abelhas
(mandaguari acima, e benjoí, abaixo)
no mesmo tronco de um abacateiro.


Em 96, instalei meu pequeno meliponário no terreno de minha atual residência, com suportes individuais em círculo e debaixo de uma caramboleira. O  grupo das abelhas era composto por uma bijui, uma marmelada, três ou quatro jataís e uma mirim, oriunda de Machado-MG, presente do amigo Godofredo. Mais tarde doei esta colônia para Mariana Crepaldi de Paula, de São Paulo que trabalha em Educação Ambiental.

Fui ampliando o meliponário e instalei mais algumas colméias em suportes individuais, cobertas com telhas de amianto próximas a cerca viva, cujo arbusto é chamado de primavera ou três-marias. O local só recebia sombra à tarde e as entradas das colméias ficavam voltadas para leste. As colméias recebiam sol direto pela manhã até o meio dia, aquecendo demais o interior das caixas. Não obtive sucesso. O calor matava a cria, tornando o ambiente insuportável e fazendo com que as abelhas abandonassem o local. Pintei a cobertura de branco, não adiantou. A solução definitiva veio em 1997 quando instalei um meliponário tipo barracão, que tenho até hoje. Neste espaço cheguei, por breve período entre 1999 e 2000, a abrigar 70colônias.

Tabela de locais de nidificação de várias espécies de meliponíneos nativos.


Utilizei também, um viveiro desativado de aves para abrigar colônias, aonde cheguei a instalar 30 colônias, mas também não obtive sucesso com esse espaço devido à disposição das colméias que ficavam amontoadas resultando em brigas freqüentes entre as abelhas, principalmente jataís.

Ao mesmo tempo em que iniciava os conhecimentos sobre abelhas, um levantamento datado desde o ano de 1999 na região de Icem, SP e com a colaboração do Prof. Dr. João M.F. Camargo da USP-Ribeirão Preto resultou na seguinte lista abaixo:  

1- Arapuá - Trigona spinipes
2- Arapuá - Trigona fuscipennis
3- Arapuá da asa branca - Trigona hyalinata
4- Benjoi, Benjuí - Scaptotrigona polysticta
5- Borá - Tetragona clavipes
6- Caga -fogo - Oxytrigona tataíra
7- Cupira - Partamona ailyae
8- Cupira - Partamona mulata
9- Cupira - Partamona sp
10- Irai - .Nannotrigona testaceicornis
11- Jataí - Tetragonisca angustula
12- Mandaguari sem pelos - Scaptotrigona depilis
13- Marmelada, Moça branca - Frieseomelitta  varia.
14- Mirim preguiça- Friesella schrottk
15- Mocinha preta - Frieseomelitta silvestrii
16- Mombuca carnívora - Trigona hypogea
17- Sanharão, Sanharó - Trigona truculenta
18- Jataí preta - Scaura latitarsis
19- Uruçu amarela - Melipona rufiventris
20- Vamos embora - Trigona recursa.


Fig. 6 Almoço do grupo junto à usina de Marimbondo,
localizada no Rio Grande, que faz divisa entre São Paulo
e Minas Gerais.
  Dados do Município de Icem

Localizado na região fisiográfica de Barretos.

Limita ao norte, separado pelo Rio Grande, com a cidade de Fronteira -MG, a noroeste com Orindiúva-SP, a oeste com Nova Granada-SP, ao sul com Altair-SP, e a leste com Guaraci-SP.
Altitude: 446m
Latitude: 20º 17´
Longitude: 49º 13´
Precipitação Pluviométrica (média anual):1.300mm.
Vegetação natural: Há transição de Cerradão-Floresta Tropical Latifoliada Semi-Decídua. Apicultores: 12
Meliponicultores: 8.

Findando, queremos agradecer a importante participação da Dra Marilda Cortopassi Laurino, que valorizou ainda mais essa visita fotografando todo nosso movimento em torno das abelhas.

Agradecemos também a atenção e o carinho que nos foi oferecido pelo Eng. Júlio César Faustini, e a Meliponicultora Roseli Inoé, fazendo com que a visita técnica fosse coroada de pleno êxito (Fig.6).

Retorna à página anterior